Arroz registra leve alta de preços em pleno pico de safra

Por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados

Terão as cotações do arroz em casca atingido seu piso? Esta é a pergunta mais ouvida na semana corrente dentro da cadeia produtiva, em função de uma pequena reação iniciada pelo indicador de preços da saca de 50 quilos do arroz em casca no Rio Grande do Sul Esalq/Senar-RS. Em 20 dias de março, e depois de iniciar o mês caindo perto de 1%, o referencial acumula alta de 0,7%, com a saca de 50 quilos (58 x 10) cotada a R$ 39,58, o equivalente a US$ 10,55.

A resposta só virá, com certeza, nos próximos 30 dias, quando um alto percentual de lavouras estará no ponto de colheita. Há analistas que estão otimistas e acreditam que teremos um fenômeno raramente visto por estas bandas sulistas, com preços em evolução, ainda que lentamente, em plena colheita.

Há quem acredite que os preços voltem a cair na medida em que as chuvas deem um tempo para as máquinas entrarem com mais vigor nas áreas prontas e que haja a transferência de produto das lavouras para as indústrias. E que voltem a subir depois, gradativamente, pela relação de uma oferta bastante enxuta para uma demanda relativamente estável na faixa de 11.5 milhões de toneladas.

A última previsão de safra divulgada pela Conab, de 10.64 milhões de toneladas, deflagrou a leve reação. As chuvas que passaram a ocorrer com maior frequência na metade sul gaúcha também atrapalharam um pouco as operações de colheita.

A região central ainda tem lavouras em fase de florescimento e convive com temperaturas noturnas bem abaixo de 15 graus nos últimos dias. A afirmação, quase uníssona, de uma produtividade de 10% a 15% menor do que na safra passada, mesmo nas lavouras já colhidas, que tendem a ter as maiores produtividades, vem refletindo também no mercado.

Há um ano, com 20% das lavouras colhidas, se falava em áreas com rendimento de 9.000 hectares. Hoje essa média seria até uma tonelada inferior.

Outro fato pesado pela cadeia produtiva é o clima daqui para frente. Entramos no outono e as lavouras mais tardias tendem a sofrer com os frios noturnos, intempéries e chuvas que podem gerar atrasos. Para alguns produtores, a situação pode resultar numa concomitância das áreas de arroz e soja, ou pelo menos apertar muito o prazo para a entrada nas áreas com as colheitadeiras.

Os próximos 15, 20 dias serão decisivos para que se vislumbre de forma mais evidente o comportamento dos preços no pico de safra. A manutenção das cotações, ou até uma leve baixa, podem indicar preços ainda mais robustos do que os esperados no segundo semestre do ano safra.

No entanto, às vezes, no afã de que os preços subam, alguns discursos começam a não fazer sentido. Exemplo é a afirmação, por algumas entidades, de que há risco de abastecimento de arroz no Brasil para a próxima temporada, ao mesmo tempo em que se tenta barrar importações.

Este é um discurso que não faz sentido para quem tem a responsabilidade de abastecimento, como é o caso do governo federal. É preciso ajustar a linguagem, em especial diante de números que também não fazem muito sentido e foram divulgados pela Conab, como o estoque de passagem.

Com o desempenho das exportações do ano passado e a relação com os preços internos em queda, há duas explicações plausíveis: ou o consumo nacional é muito menor do que se estimava ou o estoque era muito maior do que os apurados. Exatamente aí, nos estoques e no consumo, estão as grandes incógnitas que poderão fazer diferença nos preços de comercialização ao longo de 2019.

Preços

No mercado livre gaúcho há baixo volume de negociação, com preços em torno de R$ 39,00 a R$ 39,50 na maioria das praças. Os produtores estão interessados nas operações de colheita do arroz e, em muitos casos, da soja. Quem “segurou” a comercialização do arroz no ano passado tende a ter fôlego para segurar um pouco mais em busca de melhores preços a partir de maio/junho.

É informação corrente que as grandes indústrias estão abastecidas até maio e poderiam chegar a setembro com as CPRs, mas a estabilidade de preços dessa semana parece indicar que os estoques não seriam tão grandes assim.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 39,00 para a saca de arroz de 50 quilos (58 x 10) comercializado no Rio Grande do Sul. A referência da saca de 60 quilos (branco, Tipo 1) é de R$ 84,00. O canjicão se manteve estável a R$ 42,00, mas a quirera registrou queda de R$ 1,00, agora cotada a R$ 39,00 por saca de 60 quilos. A tonelada de farelo de arroz está cotada a R$ 420,00 a tonelada/FOB.

Preço ao consumidor

Os preços ao consumidor ao longo de março registraram pequenas altas, com médias alcançando valor acima de R$ 13,50 na maioria das praças para o pacote de 5 quilos do Tipo 1, branco.

Expectativa

Os analistas de mercado adotaram uma posição mais segura nos últimos dias, diante da reação dos preços. De um lado, dizem que o pico da safra (a colheita já passa de 30% no RS) deve trazer maior pressão sobre as cotações, bem como o volume de CPRs, que gera certa acomodação da indústria.

De outro, lembram que o clima se torna a cada semana mais adverso para a cultura. Há perdas significativas e redução de área, uma oferta menor e uma demanda estável que podem favorecer uma estabilidade ou até uma alta nas cotações em plena colheita. Unanimidade, somente a de que as próximas três ou quatro semanas deixarão mais claro o cenário de preços do arroz ao produtor ao longo deste primeiro semestre de 2019.

 

Planeta Arroz

 

 

 

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