A terra é boa, há boa oferta de água e a topografia ajuda. Mesmo assim, Angola não tem produção de alimentos suficiente e importa a maior parte do que vai para a mesa das famílias. O partido que governa o país há 42 anos diz que agora quer mudar isso. E que quer a ajuda do Brasil.
João Lourenço, candidato presidencial do partido do governo, o MPLA, e favorito na eleição de amanhã, tem repetido em seus discursos que, se eleito, vai estimular a agropecuária e aumentar a produção local de alimentos.
As promessas casam muito bem com os negócios de uma família do interior de São Paulo, uma das mais novas investidoras no campo angolano. “No ano passado, plantamos 2.000 hectares de milho e soja em fazendas em quatro províncias de Angola e este ano vamos plantar, entre safra e safrinha, 3.500 hectares. Toda a produção para ser vendida localmente”, disse Danilo Danelucci.
Ele é o executivo para África da Costa Negócios, grupo empresarial de sua família, que tem origem na região de Araçatuba. Segundo Danelucci, no Brasil, eles têm fazendas de gado e soja no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Em Angola, produzem, com sócios locais, há três anos e crescem a cada ano, disse Danelucci.
Angola esteve em guerra civil até 2002. Sua economia ficou centrada no petróleo, e a agricultura ficou em segundo plano. Há poucos projetos de brasileiros aqui. O mais estabelecido é o da Odebrecht, que produz açúcar e álcool.
Os desafios são diferentes dos do Brasil. Um deles é que as terras aqui não são vendidas; são dadas em concessão pelo governo e para ter acesso a elas é preciso bons sócios locais. Outro desafio é que Angola não tem um centro de pesquisa agropecuária e isso obriga cada produtor a fazer pesquisas sobre melhores sementes e meios de combater doenças locais.
“As vantagens são os preços de venda daqui”, disse Altair Oliveira, que é o gestor de uma fazenda de 10.000 hectares na província do Malange. “Vendemos milho aqui por até três vezes mais do que os preços do Brasil”, disse ele. Apesar de custos mais altos, o que torna a produção agrícola mais rentável é que as safras são vendidas a preços dos produtos importados que chegam ao país, entre eles do Brasil.
A Embrapa chegou a começar uma parceria com Angola, mas os trabalhos foram interrompidos por falta de pagamento.
“O Brasil é um país que é primeiro mundo em pesquisa agrária e essa é uma das áreas que precisamos de cooperação muito grande com o Brasil”, disse Manuel José Nunes Júnior, influente burocrata do partido do governo. “Precisamos também de cooperação, não só em pesquisa, mas também na agricultura.” Danilo Danelucci disse acreditar que esse é um negócio de futuro em Angola. “A oportunidade está aqui.”
Fonte: Valor