Embrapa: Brasil precisa de novos biocombustíveis para cumprir Acordo de Paris

Guy de Capdeville, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Agroenergia, ressalta a utilização do bioquerosene. Foto: divulgação

O Acordo de Paris, tratado que reúne 195 países ao redor do mundo visando a reduzir emissões de dióxido de carbono, traz desafios para o Brasil cumprir a meta de ter 18% de biocombustível em sua matriz energética até 2030. De acordo com estudo da Embrapa, as estratégias terão de ir além da produção do etanol e do biodiesel: será crucial investir em outros biocombustíveis.

No Acordo de Paris, os países entregaram suas pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês).  A iNDC do Brasil compromete-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, chegando a 43%em 2030.

“Em nosso estudo, não estamos nos referindo a estas metas, que deverão ser atingidas pelo Brasil. O levantamento está focado em um dos seis pontos adicionais propostos pelo País no acordo, que é ter 18% da matriz energética baseada em biocombustíveis até 2030”, explica Guy de Capdeville, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Agroenergia.

De acordo com o estudo, considerando-se as estimativas do setor para oferta de etanol crescendo 5,1% ao ano, a quantidade de biodiesel adicionada ao diesel teria de subir para 69%, o que exigiria a instalação de mais 395 usinas – atualmente, a mistura é de 9% e há 43 usinas no Brasil.

Mesmo que a taxa de crescimento do etanol fosse o dobro, ainda seria necessário chegar a 48% de biodiesel no diesel e construir 267 novas indústrias para que os dois biocombustíveis, juntos, respondessem por 18% da matriz energética nacional.

O cenário de crescimento mais factível para o biodiesel é chegar a uma mistura de 15% em 2030, o que exigiria o óleo de 35% da safra de soja brasileira. Mas também carrega um desafio grande: hoje, apenas 41% da produção do grão é esmagada no País, sendo 15% do óleo obtido destinado às usinas de biodiesel. Os outros 59% são exportados in natura .

“A soja ainda é a única oleaginosa com escala de produção suficiente para atender grandes volumes de insumos. Diante deste cenário, nosso primeiro ponto é alertar para a necessidade de se diversificar as matérias-primas utilizadas para diminuir a dependência da soja. A macaúba, por exemplo, permite a extração de até 4 mil litros/hectare, muito superior à produtividade da soja, que de 500 litros/hectare”, comenta Bruno Galvêas Laviola, pesquisador da Embrapa Agroenergia. Ele cita, ainda, como alternativas o dendê e o algodão.

Diversificar: Bruno Galvêas Laviola, pesquisador da Embrapa Agroenergia, ressalta a alta produtividade da macaúba. Foto: divulgação

O óleo de soja responde hoje por algo entre 70% e 80% do total de matérias-primas utilizadas pela indústria.

“”O Brasil tem 220 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas. Há, portanto, espaço suficiente para o crescimento da produção de soja e outras oleaginosas sem oferecer qualquer risco ao fornecimento do produto como alimento”, defende Capdeville.

Outro ponto que surge como oportunidade para atingir a meta é a diversificação do uso da biomassa, que poderia ser utilizada, por exemplo, na produção de bioquerosene.

“Neste sentido, temos duas plataformas bem avançadas nesta área: a mineira e a pernambucana. As empresas aéreas têm um compromisso global de reduzir as emissões e o bioquerosene já está sendo testado e usado com sucesso, inclusive por empresas companhias brasileiras”, conta Capdeville.

O cenário de crescimento mais factível para o biodiesel é chegar a uma mistura de 15% em 2030, o que exigiria o óleo de 35% da safra de soja brasileira. Mas também carrega um desafio grande. Hoje, apenas 41% da produção do grão é esmagada no País, sendo 15% do óleo obtido destinado às usinas de biodiesel. Os outros 59% são exportados in natura e constituem um dos principais itens da pauta de exportações brasileiras que equilibra a balança comercial. “”O Brasil tem 220 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas. Há espaço suficiente para o crescimento da produção de soja e outras oleaginosas sem oferecer qualquer risco ao fornecimento do produto como alimento”, defende Capdeville, .

Por Equipe SNA/Rio

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