No Amapá, produtor agrega valor ao açaí

Quase dois anos após ter recebido a certificação florestal do Conselho de Manejo Florestal (FSC, na sigla em inglês) para o cultivo e manejo do açaí, a comunidade do Bailique, arquipélago localizado a 160 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, está em vias de conseguir a certificação da cadeia de custódia da fruta, que também abrange o processamento e o beneficiamento do produto. Segundo Geová Alves, presidente da associação de produtores de Bailique, o selo do cultivo acabou não se convertendo em ganho financeiro para a comunidade, e é preciso avançar.

“A gente esperava uma mudança de cenário, mas a indústria não reconhece isso (a certificação) como diferencial”, afirmou Alves. Mas Rubens Gomes, um dos cooperados da comunidade, ressalvou que, embora não tenha gerado benefícios financeiros, a certificação garantiu ganhos à comunidade. “Todos os benefícios sociais foram alcançados, mas não o comercial, porque não há mercado que exija a garantia de origem”, afirmou.

Em 2017, o Brasil destinou quase 196.000 hectares à produção do açaí, um crescimento de 17% em relação ao ano anterior, segundo dados do IBGE. Com isso, houve aumento de 22,2% na produção brasileira, que alcançou 1.3 milhão de toneladas e registrou valor de R$ 5.54 bilhões – 40,9% superior ao observado em 2016.

Segundo Gomes, os esperados benefícios financeiros da certificação não foram alcançados porque o ciclo da produção “não estava fechado”. “A indústria, ao absorver nossa produção, não valorizava a certificação e fazia vista grossa, colocando nosso açaí junto de outros não certificados”, disse.

A situação, então, levou a comunidade a acelerar seus planos de vender a polpa do açaí já processado, dispensando intermediários. “A comunidade foi obrigada a constituir sua própria unidade (fabril) para conseguir fechar o ciclo e chegar ao mercado com um produto de qualidade, com preço mais justo e sob seu controle”, explicou Gomes.

Geová Alves lembra que esse era o plano da comunidade desde o início do processo de certificação, em meados de 2016. “Nosso plano de negócios, definido há dois anos, tinha como ideia inicial uma agroindústria. Colocar o produto final no mercado foi só uma questão de tempo”, disse o líder comunitário. Segundo Alves, Bailique possui atualmente capacidade para produzir 13,6 toneladas de polpa de açaí por semana e tem 95 produtores já certificados.

“O mercado que dá mais valorização é o mercado do consumidor, no nosso caso, o consumidor de polpa de açaí da região Sudeste do país”, afirmou Alves. A comunidade já realiza vendas pontuais a alguns consumidores de São Paulo e espera ampliar os envios, realizados por avião, depois da conclusão da nova certificação. “Nós mesmos estamos produzindo, transformando em polpa e entregando para o cliente final. Nosso modelo de negócio está fazendo com que acessemos esse mercado, que é bem específico”, comentou o presidente da associação de produtores.

 

Fonte: Valor Econômico

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