A estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) de julho para a safra de grãos 2016/2017 agora está em 237,22 milhões de toneladas, sendo 27,1% a mais que as 186,6 milhões de toneladas de 2015/16. Agregamos em apenas um ano 50 milhões de toneladas de grãos. A área cultivada é de quase 60,6 milhões de hectares e 3,7% maior que na safra anterior. Ou seja, em um ano aumentamos a área em mais de 2,2 milhões de hectares.
Na soja, foram colhidas 113,93 milhões de toneladas. A safra que termina é quase 20% maior que a anterior, de 95,4 milhões de toneladas. Também no milho a nova estimativa traz quase 3 milhões de toneladas a mais que a anterior, passando para 96 milhões de toneladas (30,4 milhões na primeira safra e 65,6 milhões de toneladas na segunda). No arroz subimos mais 200.000 toneladas, indo para 12,3 milhões de toneladas. Que desempenho fantástico.
Com esta produção toda, o Ministério da Agricultura estima o Valor Bruto da Produção (VBP) deste ano em R$ 536 bilhões, que é 4,3% maior do que os R$ 514 bilhões do ano passado. As 20 principais culturas tiveram aumento real de 9,8% e a pecuária um recuo de 6%.
As 20 principais lavouras (R$ 367,6 bilhões) apresentam aumento real de 9,8% e a pecuária, um recuo de 6% (R$ 168,4 bilhões). Os grandes ganhadores de valor foram: algodão (72,5%), amendoim (36%), arroz (9,6%), cana-de-açúcar (46,8%), laranja (12,4%), milho (20,7%) entre outros.
A safra atual também tem ajudado na recuperação das empresas produtoras de grãos, sendo que o principal destaque comparativo foi no algodão. A SLC, por exemplo, teve lucro líquido de quase R$ 84 milhões no primeiro trimestre de 2017, a Terra Santa R$ 33,07 milhões e a BrasilAgro R$ 4,5 milhões (dados do Valor).
Um destaque especial nesta nossa leitura do mês é que o tradicional levantamento da Conab completou 40 anos. Se compararmos com o passado, temos grande satisfação em ver o resultado do trabalho dos nossos produtores e agentes do agronegócio. Em 1976/77 produzimos 46.9 milhões de toneladas em uma área de 37,3 milhões de hectares. Quarenta anos após, estamos produzindo 237,2 milhões de toneladas em uma área de 60,6 milhões de hectares.
São quatro décadas onde a área cresceu 62,5% e a produção cresceu 405,3%, graças ao binômio tecnologia e gestão. O interessante é que com a produtividade de 1977, precisaríamos de 188,6 milhões de hectares para gerar a produção atual de grãos, portanto a tecnologia evitou o uso de mais de 125 milhões de hectares. Difícil ver outro setor da economia com tal pujança.
Na área internacional, julho traz algumas boas notícias. O índice de preços de commodities alimentares da FAO chegou a 175,2 pontos, 1,4% acima de maio e 7% acima do mesmo mês de 2016. Ou seja, os preços em um ano estão 7% maiores em dólar. Altas puxadas pelo leite (subiu mais de 8%), cereais e carnes (subiram 1,8%), enquanto o açúcar (caiu 13%) e óleos vegetais caíram.
O de cereais chegou ao maior valor em 12 meses, principalmente pelas expectativas nos Estados Unidos, algo que acertamos aqui na previsão de 2 a 3 meses atrás. Há ainda a presença de considerável risco climático nos EUA.
A não ser por este risco maior, a oferta mundial de cereais na safra 2017/18 é abundante, puxada por produções recordes na América do Sul, mas menor que o recorde de 2016. A FAO projeta produção mundial de 2,593 bilhões de toneladas (0,6% menor que na safra anterior) e o consumo mundial seria de 2,584 bilhões de toneladas (crescimento de apenas 0,5% sobre o ano anterior) o que elevaria os estoques mundiais para 704 milhões de toneladas.
Exportações do agro em junho também foram boa notícia, chegando a US$ 9,3 bilhões, praticamente 11,6% mais que junho de 2016, deixando um superávit de US$ 8,1 bilhões. Na primeira metade do ano o agro trouxe US$ 48,2 bilhões, quase 7% acima de 2016. O superávit deixado foi de US$ 40,8 bilhões. Injeção na veia do Brasil. Somente o complexo soja trouxe ao Brasil incríveis US$ 20 bilhões no primeiro semestre.
Em relação aos preços destas principais commodities exportadas pelo Brasil (no índice da FAO entram outras), o mês de junho não foi bom, tivemos quedas expressivas no açúcar e no café, quedas também no algodão.
Milho e soja tiveram alguma recuperação devido às informações vindas da safra dos EUA e volta a tocar nos US$ 4,00 (março 2018) US$ 10,00/bushel. Fora isto, o real voltou a se valorizar e ao que tudo indica deve continuar neste caminho voltando ao patamar em que estava pré-crise da JBS.
Este fato deve ajudar a levantar um pouco o preço em dólares das commodities onde o Brasil é grande participante das exportações mundiais. Segundo o Valor Data, porém, quando fazemos a comparação semestral (primeiro semestre de 2017 versus primeiro semestre de 2016), os preços neste ano estão melhores para o algodão (23,5%), suco de laranja (12,1%), café (11,2%), açúcar (10,3%) e soja (1,6%). O milho está 2% abaixo.
Em relação ao longo prazo, algo que já tenho discutido aqui há algum tempo, o novo relatório de Perspectivas 2017/2026 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que não teremos aumentos de preços nas commodities, inclusive havendo até ligeira queda.
Haverá oferta abundante de grãos devido a crescimentos nas produtividades, demanda mais controlada nos países emergentes e as políticas de biocombustíveis não crescerão como previsto. Eventos climáticos podem alterar o quadro, mas a aposta é nesta estabilidade.
Enfim, as notícias de julho no geral foram boas ao agro em termos de produção e ligeiramente negativas em termos de preços pelos fatores listados acima, mas muito boas nas questões macroeconômicas, com a aprovação da reforma e consequente modernização na área trabalhista e a consolidação da primeira das muitas condenações que serão dadas ao ex-presidente do Brasil. Minha leitura agora é que nosso foco deve ser nas reformas e deixamos para fazer a assepsia política em 2018.
Autor do artigo: Marcos Fava Neves é professor-titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013, foi professor visitante internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é professor visitante internacional da Universidade de Buenos Aires. Este material é um resumo mensal feito sobre assuntos nacionais e internacionais de relevância ao agro.
Fonte: Notícias Agrícolas