A colheita principal de cacau da atual safra brasileira (2018/19) está chegando ao fim exibindo os efeitos da seca de meados do ano passado, cujo prolongamento afetou a produção de flores e frutos, sobretudo nas áreas produtoras da Bahia. Com uma oferta nacional menor do que um ano antes, as indústrias terão de aumentar as importações para suprir a demanda crescente pela amêndoa no país.
Segundo levantamento da TH Consultoria, sediada em Salvador, as indústrias monitoradas receberam 63.100 toneladas de cacau desde o início de outubro, quando começou a colheita da safra principal, até 31 de março deste ano, um volume 13% inferior ao que foi recebido no mesmo período do ciclo anterior (2017/18).
Os produtores de cacau da Bahia, que ainda são os principais do país, responderam pela maior parte da redução de volume, com diminuição de 7.000 toneladas. Segundo Thomas Hartmann, diretor da TH, essa redução já era esperada, já que a longa estiagem durante o outono e o inverno do ano passado afetou justamente a fase de floração e formação de pequenos frutos, o que diminuiu a quantidade de frutos formados para a safra principal da amêndoa.
Ainda que já estivesse nas estimativas, a quebra de safra irá significar uma interrupção no ritmo de recuperação que as lavouras da Bahia vinham exibindo nos últimos anos, depois que a região foi afetada por uma grave seca em 2016 que cortou quase pela metade a produção do estado. Segundo a TH, o volume de cacau da Bahia entregue nesta safra principal é o menor para o período, desde a temporada 2009/10.
Segundo na produção nacional e com ritmo de expansão crescente, o Pará também viu sua oferta às indústrias diminuir a partir de outubro, após a seca do ano passado, resultando em uma entrega 3.500 toneladas menor neste mesmo período.
E a situação de restrição de oferta não deve ter muito alívio quando começar a colheita do cacau temporão (já referente à safra 2019/20), a partir do final de abril. Após mais um intervalo sem chuvas nas áreas produtoras do sul da Bahia, as estimativas que antes eram de aumento de produção em relação ao mesmo período do ciclo passado agora são de manutenção da colheita.
“Apesar das chuvas terem voltado de duas semanas para cá, já houve perdas”, disse Hartmann. O analista, que antes previa uma produção de 90.000 toneladas para a safra do temporão no estado, agora estima que a próxima colheita baiana vá ficar abaixo de 78.000 toneladas, bem próxima das 76.000 toneladas de um ano atrás.
Sem reação da produção doméstica, as indústrias já estimam que terão de recorrer à oferta internacional até o fim do ano para suprir a demanda interna, que segue em direção contrária e deve voltar a crescer neste ano.
As três principais indústrias, Barry Callebaut, Cargill e Olam, moeram 220.300 toneladas em 2018, e devem chegar próximas das 230.000 toneladas neste ano, segundo Eduardo Bastos, diretor executivo da Associação das Indústrias de Processamento de Cacau (AIPC).
Caso confirmado, o volume representará a aproximação do recorde da série histórica. A última vez em que essas indústrias moeram 230.000 toneladas foi em 2013, desempenho superado apenas por 2012 (235.800 toneladas).
Em contrapartida, o volume de cacau recebido dos produtores brasileiros até o momento vem caindo. No primeiro trimestre, as três indústrias receberam 18.100 toneladas,com 20% de queda em relação ao ano passado, segundo dados da associação.
Sem reação à vista na produção do temporão, disse Bastos, a perspectiva é que a indústria tenha de recorrer a volumes maiores de importação na segunda metade do ano. Em 2018, as indústrias importaram o volume de 62.500 toneladas de cacau, um recorde histórico.
Valor Econômico