Arroz registra alta de 1,89% em maio e deve subir mais em junho

Um pequeno aumento da demanda por empresas de médio e pequeno porte no Rio Grande do Sul e a retração da oferta do grão da nova safra pelos arrozeiros foi um dos fatores que gerou uma recuperação de quase 2% nos preços médios da saca de arroz em casca (50 quilos – 58 x 10) no Rio Grande do Sul em maio. Segundo o indicador Esalq-Senar/RS, a saca encerrou o mês cotada a R$ 39,35, com valorização de 1,89%. Em dólar, seguindo o humor do câmbio da última semana, o preço equivalia a US$ 12,16.

Já no início de junho, até a última sexta-feira (2), o movimento foi misto. Na quinta-feira, dia 1º, as cotações subiram até R$ 39,50 (e baixaram a US$ 12,09 pelo câmbio do dia), mas na sexta-feira retornaram para R$ 39,32, com queda de 0,46% no dia e acúmulo de 0,08% de retração no mês, voltando aos US$ 12,16 para o valor em dólar.

A boa notícia é que, apesar das dificuldades de logística e dos malabarismos para carregar navios, a cadeia produtiva do arroz está conseguindo exportar um pouco mais para a América Central. Um novo navio já foi confirmado com mais 25 mil toneladas de grão. No porto, o arroz chega a R$ 40,00, mas há tolerância maior para barriga branca – produto com 56%/57% de quebrados e umidade até 12%, o que movimenta o mercado de 424 na região.

Mercados paralelos

O Rio Grande do Sul, nos últimos dias, vê de maneira mais clara o fenômeno da distinção dos mercados. As variedades com mais grãos inteiros e sem barriga branca, Irga 417, BR Irga 409, BRS Pampa, Puitá Inta CL, Guri Inta CL e Irga 426, vêm registrando preços médios entre R$ 43,00 e R$ 44,00 pelas empresas que estão buscando qualidade.

As variedades Irga 424 e Irga 424 CL são preteridas em preços, puxando as cotações mais baixas na faixa dos R$ 38,00 a R$ 40,00 (neste caso, colocados no porto). A boa notícia é que o Irga projeta o lançamento de pelo menos uma nova variedade resistente à brusone e com potencial produtivo e rusticidade similar às variedades Irga 424 no máximo em duas safras.

Cultivares

No mês passado, produtores, sementeiros e técnicos gaúchos estiveram na Argentina a convite de uma multinacional para identificar e conhecer variedades do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) similares à Guri e à Puitá, com resistência à brusone. A expectativa é de que o material seja licenciado para cultivo no Brasil em parceria com uma multinacional.

Apesar da alta qualidade de grãos, a suscetibilidade à doença tem sido o grande problema destas variedades argentinas no Rio Grande do Sul, razão pela qual cresceu a presença das 424, resistentes à brusone e muito produtivas, nas lavouras gaúchas (representando cerca de 60% da área cultivada). No entanto, o material tem muitos problemas de gesso, barriga branca e barriguinha, segundo a indústria, que paga até cinco reais a menos por esta variedade.

Custos

Na semana que passou, além de importantes avanços registrados na agenda dos arrozeiros sobre evolução tecnológica e política setorial (na tradicional Semana Arrozeira, promovida pela Associação de Arrozeiros de Alegrete, na fronteira oeste gaúcha), duas notícias impactaram o setor. Em primeiro lugar, o anúncio, pelo Irga, de que o custo de produção para a safra 2016/17 bateu em R$ 7.097,59 por hectare, o que equivale a R$ 48,48 por saca sobre a produção média gaúcha.

O anúncio indica que, para mais de 50% dos arrozeiros gaúchos, a atividade está inviabilizada no Rio Grande do Sul. Este é o custo total. O custo variável, chamado também de desembolso, totalizou, em média no estado, R$ 5.838,08 ou o equivalente a R$ 39,88/50kg, ou seja, os preços médios atuais praticados no Rio Grande do Sul sequer cobrem essa parte do custo.

Considerando o valor médio de R$ 39,32 (Indicador Esalq-Senar/RS de sexta-feira, dia 2 de junho), seria necessário colher 180,5 sacas de arroz em casca por hectare, ou o equivalente a 9.025 quilos por hectare, apenas para pagar os custos de desembolso da safra corrente.

Ocorre, porém, que a produtividade, com 99,9% da safra colhida até a última quinta-feira (1º), é de 7.930 quilos por hectare, ou seja, estão faltando 1.095 quilos por hectare, ou quase 22 sacos, para a lavoura gaúcha cobrir seu custo.

O Departamento de Economia da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul indica um custo total de produção ainda maior para o arroz, acima de R$ 7.600,00 por hectares, o que compõe um cenário ainda mais dramático frente aos parâmetros atuais de comercialização.

A safra gaúcha ainda não terminou. Faltam perto de 700 hectares que não foram colhidos pelo excesso de chuvas das últimas semanas. A previsão do tempo é de mais chuvas esta semana. Em Santa Catarina, até mesmo o rebrote já foi colhido, mas no Mato Grosso o arroz de safrinha ainda tem pequenas áreas finais por colher.

Paraguai

Para fazer frente aos preços internos, os fornecedores do Mercosul bancaram uma redução nas suas cotações do grão colocado na fronteira, em especial em Foz do Iguaçu, no Paraná, abaixo dos R$ 11,80. Esta é uma condição especial conseguida apenas pelo Paraguai, em razão de sua impossibilidade de armazenar toda a safra e mais os estoques de passagem (que somam aproximadamente um milhão de toneladas), e por ter o Brasil como único canal de escoamento de quase 60% de sua produção.

Apesar de alguns organismos de imprensa brasileiros terem ventilado perdas de até 100 mil toneladas de arroz no Paraguai, por conta de enchentes que ocorreram nas regiões de produção do grão, o fenômeno alcançou a zona de várzeas com quase toda a safra colhida e, segundo a imprensa local, afetou perto de mil hectares, o que somaria algo em torno de sete mil toneladas – menos de 1% da colheita total prevista.

Estados

A alta registrada no Rio Grande do Sul também refletiu no mercado catarinense, que voltou a referenciar o seu arroz a R$ 40,00 por saca. O Mato Grosso, que chegava a comercializar o grão abaixo de R$ 38,00, também registrou reação com as indústrias já estocadas e os produtores com baixo interesse de venda, mais preocupados com as safrinhas de milho, algodão e girassol e a formação de pastagens.

Toda a produção do Mato Grosso será destinada ao mercado estadual e a alguns polos urbanos próximos, no Pará e em Goiás, cuja logística favoreça o transporte e a competitividade em preços.

Uruguai

A safra uruguaia cresceu 6% em produtividade, e já está concluída, segundo a Direção de Estatísticas Agropecuárias do Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca daquele país. A produtividade média alcançou 8.571 quilos por hectare, com clima melhor do que na temporada anterior.

Os rendimentos foram similares para a Zona Norte e o Litoral Oeste, formada pelos departamentos de Artigas, Salto, Paysandú, Río Negro e Soriano; a zona Centro, formada por Rivera, Tacuarembó e Durazno; e a zona Oeste, integrada por Cerro Largo, Treinta y Tres, Rocha e Lavalleja. A zona Oeste concentra 70% da produção de arroz do país, e alcançou um rendimento de 8.597 kg/ha.

No total, o Uruguai produziu 1.389 milhão de toneladas de arroz em casca. A expectativa dos exportadores locais é de manter o mercado do Iraque e do Irã, ampliar a participação na região andina e na América Central, e de que o Brasil remunere melhor o grão de alta qualidade, uma vez que tem uma colheita gaúcha com padrão inferior à sua média.

Mercado

Na última semana, a demanda por canjicão como sucedâneo do milho na composição de rações e para a exportação elevou as cotações deste derivado. A corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 50,00 a saca de 60 quilos do canjicão no estado, ao mesmo tempo em que a quirera manteve seus R$ 45,00/60kg e o farelo de arroz é cotado a R$ R$ 390,00, com alta de 11%, mas neste caso, por tonelada. A saca de 50 quilos de arroz (58 x 10) é cotada a R$ 39,20, e a de 60 quilos, com arroz beneficiado, alcança R$ 83,00 com valorização de 1,3%.

Expectativa

A expectativa da cadeia produtiva e dos analistas é de que os preços do arroz comecem a reagir de forma mais significativa ao longo de junho para buscar equiparação ao custo de produção no mês de agosto. Isso, no entanto, depende de alguns fatores, como o comportamento do câmbio e da oferta do Mercosul e da própria capacidade de segurar o produto do arrozeiro, uma vez que a soja, o milho e até mesmo a pecuária não vivem um período de bons preços.

 

Fonte: Planeta Arroz

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