Só oferta de milho preocupa em mais uma safra robusta

Ainda que tenham confirmado que o Brasil terminará de colher neste ano a segunda maior safra de grãos da sua história, novas estimativas divulgadas ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) também reforçaram que nos próximos meses será mais acirrada a disputa por milho por parte dos frigoríficos que atuam no país e as tradings que exportam o cereal.

Segundo a Conab, o ciclo 2017/18 chegará ao fim, uma vez concluída a colheita de trigo, com volume total de 228.3 milhões de toneladas de grãos e queda de 3,9% em relação ao recorde registrado na temporada 2016/17. Nos cálculos do IBGE, serão 225.8 milhões de toneladas, com redução de 6,2%. Os recuos não diminuem a importância da safra para a economia nacional num momento em que outros setores ainda derrapam, mas o encolhimento da oferta de milho acende um sinal de alerta.

Segundo a Conab, a safra de inverno do grão, a mais prejudicada pela estiagem que afetou especialmente regiões produtoras de Mato Grosso do Sul e do Paraná nos últimos meses, chegou a 54.5 milhões de toneladas, 19,1% abaixo de 2017/18. Como a produção de verão já havia recuado 12%, para 26.8 milhões de toneladas, em virtude da menor área plantada, no total a colheita brasileira de milho vai cair 16,8%, para 81.4 milhões de toneladas. Como a demanda e os preços domésticos estão firmes, a estatal projeta que o cenário terá impacto negativo sobre a exportação.

Também prejudicados pela entrada em vigor do tabelamento de fretes mínimos rodoviários, que elevou os custos para o escoamento da matéria-prima, os embarques de milho deverão alcançar 25.5 milhões de toneladas em 2018, 17,2% menos que no ano passado, quando o país se consolidou como o segundo maior exportador do cereal do mundo, atrás dos Estados Unidos.

Mas o horizonte poderá ficar ainda mais nublado. A iniciativa privada já trabalha com a expectativa de que as vendas ao exterior fiquem em cerca de 20 milhões de toneladas, uma dos menores volumes dos últimos anos.

Na contramão está a soja, carro-chefe da safra de grãos e do agronegócio brasileiro em geral. Sem ter enfrentado problemas climáticos relevantes, a produção em 2017/18 da oleaginosa bateu novo recorde: 119.3 milhões de toneladas, segundo a Conab, 4,6% mais que em 2016/17, e o mesmo deverá acontecer com as exportações, apesar das incertezas e do aumento de custos e derivados do tabelamento dos fretes – a maior parte negociada antes da greve dos caminhoneiros, em maio.

Segundo a estatal, os embarques deverão chegar a 76 milhões de toneladas neste ano, 11,4% mais que em 2017. Em relação ao volume registrado no ciclo 2011/12, o incremento chega a impressionantes 133,8% e consolida a liderança global do Brasil nesse mercado, à frente dos EUA. E tudo indica que novos recordes poderão ser alcançados no ano que vem, desde que o clima colabore.

Os primeiros sinais para a temporada 2018/19, cujo plantio já teve início no Paraná, indicam que as áreas de soja e milho verão deverão crescer, a partir de avanços sobre pastagens ou em detrimento de culturas menos rentáveis, como o feijão, cuja produção já foi menor em 2017/18, como a do arroz (ver infográfico). O encarecimento dos fretes ainda nubla as projeções, mas os efeitos positivos para o Brasil das disputas comerciais entre EUA e China justificam a visão geral otimista.

Também cultivado no inverno, o trigo poderá superar as expectativas, apesar de a seca ter danificado plantações na região Sul. Segundo a Conab, a produção do cereal deverá alcançar 5.2 milhões de toneladas, 22,9% mais que a do ano passado, que foi bastante maltratada pelo clima.

As importações, de grande monta, estão estimadas em 6.3 milhões de toneladas em 2018. Como o transporte desses volumes também ficou mais caro com os fretes, os preços domésticos da farinha estão em alta e pesam sobre os índices inflacionários, embora os alimentos como um todo não estejam sendo motivo de preocupações sob esse aspecto.

 

Fonte: Valor Econômico

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