A conjuntura global que combina estoques de produtos agrícolas em níveis historicamente baixos e um consumo crescente, especialmente de países emergentes, deverá prosseguir nos próximos anos, beneficiando o Brasil, tido como um dos países com maior potencial de elevar a produção no mundo, afirmou o diretor da Agroconsult, André Pessôa, durante palestra no evento Perspectivas para o Agribusiness em 2011 e 2012.
“Vivemos um mercado em desequilíbrio… Os produtos agrícolas tipicamente têm comportamentos cíclicos nos seus preços por choques de oferta recorrentes associados a problemas climáticos… Mas o que temos agora é a presença em conjunto de um choque de oferta com um choque de demanda”, afirmou André Pessôa.
O analista lembrou que os estoques globais dos principais grãos, como soja, milho e trigo, representam hoje somente 20 por cento da necessidade de consumo no ano seguinte, um nível baixo só registrado na década de 70, antes da chamada Revolução Verde de produtividade, que elevou posteriormente as reservas globais.
Ele ponderou que o atual ritmo de crescimento da produtividade, entretanto, não está sendo capaz de atender ao aumento do consumo, situação que provavelmente perdurará nos próximos anos, deixando os preços em patamares estimulantes para o agronegócio do país.
“Estamos diante de um choque de demanda, e nada leva a crer que na próxima década isso vai ser diferente”, declarou Pessôa, ressaltando que a cada 12 anos a população mundial cresce em 1 bilhão de pessoas.
Além disso, o choque de demanda está associado à urbanização da população, que assim muda seus hábitos de consumo. Essa situação ocorre em especial na China, destacou o analista, lembrando que o país asiático se tornou dependente de produtores de soja como o Brasil para garantir a segurança alimentar de sua população.
A China é o maior produtor de carne suína do mundo, com produção de mais de 50 milhões de toneladas, e o farelo de soja vem sendo cada vez mais utilizado como componente da ração naquele país, que tem modernizado sua indústria.
“Eles passaram a ser dependentes (da soja), algo que não queriam, isso traz oportunidades para países como o Brasil.”
Maior área necessária
O analista observou ainda que, considerando que a produtividade de soja está em patamares elevados dentro do que a tecnologia atual permite, o Brasil precisará aumentar a sua área plantada.
“A biotecnologia é uma ferramenta importante, mas não vamos poder prescindir de mais área plantada pra tentar reequilibrar os mercados internacionais,” disse, lembrando que o plantio de soja precisaria aumentar dos atuais 24 milhões de hectares para cerca de 30 milhões de hectares, no mínimo, para fazer frente à demanda global.
“É ingênuo achar que a gente poderá prescindir de continuar abrindo o cerrado no Piauí, Maranhão, Bahia…,” afirmou ele, saudando a aprovação do Código Florestal na Câmara, um primeiro passo para dar mais segurança jurídica aos agricultores.
Considerando as condições de mercado atuais, Pessôa observou que o até hoje atípico entusiasmo vivenciado pelo setor agrícola em 2011 poderá ser algo bastante comum nos próximos anos.
O Brasil, perto de outros grandes produtores agrícolas, como Estados Unidos e China, ainda produz relativamente pouco, adicionou o analista, lembrando que a produção brasileira de grãos está na casa de 160 milhões de toneladas, enquanto chineses e norte-americanos produzem 600 e 500 milhões de toneladas, respectivamente.
“Nós estamos no negócio certo, este é o melhor lugar para estar nesse negócio e parece que estamos nesse negócio na hora certa”, afirmou.
Fonte: Reuters