Manejo Integrado de Pragas da soja é essencial para produzir com sustentabilidade, diz pesquisadora

Consultora da Embrapa Soja, a pesquisadora Beatriz Corrêa-Ferreira defende conjunto de estratégias que auxiliam os produtores na melhor condução de sua lavoura. Crédito da foto: Gilberto Nascimento/Embrapa

Agricultores brasileiros já começaram a plantar a soja referente à safra 2013/14, com a expectativa de mais um recorde do cultivo no país. E a tarefa não é nada fácil, principalmente no que diz respeito ao uso de agrotóxicos na lavoura da oleaginosa.

De acordo com a consultora da Embrapa Soja e pesquisadora Beatriz Corrêa-Ferreira, o Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) é a principal ferramenta para a racionalização da utilização de inseticidas, com redução de custos de produção, sem riscos à produtividade. Trata-se de um conjunto de estratégias que auxiliam os produtores na melhor condução de sua lavoura. “Ao fazerem o MIP, eles estarão monitorando suas áreas e, assim, realizando o controle das pragas quando estas realmente atingirem os níveis de ação”, ressalta Beatriz.

Segundo a pesquisadora, o método prevê que a tomada de decisão sobre a aplicação de inseticidas na lavoura da oleaginosa seja sempre baseada na amostragem das pragas e demais critérios técnicos, que determinam se existe ou não a necessidade de usar tais produtos. “Quando necessário, e sempre que possível, a escolha deve ser por inseticidas seletivos, com menor impacto sobre os inimigos naturais. Assim, os produtores estarão preservando os inimigos naturais nas suas lavouras e permitindo que eles desempenhem seu verdadeiro papel como agentes benéficos, evitando ressurgência de pragas ou mesmo surtos de pragas secundárias”, afirma a consultora da Embrapa.

Conforme Beatriz, não há diferença de realização do Manejo Integrado de Pragas da Soja, independentemente da região brasileira. “O MIP-Soja sempre será realizado durante o ciclo de desenvolvimento da soja ou mesmo antes, no momento da escolha dos produtos que o produtor irá utilizar em sua lavoura”, explica. “O que vai variar de uma região para outra é a época da semeadura da lavoura, a ocorrência das pragas, as espécies e as densidades que cada praga ocorre e assim, o momento da aplicação de inseticida para o controle das pragas poderá ser diferente”, destaca a pesquisadora.

ATAQUES DE LAGARTAS E PERCEVEJOS

Embora possam variar de região para região, durante o período vegetativo, as principais lagartas desfolhadoras que atacam a soja são a lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis e a falsa-medideira Chrysodeixis (=Pseudoplusia) includens, cita a consultora da Embrapa Soja, a pesquisadora Beatriz Corrêa-Ferreira. “Esta última ocorre também no período reprodutivo da soja quando, dependendo da intensidade, poderá ser mais prejudicial às plantas”, informa.

Segundo Beatriz, outras lagartas podem estar presentes na soja em maior ou menor densidade, dependendo da região, como as lagartas do gênero Spodoptera, lagarta das vagens que, além das vagens, podem também atacar as folhas, causando desfolhas na soja. Também existem as lagartas do grupo Heliothini. “As espécies Heliothis virescens e Helicoverpa zea já ocorriam na soja e, nesta última safra, a Helicoverpa armigera foi detectada em várias regiões do Brasil, sendo um problema bastante sério na Bahia, atacando além da soja também outras culturas”, cita a pesquisadora.

Quanto aos percevejos sugadores de semente e grãos, embora possam estar presentes nas lavouras, desde o período vegetativo, é no período reprodutivo que causam prejuízos, alimentando-se das vagens que atingem diretamente os grãos de soja. “Na soja ocorre um complexo de espécies de percevejos, mas é o percevejo marrom Euschistus heros a espécie mais comum e predominante de norte ao sul do Brasil. Outras espécies como o percevejo-verde-pequeno Piezodorus guildinii, o percevejo verde Nezara viridula e o percevejo-barriga-verde Dichelops spp. podem estar presentes em diferentes densidades populacionais, conforme a região”, especifica Beatriz.

Para a consultora da Embrapa, o controle dessas lagartas e percevejos pode ser feito de forma natural ou biológica, com aplicação conforme o manejo adotado pelo produtor, “preservando ou eliminando esses inimigos naturais, a sua importância será maior ou menor em cada lavoura”. “Em geral, as lagartas apresentam um número grande de parasitoides, vespinhas ou moscas, que naturalmente ocorrem nas lavouras, além dos fungos entomopatogênicos e insetos predadores, estes, embora não sendo específicos, têm um papel importante como agentes benéficos na regulação dos níveis populacionais dessas pragas.”

Ainda no controle biológico natural, em condições favoráveis de alta umidade e temperaturas elevadas, o fungo Nomuraea rileyi, causador da doença branca, é um excelente inimigo natural, dizimando totalmente as populações de lagartas. Quanto ao controle biológico aplicado, destaca-se a bactéria Bacillus thuringiensis, que tem ação sobre várias espécies de lagartas e o baculovirus Anticarsia, um vírus de poliedrose nuclear que é específico para o controle da lagarta-da-soja.

PASSADO, PRESENTE E FUTURO DO MIP

Beatriz explica que, no passado, com a implementação de programas de MIP-Soja, foram atingidos excelentes resultados: o número médio de aplicações foi reduzido, passando de cinco para duas aplicações de inseticida por safra. No presente, contou a pesquisadora, um abandono geral das táticas de manejo merece destaque.

“Lavouras não são monitoradas e os níveis de ação para as principais pragas não são seguidos. Muitas aplicações de inseticidas são realizadas sem critério técnico, seguem o calendário, sendo muitas vezes realizadas de forma preventiva”, salientou.

“Essas práticas têm levado a lavouras totalmente desequilibradas, com densidades populacionais elevadas e problemas ainda maiores com pragas. Para o futuro, ficam a necessidade de mudança e de retomada urgente das ações de MIP na cultura da soja, buscando produzir, mas com sustentabilidade”, destaca a consultora da Embrapa.

Por equipe SNA/RJ com informações da Embrapa de Dourados (MS)

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