Após encerrar o mês de abril com retração de 3,21% nos preços praticados, para R$ 38,62, equivalente a US$ 12,17 pelo câmbio de 28 de abril, o indicador de preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul, monitorado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) registrou ligeira recuperação em reais, mas com equilíbrio na moeda estadunidense nos três primeiros dias úteis de maio.
A saca de 50 quilos (58 x 10) negociada à vista e colocada na indústria, alcançou na quinta-feira (4), a média de R$ 38,75 no Rio Grande do Sul, com pequena oscilação na moeda nacional. Os feriados e a greve geral de abril mantiveram a demanda mais morna ao longo do mês.
Em dólar, o cereal se manteve em US$ 12,17, valor que ainda é remunerador para o grão do Mercosul, em especial do Paraguai, mas fica pelo menos R$ 4,25 abaixo do custo médio de produção por saca no estado. A boa notícia é que houve algumas negociações de compra de matéria-prima na faixa de R$ 37,00 a R$ 38,00 para a exportação de arroz em casca, o que tem movimentado a zona sul gaúcha e gera expectativa de potencial aquecimento dos negócios.
Na medida em que há vendas externas, a oferta interna tende a enxugar. Os preços atuais também ajudam a reduzir a pressão de oferta do Mercosul, especialmente do Uruguai e da Argentina, cujos custos de produção e transporte são maiores.
Vendas do Uruguai ao Oriente Médio, mercado melhor remunerador, e às Américas, inclusive um nicho especial da variedade Tacuary para o Peru, também estão ajudando este país a manter os patamares de preços, sem gerar uma oferta maior na região. No entanto, o Paraguai aponta aumento das exportações para o Brasil no primeiro quadrimestre e a prospecção de alguns mercados, entre eles México e Emirados Árabes.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou os números finais por área das exportações agropecuárias e o arroz voltou a apresentar uma balança comercial negativa, com destaque para a importação de produto paraguaio. Isso, apesar das greves na fronteira que atrasaram o fluxo de mercadorias.
No mercado livre gaúcho, os preços não sofreram grandes alterações, ficando entre R$ 38,00 e R$ 39,50, dependendo da região, contrato e padrão do cereal. Nos polos industriais há valorização das variedades nobres (BR Irga 409, Irga 417, BRS Pampa e também Puitá Inta CL e Guri Inta CL), mas em pequenos lotes e destinados à produção de fardos de tipos extra ou especial e exportações. Nestes casos, os preços médios oscilam entre R$ 41,50 e R$ 43,00. Enquanto isso, é nítido o “rebaixamento” dos preços da variedade IRGA 424, também em sua versão CL.
Apesar de ser resistente à brusone, ter ótima produtividade e não demandar uso de fungicidas, a cultivar produz um grão com maior concentração de gesso, barriguinha e barriga-branca, o que, segundo a indústria, acarreta custos com uma seleção mais lenta, rigorosa e perda importante de resíduos sem aproveitamento comercial.
Desta maneira, a variedade é comercializada entre R$ 37,00 e R$ 40,00, dependendo da região, tipo de contrato e rendimento. A indústria que financia o rizicultor costuma inserir nas exigências contratuais o cultivo, pelo menos em um percentual mais alto, das variedades nobres.
O comportamento da safra e do mercado na atual temporada estaria demonstrando que, até agora, o custo com a semente resistente não compensou o preço final. Mas, por outro lado, é importante frisar que muitos produtores não conseguiram este diferencial na hora da venda.
Estados
Em Santa Catarina nota-se ligeira recuperação nos preços de algumas praças, como é o caso de Turvo, onde o grão de melhor qualidade valorizou cerca de R$ 0,25 por saca. Considerando que todo o estado se manteve praticamente com preços congelados em R$ 40,00 e que a indústria catarinense adquire cerca de 450 mil toneladas no Rio Grande do Sul, e também de 50 mil a 70 mil no Paraguai, pode-se dizer que é uma reação importante que sinaliza para a busca de maior qualidade aos estoques. A média de preços fica entre R$ 40,00 e R$ 40,25 nas suas principais praças. Apenas a colheita da soqueira ainda está em andamento.
No Mato Grosso a concentração da oferta em cerca de 60 dias, por causa da baixa capacidade de armazenagem fez com que os preços da saca de 60 quilos (55% acima) caíssem abaixo dos R$ 40,00. A Conab indica preços médios entre R$ 37,00 e R$ 39,00 nas principais praças do interior e média entre R$ 39,00 e R$ 40,00 para o produto colocado em Várzea Grande, na Grande Cuiabá, onde está concentrado o polo das indústrias arrozeiras do Mato Grosso. Esta referência é para o arroz AN Cambará, da AgroNorte. Algumas variedades da Embrapa ficam entre R$ 37,00 e R$ 39,00. A colheita está terminando. No Tocantins, os preços também mostram perda de valor no andamento da colheita, que está quase finalizada.
Custeio
Na última semana, duas notícias foram confirmadas para o setor arrozeiro gaúcho relacionadas a custeio. Depois do Banrisul, foi a vez do Banco do Brasil anunciar o alongamento do pagamento das parcelas do financiamento da safra. Estima-se que apenas um terço dos arrozeiros gaúchos tenham acesso ao crédito oficial. Cerca de 45% são financiados pela indústria e o restante encontra outras formas de financiamento, inclusive pelos fornecedores de insumos.
Expoarroz
A cadeia produtiva brasileira, em especial a gaúcha, volta suas atenções, agora, para a programação da Expoarroz. O evento, em Pelotas, entre a próxima quarta-feira e sextafeira, deverá proporcionar negociações internacionais e painéis de debate e reflexões e uma agenda propositiva para a cadeia produtiva.
Safra
A safra gaúcha entrou na reta final. Segundo a Emater/RS, 97% da área de 1.1 milhão de hectares já foram colhidos e todo o arroz desta temporada deve estar nos silos no máximo em 10 dias, se o clima não atrapalhar. O Irga indica, até esta quinta-feira (4), 96,6% da superfície colhidos, ou seja, 1.068 milhão de hectares de 1.106 semeados. A produtividade média está em 8.030 quilos, um recorde estadual, e a produção, até o momento, já bateu em 8.58 milhões de toneladas, acima do que era inicialmente esperado.
Mercado
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica média de preços de R$ 38,60 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca, no Rio Grande do Sul. Para o grão beneficiado, em saca de 60 quilos, Tipo 1, a referência é R$ 80,00, sem ICMS (FOB). Depois de cair R$ 70,00 em abril, pelo aumento da oferta de milho para ração animal, o farelo de arroz se manteve estável em R$ 350,00 a tonelada no estado, enquanto o canjicão e a quirera mantiveram cotações com movimento lateral, ambos em sacos de 60 quilos, a R$ 48,00 e R$ 45,00 respectivamente.
Preços ao consumidor
Esta semana apresenta preços médios na faixa de R$ 12,00 a R$ 15,00 por pacote de cinco quilos de arroz branco, tipo 1, nas principais praças de comercialização do país, com marcas do tipo “extra, premium, especial ou superior” alcançando até R$ 18,00. Em compensação, em redes populares é possível encontrar na capital paulista o pacote de cinco quilos por R$ 10,48, da marca gaúcha Emoções e Blueville a R$ 10,99. O pacote de um quilo se mantém entre R$ 2,09 na promoção, R$ 3,60 no teto, e uma média de R$ 2,60.
Tendência
O mercado do arroz em casca se manterá pressionado em maio por causa da finalização da colheita e ainda pelo fechamento das contas dos contratos de financiamento direto entre produtor e indústria, pois alguns têm vencimento até 10 de maio. A soja na várzea também está praticamente toda colhida. O produtor se volta agora à comercialização para cobrir as despesas da colheita. Quem tem crédito pode lançar mão das alternativas de financiamento da comercialização.
A relação cambial agora se torna fator determinante da reação do mercado. Há expectativa de maior volume de vendas externas, com o grão para exportação sendo negociado entre R$ 37,00 e R$ 38,00 colocado no Porto, em Rio Grande. Ainda assim, até R$ 7,00 abaixo do custo de produção, os preços internos não conseguem competir com o Paraguai, que coloca grão em São Paulo a US$ 11,20 (equivalência saca/casca).
Se o Brasil conseguir retomar exportações que se aproximem ou equilibrem a balança comercial, a retomada dos preços internos ao produtor será mais rápida. No entanto, o cenário atual não aponta nesta direção, e deve permanecer com a Balança Comercial deficitária, isto é, com o país importando mais do que exporta o grão.
Ao consumidor este movimento pouco representará. Depois de “baratear” entre 1% e 3% desde janeiro, o preço nas gôndolas dos supermercados deve retomar gradativamente o padrão de preços da temporada passada, sendo reajustado na faixa de 4% a 5%. Em valores, isso representa centavos, pois o arroz é o produto proporcionalmente mais barato da cesta básica brasileira.
Fonte: Planeta Arroz