
Os traços da personalidade, a carreira e as principais realizações de Getúlio Vargas foram alguns dos aspectos abordados pelo historiador Ney Carvalho durante palestra sobre o ex-presidente do Brasil na Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
As informações apresentadas por Carvalho, em recente reunião do Conselho de Economia da SNA, fazem parte de um livro inédito sobre a vida de Vargas, que aborda o período entre os anos 30 e 50.
Em seu trabalho, o historiador descreve o ex-presidente como pessoa de “temperamento depressivo, comodista, frio, calculista, procrastinador, com obsessão pela morte e incapaz de se renovar”. Além disso, Carvalho afirma que Vargas “não tinha imaginação e era um autêntico burocrata”.
O historiador diz ainda que o processo de formação do ex-presidente dentro dos parâmetros do positivismo o levou ao autoritarismo político, e que Vargas chegou a cometer “equívocos conceituais” no campo da economia. Por outro lado, Carvalho reconhece que o estadista era dotado de uma “intelectualidade integralista”.
Vargas também foi lembrado à ocasião por ações pontuais como a exclusão do poder judiciário da análise dos atos do Executivo, fato que, segundo Carvalho, promoveu e fez crescer a insegurança jurídica, além de medidas que ocasionaram mudanças institucionais no Supremo Tribunal Federal (STF) e, na área agrícola, intervenções na política cafeeira – que levou à conhecida queima do café – e também na produção de açúcar.
“O produto que teve maior crescimento na década de 30 foi o algodão, porque tinha os preços livres e era isento de intervenções governamentais”, destaca Carvalho.
SEMELHANÇAS
Em sua avaliação, o vice-presidente da SNA, Tito Ryff, presente à reunião do Conselho, traçou um parâmetro entre o discurso do início da era Vargas e os dias atuais.
“A bandeira da Revolução de 30 era combater um cenário marcado por um regime político e um sistema eleitoral falidos, uma economia quebrada e uma classe política corrupta. O discurso é muito parecido com o que se vê hoje em dia nas redes sociais”, disse Ryff, que também fez referências à imprensa daquela época.
“O governo via a imprensa como facciosa e militante. Hoje temos uma imprensa livre, com opiniões diversas, mas o sentimento da população é de que a imprensa é totalmente tendenciosa”.
CONTEXTO
Sob o aspecto da economia, o vice-presidente da SNA lembrou que, entre 1930 e 1945, a política econômica brasileira foi elaborada e implementada em condições adversas ao cenário econômico internacional, atingido pela crise de 1929.
“O Brasil vivia um estrangulamento cambial. Foram adotadas medidas de protecionismo e de desvalorização cambial. Também foram adotadas medidas importantes para dotar o Brasil de infraestrutura em diversos setores, como rodovias, portos, ferrovias etc. Já nos primeiros anos da década de 50, houve um crescimento expressivo da economia brasileira”, ressaltou Ryff.
LEGADO
Participando da reunião na SNA, o economista Hélio Portocarrero falou sobre o legado de Vargas e sobre a importância do positivismo que influenciou o governo do ex-presidente.
“Getúlio deixou um legado forte, a começar pela legislação trabalhista, que só começou a ser abolida em 2017, e pelo imposto sindical, que também acabou recentemente. Ele também trouxe a ideia do populismo”, lembrou o economista.
Para ele, “o positivismo, baseado na ciência pura, foi importante para a promoção da educação das massas e para o estabelecimento de uma economia dirigida, ou seja, uma economia em que o Estado faz a indicação dos principais investimentos”.
A reunião do Conselho de Economia, coordenada por Rubem Novaes, também contou com a presença do presidente da SNA, Antonio Alvarenga, do vice-presidente da instituição, Helio Sirimarco, dos diretores Francisco Villela, Márcio Sette Fortes, Rony Oliveira, Paulo Protásio e Tulio Arvelo Duran, e dos economistas Arnim Lore, Antonio Meirelles, Carlos Von Doellinger, Claudio Contador, Paulo de Tarso Medeiros, Roberto Castello Branco, Roberto Fendt e Rubem Penha Cysne.
Equipe SNA/Rio