Prêmios para a soja da safra nova estão subestimados e negócios estão travados

Os negócios da safra 2018/19 de soja estão travados neste momento no Brasil em função de uma série de incertezas que rondam a formação dos preços. Entre eles, o câmbio e o tabelamento dos fretes preocupam e os prêmios que têm sido oferecidos para o produto da nova temporada chamam a atenção.

Embora bem acima dos registrados há um ano nos portos do País, os atuais prêmios pagos acima das cotações de Chicago para entrega entre janeiro/19 e março/19 têm uma diferença grande e significativa, que em certos casos passa de US$ 1,00 por bushel, em relação aos ofertados para a soja no mercado disponível, o que intriga o sojicultor brasileiro.

Apesar das recentes altas da commodity, a tendência de pressão sobre as cotações continua, uma vez que a guerra comercial entre China e Estados Unidos segue sem acordo efetivo e na medida em que a safra recorde norte-americana começa a chegar ao mercado com o avanço da colheita no país.

Segundo Camilo Motter, analista da Granoeste Corretora de Cereais, “com a demanda forte pela soja brasileira e Chicago pressionado mais adiante, os prêmios deveriam estar mais altos do que o que se vê hoje. Essa diferença mantém o produtor reticente para efetivar novos negócios”.

Enquanto a posição para entrega em novembro/18 tem um prêmio de US$ 2,50 sobre Chicago, fevereiro/19 tem um prêmio de US$ 1,15. Há um ano, esses valores eram US$ 0,90 e US$ 0,70, respectivamente, uma relação mais equilibrada do que a atual.

No período, o ganho acumulado foi de 78% para o prêmio da soja no mercado disponível e de 28,5% para o de fevereiro. Somente na última semana deste ano, as altas foram de 25% e 27,7%, respectivamente.

Em média, os prêmios para a soja para entrega entre janeiro/19 e abril/19 variam de US$ 1,10 a US$ 1,40, enquanto o do produto disponível atinge, em alguns casos, mais de US$ 2,60 por bushel sobre a cotação da CBOT.

A disparada dos prêmios é forte e tem sido justificada, principalmente, por essa disputa tarifária entre as duas maiores economias do mundo. Dessa forma, ainda segundo Motter, a chegada de um provável acordo e a volta dos chineses ao mercado americano pode pressionar os prêmios.

O oposto, porém, também, é verdadeiro. Afinal, somente para a China o Brasil deverá exportar, no próximo ano, algo entre 65 e 70 milhões de toneladas.

“E, por enquanto, ainda não vemos os dois países chegando a um acordo. A guerra comercial foi um golpe duro, na veia do comércio global de soja que mudou os parâmetros de formação dos preços. Os fatores são os mesmos, mas os parâmetros estão mudados. E com os parâmetros mudados, temos de mudar os cálculos também”, disse o consultor.

Com essa diferença nos prêmios entre safra velha e nova, os preços da saca de soja, consequentemente, também apresenta uma diferença considerável. Ao se comparar as duas safras em Paranaguá, por exemplo, enquanto a saca do produto no mercado disponível oscila na casa dos R$ 98,00, a cotação para fevereiro/19 varia ao redor de R$ 87,00.

E esses mais de R$ 10,00 se juntam às demais incertezas que pesam sobre as decisões dos produtores brasileiros e os negócios ficam travados. E, sem o acordo, a tendência é de que essa diferença comece a diminuir.

“Vamos continuar na safra nova com prêmios maiores, porque o impacto maior na América do Sul, com a China, serão prêmios positivos, com valores muito altos, como os que temos agora, acima dos US$ 2,00”, afirmou Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.

“Mesmo que a safra nova hoje mostra prêmios de US$ 1,00, pelo andar da carruagem e com os chineses precisando do produto, esses prêmios deverão aumentar”, acrescentou.

A guerra comercial – talvez uma das mais severas dos últimos anos do comércio globalizado, continua. Um entendimento entre China e Estados Unidos parece estar cada vez mais distantes. Novas conversas são iniciadas e, na semana seguinte, mais tarifas são impostas por ambas as nações. O alerta, porém, é dado por todos os consultores e analistas: com um acordo todo esse cenário pode mudar.

“Um acordo, se acontecer, pode esfriar a demanda, principalmente no ano que vem. Para esse ano, com exportações sendo registradas para outubro e novembro, ainda temos uma demanda forte”, disse o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado.

“Se houver um acordo nas próximas semanas, a tendência para o ano que vem é de uma exportação mais fraca. Com a China saindo daqui e diminuindo suas compras por um acordo com os EUA, os prêmios podem diminuir sim”.

E o especialista complementa dizendo que esse é, de fato, outro fator de risco para a formação do preço da safra nova.

“Cada dia que passa, parece que estamos mais longe de um acordo, mas olhando por outro lado, pode parecer que estamos mais próximos de um acordo, porque cada vez mais os bens dos países são taxados, a relação é cada vez mais tensa e ninguém sai ganhando nisso”.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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