A produção de etanol de milho, nova frente de investimentos no campo brasileiro, especialmente no Centro-Oeste, tem potencial não apenas para dar vazão à colheita do cereal, como também se firmar como alternativa importante para o agricultor, além de colaborar para tornar a matriz de combustíveis mais limpa no País.
“Projetos já implantados ou em fase de estudos podem, também, agregar dezenas de bilhões de reais às economias de polos que receberem novas usinas”, informa Marcelo Melo Ramalho Moreira, sócio da Agroicone e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo realizado pela empresa.
Moreira destaca alguns benefícios proporcionados por essa atividade. “Do ponto de vista socioambiental, em uma primeira fase, os investimentos em uma unidade autônoma (500 milhões de litros) chegam a gerar até 8,5 mil empregos diretos e indiretos”, diz o pesquisador.
Já na fase de operação, segundo Moreira, essa mesma unidade movimenta R$ 2,5 bilhões em vendas anuais, gerando uma riqueza adicional de R$ 910 milhões. “Isso ocorre em todos os anos de operação, sendo que aproximadamente 80% fica no Estado de Mato Grosso”, afirma o pesquisador. “Com essa riqueza adicional advinda da produção local, a arrecadação aumenta 73 milhões em relação à gasolina ou ao etanol importado”, avalia.
O etanol de milho também beneficia o ambiente. “Segundo as estimativas do estudo, as emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global, são pelo menos 70% menores no etanol de milho brasileiro quando comparado com a gasolina”, informa Moreira.
PERSPECTIVAS
A última estimativa realizada pela União Nacional do Etanol de Milho (Unem) prevê uma produção anual de 3 bilhões de litros de etanol nos próximos anos 5 anos (seis vezes maior que o considerado no estudo). A expectativa é que pelo menos sete usinas de etanol de milho sejam construídas ou ampliadas no Centro-Oeste este ano, a partir de R$ 3 bilhões em investimentos.
Segundo o pesquisador da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Ricardo Tomczyk, há diversos projetos de expansão e de construção de novas indústrias nesse momento. “Temos uma expansão em andamento, mais dois projetos de usinas dedicadas em início de construção e mais dois projetos de usinas flex (cana+milho) em construção também”, informa.
Além disso, segundo Tomczyk, já em operação, além da usina referida pelo estudo, que está em expansão, e é a única dedicada (exclusivamente com milho) em operação no momento, mais quatro usinas flex em operação (com cana e milho), sendo três em Mato Grosso e uma em Goiás.
O Mato Grosso abriga quatro usinas de etanol, três delas “flex” (produzem o biocombustível a partir da cana e do milho) e uma, em Lucas do Rio Verde, que roda apenas com o cereal, da FS Bionergia. “Além desses, ainda temos três usinas full (dedicadas) em fase de projeto nesse momento”, acrescenta o pesquisador da Unem.
SUSTENTABILIDADE
Para Moreira, há vários quesitos a se destacar sobre a produção do etanol de milho em relação à sustentabilidade. “Além de reduzir as emissões em relação à gasolina, o etanol de milho brasileiro apresenta índices muito menores do que o produzido nos Estados Unidos”, analisa. Parte dessa explicação, segundo ele, vem do uso de biomassa como combustível, um recurso renovável que deve ser manejado adequadamente, ao invés de fontes fósseis, e do milho de segunda safra como matéria-prima, que otimiza recursos e o uso da terra na rotação com a soja.
“O Brasil continua se destacando como um produtor de biocombustíveis de baixa emissão. Além disso, quando olhamos para questões de uso da terra, o estudo trouxe resultados ainda mais favoráveis, principalmente devido à expansão de florestas plantadas e à nutrição dos DDGs (Dried Distillers Grains)”, argumenta Moreira.
Outro ponto a ser destacado, segundo o pesquisador, é o Programa RenovaBio, capaz de direcionar, no longo prazo, o investimento em energia limpa. “Para atingir os objetivos do mesmo, será necessário o aumento da produção e do consumo de etanol em quase 2 bilhões de litros por ano, entre 2018 e 2028”.
Para ele, é preciso explorar ao máximo, e com o devido cuidado, o potencial dos recursos renováveis no Brasil. “Assim, o crescimento da indústria de etanol de milho não compete com o etanol de cana-de-açúcar, mas soma esforços para atingir um objetivo maior, que é a descarbonizarão da matriz de combustíveis, aumentando a segurança energética e gerando emprego e renda no País”, arremata Moreira.
Equipe SNA/SP