Por Mauro Osaki*
Em 2018, as exportações brasileiras do agronegócio atingiram o recorde de 101 bilhões de dólares e, de acordo com levantamentos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), os produtos do complexo da soja foram os que mais contribuíram para esse resultado. Apesar desse bom desempenho, a competitividade da oleaginosa brasileira é relativamente baixa frente aos principais países concorrentes, como os Estados Unidos e a Argentina.
Segundo pesquisas realizadas pelo Cepea, tomando por base os valores em moeda nacional e os ajustando com o índice de paridade do poder de compra (PPP- Purchasing Power Parities), o custo médio de produção de duas fazendas típicas do Brasil (Sorriso/MT e Cascavel/PR) foi de US$ 291,70/tonelada nas últimas cinco safras (de 2013/14 a 2017/18), contra US$ 163,80/tonelada de duas fazendas típicas dos EUA (Iowa e Dakota do Norte) para o mesmo período, ou seja, 17% mais caro.
Em relação à Argentina, o custo médio de produção das duas regiões brasileiras é quase o dobro (85,4%) da verificada no país vizinho, de US$ 157,00/tonelada.
Mesmo considerando o sistema de produção, combinação de soja e milho (verão e segunda safra – dupla safra) para o Brasil e soja e milho (safra verão) para a Argentina e os EUA, a rentabilidade brasileira é inferior à observada nos dois principais concorrentes.
Em Sorriso, a rentabilidade (sobre o Custo Operacional Efetivo – COE – do sistema soja + milho) foi de 56%, contra 146% em Iowa (EUA) e de 135% na Zona Norte da Argentina. Os números das últimas cinco safras mostram, portanto, que o Brasil fica atrás dos países mais competitivos para se produzir soja no mundo.
A vantagem competitiva da Argentina frente à produção de soja do Brasil é justificada pela maior fertilidade do solo e pela menor incidência de pragas e doenças. A soma dos valores dos insumos (fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas) para produzir soja no país vizinho é quase 3,5 vezes menor que a do Brasil.
Cálculos do Cepea mostram que, nas últimas três safras (2015/16, 2016/17 e 2017/18), o Custo Operacional Efetivo médio real da produção da soja na região de Sorriso (MT) ficou 11% acima do verificado na média das temporadas 2012/13, 2013/14 e 2014/15 e 33% superior à do triênio (2009/10, 2010/11 e 2011/12).
Esse aumento do custo médio de produção da soja se deve às elevações de preços dos defensivos agrícolas, do diesel e de lubrificantes, ao encarecimento de itens de manutenção das máquinas e à alta no custo de oportunidade da terra.
Por outro lado, a receita bruta real das últimas três safras cresceu apenas 2% nessa mesma comparação, tendo como consequência uma queda de 14% na rentabilidade em relação ao COE e de 36% na rentabilidade em relação ao custo total (que considera o Custo Operacional Total – COT – mais o custo de oportunidade da terra).
Um dado que chama a atenção nos últimos dez anos é a taxa de crescimento do custo de produção em Sorriso, de 3% ao ano. O principal item que influenciou essa elevação foi o avanço nos gastos com inseticidas, de 23,8% a.a., seguido pelo aumento dos dispêndios com herbicidas, de 8,8% a.a., dos fungicidas, de 7,8% a.a. e da operação mecânica, de 5% a.a.
Na outra ponta, o crescimento da receita bruta foi de 2,8% a.a. no mesmo período, bem menor que o do custo operacional efetivo, o que resultou em rentabilidade decrescente de 0,7% a.a. para o produtor de Sorriso nos últimos dez anos.
Embora a receita bruta tenha aumentado com a valorização do produto (câmbio, prêmio de exportação e cotação internacional) nessa última década de análise, o custo de produção subiu mais, por conta da elevação do preço dos fertilizantes, da alta do preço do diesel e do uso de defensivos agrícolas seletivos e específicos para o controle de pragas.
Assim, embora a margem apresente valor positivo, o montante de curto prazo tem reduzido safra a safra. Ressalta-se que o exemplo acima não considera a depreciação da máquina, os juros sobre o capital investido e o custo de oportunidade da terra, o que sinaliza maior preocupação para a sustentabilidade econômica do produtor de soja no longo prazo.
Para contornar a elevação do custo de produção, resta ao produtor buscar o aumento da produtividade. Ajuda também reunir-se em cooperativas ou em grupos de compras para aumentar o poder de barganha. Parte amplia a área de produção para gerar economia de escala. Há, ainda, os que intensificam o uso da terra para promover economia de escopo de suas máquinas e terra e os que diferenciam o produto geneticamente modificado pelo não transgênico.
A baixa arrecadação do Estado tem levado autoridades a avaliarem a possibilidade de taxar a exportação de commodities agrícolas, na tentativa de minimizar as contas públicas. Medidas como essa podem tonar a produção de soja ainda menos competitiva no cenário internacional.
*Mauro Osaki é pesquisador da área de Custos Agrícolas do Cepea.
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