Por Equipe SNA
O Brasil desponta como uma das maiores apostas do mercado mundial de biotecnologia. É cada vez mais frequente empresas estrangeiras buscarem parcerias com nacionais e direcionarem investimentos para o setor no país. Recentemente, a canadense PlantForm Corporation firmou um acordo de cooperação e licenciamento, no valor de US$ 5 milhões, com a empresa brasileira de biofarmacêuticos PharmaPraxis, localizada no Polo de Biotecnologia do Rio de Janeiro, gerido pela Fundação BIO-RIO. “A maior procura de investidores do exterior retrata a valorização do nosso potencial biotecnológico”, avalia Katia Aguiar, diretora da SNA e gerente de negócios da BIO-RIO.
A biotecnologia brasileira vem se destacando em cinco principais áreas. Hoje, a maior parte dos recursos é conduzida aos segmentos de saúde humana, saúde animal, agricultura e meio ambiente, insumos e bioenergia. De acordo com Aguiar, um estudo setorial desenvolvido em 2011 identificou 237 empresas privadas de biociências atuando em território nacional, concentradas 40,5% no estado de São Paulo, 24,5% em Minas Gerais, 13,1% no Rio de Janeiro e, fora da região Sudeste, com uma abrangência menor, vem o Rio Grande do Sul, com 8%. Se observadas em um enquadramento mais amplo da biotecnologia, a bioeconomia, são encontradas cerca de 920 empresas atuando no segmento.
A maioria das companhias está voltada para a saúde humana. “Se considerarmos o perfil das empresas identificadas, especificamente, como de biotecnologia, observa-se que a grande maioria atua na provisão de produtos nas áreas de saúde humana (39,7%) e meio ambiente e energia (14.8%), excluindo-se aqui a indústria de etanol e cana-de-açúcar. Em seguida, aparecem as empresas da área de saúde animal (14.3%), reagentes (13.1%), agricultura (9.7%) e, por fim, 8.4% com perfil misto atuando em mais de uma área”, explica Katia.
Apesar de termos apenas um centro de pesquisa e desenvolvimento biofarmacêutico no Brasil, o país foi apontado como líder das pesquisas do segmento na América Latina por um relatório produzido, no último ano, pela consultoria Charles River Associates (CRA), a pedido da International Federation of Pharmaceutical Manufacturers & Associations (IFPMA). Os investimentos realizados nos últimos anos pelo setor privado e os projetos do governo voltados ao desenvolvimento da área promoveram um aumento significativo de publicações e patentes, colocando o país na liderança.
Projetos como o Programa de Investimento para o Complexo Industrial da Saúde (Procis) e as PDPs (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo) são destinados a impulsionar a produção de drogas por laboratórios públicos e privados em todo o território nacional. O setor também conta com o Polo de Biotecnologia do Rio de Janeiro, BIO-RIO, primeiro Parque Tecnológico da América Latina voltado para o segmento. Entidade privada, sem fins lucrativos, o polo funciona como uma incubadora e foi criado, de acordo com Aguiar, “com a missão de promover o empreendedorismo nos campos da biotecnologia e biodiversidade em geral, integrando as comunidades científica, tecnológica e empresarial, a fim de contribuir para o desenvolvimento técnico, econômico e social do Rio de Janeiro através de resultados inovadores para a sociedade brasileira”.
Segundo a diretora da SNA, dados do setor de fármacos mostram que o mercado brasileiro apresentou crescimento de 42,11% nos últimos cinco anos, superior à média mundial, de 28,46%. Multiplicam-se os negócios internacionais, como o estabelecido recentemente entre a nacional Pharmapraxis e a canadense PlantForm Corporation. “[Elas] assinaram um acordo de cooperação e licenciamento para desenvolver, produzir e comercializar as versões de medicamentos biossimilares ou biobetters, a partir de um sistema de expressão gênica em plantas, patenteado pela PlantForm. Inicialmente, as companhias vão desenvolver versões biossimilares e biobetters, ou apenas uma categoria, de seis anticorpos monoclonais que, juntos, respondem por US$ 31,5 bilhões de dólares das vendas globais anuais”, destaca Katia.
O futuro do segmento é apontado como promissor. Os tratamentos, terapias e medicamentos advindos da biotecnologia estão ganhando espaço em relação aos convencionais. Com o aumento da expectativa de vida da população, a diretora da SNA acredita que novas doenças precisarão ser controladas e os biofarmacêuticos serão o recurso mais indicado para ajudar a solucioná-las. “A solução deverá vir através de biofármacos e produtos biotecnológicos. Costumamos dizer que a biotecnologia é a ciência do futuro que vai alimentar, curar e salvar o mundo.”
Apesar do potencial de expansão, esse mercado ainda precisa desatar nós na produção. “Alguns produtos farmacêuticos já estão sendo envasados no Brasil, mas o princípio ativo ainda é adquirido no exterior. O ideal é que a produção de biofármacos possa ser feita no Brasil, utilizando tecnologia 100% nacional. Assim, o país poderia reduzir a importação, que hoje corresponde a R$ 1,5 bilhão em medicamentos chamados ‘excepcionais’, que o governo distribui, por lei, aos pacientes. Fabricar no Brasil irá reduzir muito os custos e melhorar o atendimento à população, mas se pudermos, além de fabricar no país, sermos capazes de desenvolver as tecnologias para produzi-los, aí sim, seremos a diferença”, avalia a especialista.