Pequeno produtor de suíno sofre com reformas na China

Por séculos, os agricultores da aldeia Xingang, no sul da China, criaram suínos, ajudando a saciar o apetite de seu país por quase metade da carne suína consumida mundialmente. Mas, em anos recentes, um esforço nacional visando reduzir a poluição da água e estabilizar os preços da carne suína levou ao fechamento em massa de granjas. Muitas áreas do país, onde a atividade é tão inerente à cultura rural que um porco com um teto sobre a cabeça forma o caractere chinês para “casa”, foram transformadas.

Cartazes na praça do vilarejo agora proclamam orgulhosamente que Xingang está livre de suínos. “O município inteiro não tem porcos”, diz He Lianhong, 42, que perdeu a maior parte de um investimento de 200.000 yuans (US$ 30.000,00) quando sua granja de 200 suínos, a maior em Xingang, foi erradicada, em 2016.

Dois anos atrás, cerca de metade dos 800 milhões dos suínos do mundo estavam na China, sobretudo em granjas com menos de 500 animais. Agora, em parte como resultado de demolições, o número é de 350 milhões, o que, esperam as autoridades, vai reduzir a poluição.

Zonas de proibição à atividade pecuária abrangendo 636.000 quilômetros quadrados, cerca do dobro do tamanho da Polônia, foram designadas em todo o país desde 2014, e as autoridades fecharam centenas de milhares de granjas onde eram criados suínos e aves, mais de 200.000 no primeiro semestre de 2017.

Durante anos, efluentes não tratados contaminaram rios, fato agravado, recentemente, por surtos que mataram suínos, descartados em rios ou enterrados em fossas. “Há apenas alguns anos, havia cheiros terríveis por toda parte e a água próxima era negra. Suínos mortos eram empilhados nas estradas”, disse He.

A demolição de pequenas granjas já começou a impactar os preços da carne suína, que têm um papel importante nos dados de inflação no país. A erradicação dessas criações levou os preços a picos históricos superiores a 30 yuans (US$ 4,50) por quilo em 2016, disse Feng Yonghui, analista da consultoria Soozhu.com.

Por outro lado, grandes empresas aumentaram a produção, abatendo 15 milhões de animais a mais do que no ano anterior. Companhias com ações em bolsa investiram US$ 5.9 bilhões em novos projetos de suinocultura no país em 2016.

O consumo chinês de carne suína atingiu um pico em 2014. Foram 42 milhões de toneladas, número que caiu para perto de 41 milhões à medida que os hábitos alimentares dos chineses mudaram, preferindo mais carne bovina e de frango, segundo a Euromonitor.

Mas os gastos com carne suína continuam a aumentar, chegando a US$ 850 bilhões em 2016, à medida que os consumidores passam a preferir cortes de qualidade superior.

Muitos camponeses reclamam do “ciclo da carne suína”, de cortes na produção que implicam alta de preços que incentivam os agricultores a acelerar a produção. As fortes altas e quedas dos preços podem destruir os meios de subsistência dos produtores. “Algumas pessoas fizeram fortunas com a criação de suínos e outras foram arruinadas porque os preços não permanecem estáveis”, disse Li Fuying, dono de um restaurante em Xingang.

Analistas dizem que uma nova “reserva estratégica de carne suína”, da qual estoques são colocados no mercado quando os preços sobem, o lançamento de um mercado futuro de carne suína e o aumento das importações ajudaram a “domar” o ciclo. “Existe, ainda, um ciclo, mas ele está ficando cada vez mais longo. A principal razão é o aumento da escala de produção”, disse Feng.

Isso serve de pouco consolo para agricultores da região de Xingang. “Se você resistir, eles mandam dezenas de homens. É inútil”, diz um deles, sob a condição de anonimato. “Estou com raiva, mas não há nada que eu possa fazer”, disse Lai Rongjiao, cujos galpões foram demolidos em 2016.

O que no passado foi a granja de suínos de Nie Zhenyong, que existiu por 42 anos, foi concretado para servir como uma área de prática para treino de motoristas. Ele não atraiu muita clientela. “Fomos estimulados a criar suínos e recebemos subsídios, então criamos muitos animais, e depois tudo foi demolido”, disse com tristeza. “Nossa família não tem nenhuma fonte de renda”.

Outros arriscam ser multados para manter seus meios de subsistência tradicionais. “O Partido Comunista não nos permite criar suínos. Mas, secretamente, ainda tenho alguns animais”, disse Han Chunhuo. “Tenho quase 50 anos e não há outro trabalho que eu possa fazer”.

 

Fonte: Financial Times

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