Por Mauro Zafalon
Em um ano no qual milho e soja deixam de trazer boa renda para os produtores, o algodão pode ser o ponto positivo nas lavouras. A área semeada teve recuo de 2%, para 939 mil hectares, mas a produtividade subirá 17%. Com isso, a produção de algodão em caroço deverá atingir 2.24 milhões de toneladas, conforme estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Os preços no mercado interno, embora tenham caído 4% no mês passado, vinham subindo. Em agosto do ano passado, o algodão estava cotado a R$ 2,45 por libra-peso. No fim de maio, esteve a R$ 2,78 e, em junho, a R$ 2,66, conforme acompanhamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Arlindo Moura, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), disse que, seguramente, o algodão vai render mais do que soja e milho neste ano. Ele destaca dois pontos importantes: primeiro, os preços na ICE, Bolsa de commodities de Nova York, estão acima de 70 centavos de dólar por libra-peso. Nesse patamar, o algodão gera lucro e compete bem com a fibra sintética.
Segundo, o algodão brasileiro tem qualidade comparada à do americano e do australiano, além de boa produtividade. A produção por hectare do algodão em pluma atinge 1.500 quilos no Brasil, acima dos 960 nos EUA.
O Brasil perde para os produtores australianos, que conseguem 1.600 quilos por hectare. Há, no entanto, uma diferença no custo de produção. As lavouras australianas são 100% irrigadas, mais dispendiosas, enquanto as do Brasil têm percentual mínimo de irrigação, segundo o presidente da Abrapa.
Custos
O gasto médio de produção no Brasil é de R$ 8.000,00 por hectare. Manuseio na produção e qualidade do algodão podem garantir, porém, uma remuneração superior à da cotação da Bolsa de commodities de Nova York.
Ângelo Ozelame, gestor técnico do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), disse que “certamente, a produção de 2017 será maior do que a de 2016”. A antecipação do plantio e da colheita da soja deu “uma janela maior para o produtor semear o algodão. O resultado é que a lavoura teve grande potencial produtivo”.
Para Maria Aparecida Braghetta, pesquisadora do Cepea, “o produtor espera mais qualidade e maior volume nesta safra”. Isso poderá ser visto a partir da segunda quinzena deste mês, quando a colheita ganha ritmo. “Com a colheita ainda no início, as indústrias compram de forma moderada, se limitando aos contratos já assumidos”, disse Braghetta.
Fonte: Folha de S.Paulo