“O processo de queda ano a ano na disponibilidade per capita de áreas agrícolas ocorre principalmente pelo crescimento da população, urbanização, aumento da infraestrutura e processos naturais como a desertificação, entre outros fatores”. A afirmação é de Anderson Galvão, diretor da empresa de consultoria em agronegócio Céleres, durante a palestra de abertura do III Congresso Andav, realizado nesta semana em São Paulo. Segundo ele, nesse cenário, as altas recentes nos preços mundiais dos alimentos começam a comprometer a estabilidade política em algumas regiões do mundo, especialmente nos países em desenvolvimento.
Ao falar sobre os impactos no agronegócio e na economia brasileira das dificuldades enfrentadas pela União Europeia (UE) em sua reestruturação pós-crise, aliados à queda do consumo da China, Galvão abordou caminhos alternativos para o agronegócio nacional diante das condutas adotadas pelo governo brasileiro e dos investimentos estrangeiros no país, levando também em conta as perspectivas para os próximos anos.
“Vivemos cada vez mais em um mundo urbano e mais dependente de poucos produtores rurais para se alimentar, sobretudo nos centros mais populosos, configurando uma oportunidade permanente para o agronegócio brasileiro”, disse ele, acrescentando que, para isso, é necessário oferecer condições ao agropecuarista para que produza mais e melhor e, principalmente, para corrigir e vencer desafios.
“Além do crescimento da demanda em si – pelo aumento da população e da renda –, os países passam também a se preocupar cada vez mais com a segurança alimentar das suas populações, o que passa a gerar condições adicionais para a demanda e sustentação dos preços das commodities agrícolas”, complementa Galvão.
Ele esclareceu que nos países desenvolvidos o consumo de alimentos não impacta a renda e, mesmo assim, há dinheiro suficiente para a segurança alimentar. Já os países em desenvolvimento, continua Galvão, possuem mais de US$ 4,7 trilhões em reservas, o que também permite algum poder de compra de alimentos.
Ao apresentar um quadro sobre a evolução das crises alimentares no mundo, desde 1900, que somam, até o momento, 68, o diretor da Céleres mostrou que os erros políticos, de forma direta ou indireta, são os principais causadores da escassez de alimentos no mundo, com 32 crises desencadeadas, seguidos de fatores provocados por intempéries climáticas (20) e guerras (16). Estas crises foram responsáveis, segundo os dados apresentados por Galvão, por 100 milhões de mortes, e aconteceram na África (35), Ásia (19) e Europa (14), sendo os três países com maior número de ocorrências a Rússia, com 8 (levando-se em conta o período da União Soviética), a Etiópia (7) e a China (5 ).
Por Equipe SNA/SP