A comercialização de soja do Brasil, que andava em ritmo lentos, disparou nos últimos dias com maior demanda da China, preços e prêmios nos portos pelo produto brasileiro fortalecidos e um dólar acima de R$ 4,00, segundo relatos do mercado.
“Um volume de pouco mais de cinco milhões de toneladas de soja para exportação, equivalente a uma centena de navios, foi negociado no mercado para embarques em junho, julho e agosto, de acordo com informações colhidas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)”, disse o pesquisador Lucílio Alves à Reuters.
O estopim para essa forte negociação de soja do Brasil foi o fracasso das negociações comerciais entre China e EUA, na semana passada, que traz mais demanda ao produto brasileiro. Essa demanda adicional veio em um momento em que o dólar atingiu o maior valor em mais de sete meses, o que torna mais barata a importação.
“Deu uma virada importante, interessante (…) Aí o dólar barateia a importação e a guerra comercial desloca a demanda para cá”, afirmou Alves. No acumulado da semana até esta manhã, o dólar já subiu mais de 3%, com turbulências políticas e um cenário externo preocupante.
“Estava vindo de uma sequência de queda de preço e agora deu uma boa recuperada”, acrescentou o pesquisador do Cepea e professor da Esalq/USP.
O mercado estava fraco após a China ter buscado menos soja no Brasil no primeiro quadrimestre, conforme dados da agência marítima Cargonave divulgados esta semana, mas nos últimos dias os negócios foram impulsionados tanto pelos preços melhores, que geraram mais interesse de vendas, quanto pelo interesse de compra chinês.
Alves lembrou que o preço para embarque em Paranaguá (PR) subiu de US$ 326,48/tonelada no início de maio para US$ 345,68/tonelada na véspera (FOB), para embarque em junho.
Ao mesmo tempo, os prêmios para exportação em junho atingiram US$ 1,00 por bushel sobre a cotação do vencimento julho da bolsa de Chicago, maior valor desde o início de dezembro de 2018 e mais que o dobro do registrado no início do mês, apesar de a cotação no mercado norte-americano ter subido mais de 6% nesta semana.
“Nos últimos dez dias tivemos mais movimentação, tanto para o mercado interno como para exportação. Os chineses voltaram mais, fazendo contratos para junho, julho e agosto”, disse o pesquisador do Cepea.
Segundo a T&F Consultoria, foram negociadas mais de 700.000 toneladas de soja só na quinta-feira, sendo a metade produto de Mato Grosso. “Mas é possível que tenha sido um pouco mais (…) ‘O mercado está muito frenético nesta semana’, foi o que mais ouvimos”, afirmou o analista da T&F Luiz Pacheco.
Pico da exportação
A conjunção de fatores positivos para os negócios ocorre em momento em que o Brasil está no pico da temporada de exportação, logo após a colheita da oleaginosa, que foi a segunda maior da história, com mais de 114 milhões de toneladas, segundo os números oficiais, atrás apenas do recorde de 2018.
“Agora com a safra praticamente finalizada, considerando que alguns produtores e vendedores estavam segurando as vendas, agora pode ser um bom momento da negociação”, disse Alves, do Cepea.
Isso porque ainda há alguns fatores baixistas rondando o setor, como preocupações relacionadas ao menor consumo de farelo de soja pelas criações de suínos da China, atingida fortemente pela peste suína africana.
Além disso, diante de um atraso no plantio de milho nos Estados Unidos, há expectativa de que a área norte-americana de soja fique maior que o esperado, o que poderia resultar em safra da oleaginosa maior do que as expectativas.
“Pela oferta e demanda, pressionaria preços, e pelo contrário, a guerra comercial está deslocando, e tem o dólar, para os vendedores é um cenário favorável”, afirmou Alves.
Em meio às notícias sobre a guerra comercial, a consultoria Safras & Mercado revisou nesta semana a sua estimativa das exportações de soja do Brasil em 2019, agora para 72.5 milhões de toneladas em 2019, contra 70 milhões de toneladas da previsão de março.
Ainda assim, seria um recuo em relação às quase 84 milhões de toneladas exportadas em 2018, quando a safra foi maior e a China esteve muito ativa no mercado.
Reuters