O dólar comercial fechou em alta de 1,36%, cotado a R$ 3,1363 para compra e a R$ 3,1378 para venda, com máxima a R$ 3,1423 e mínima a R$ 3,0674, com o mercado cauteloso após o governo aprovar com margem estreita a terceirização, levantando dúvidas sobre o avanço de outras reformas no Congresso Nacional, sobretudo a da Previdência.
A expectativa pelo contingenciamento do orçamento deste ano também influenciou, com o mercado reagindo à clara sinalização de que o governo do presidente Michel Temer elevará impostos em breve.
“O mercado ainda espera aprovação das reformas. Mas se continuar havendo sinalização de piora, haverá reprecificação dos ativos”, disse o operador da gestora Quantitas Matheus Gallina.
Na véspera, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que regulamenta a terceirização e altera as regras para contratos temporários de trabalho por 231 votos a 188. Para passar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera a Previdência, no entanto, o governo precisa reunir ao menos 308 votos na Casa.
A reforma da Previdência é considerada pela grande maioria dos agentes econômicos como fundamental para o país colocar as contas públicas em ordem.
O sinal claro, também dado na véspera de que o governo vai aumentar impostos para melhorar as receitas e tentar cumprir a meta fiscal deste ano, de déficit primário de R$ 139 bilhões, também não agradou ao mercado nesta sessão.
“O governo terá que aumentar impostos e, se isso já não fosse negativo, volta e meia fala-se em subir imposto sobre o câmbio”, comentou o operador-sênior de uma corretora nacional, se referindo à possibilidade de elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) das operações cambiais.
O mercado continua reagindo também às consequências para a Balança Comercial da operação Carne Fraca, com países restringindo a importação da carne brasileira. Nesta quinta-feira foi a vez de o Egito.
Na véspera, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a média do embarque diário de carne do Brasil era de US$ 63 milhões e que havia despencado para US$ 74 mil.
O Banco Central brasileiro vendeu integralmente nesta sessão o lote de 10.000 contratos de swap tradicional ofertados para rolagem dos contratos de abril. Já realizados foram seis leilões iguais, que reduziram para US$ 6.711 bilhões o lote que vence no mês que vem.
No mercado internacional, por volta das 18h00 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em alta de 0,08%, cotado aos 99,56 pontos, enquanto o euro estava em baixa de 0,12%, cotado a US$ 1,0783.
Juros futuros fecham fora das máximas, mas sobem com incerteza fiscal
Os contratos futuros de DI se afastaram das máximas em uma semana alcançadas mais cedo nesta quinta-feira, mas ainda assim chegaram ao fim do pregão regular na BM&F em alta pelo segundo dia consecutivo.
Ao fim do pregão regular, às 16h, o DI janeiro/2021 subia para 10,010% ao ano, contra 9,990% no ajuste de ontem e máxima hoje de 10,100%. O DI janeiro/2019 indicava 9,550%, contra 9,530% no último ajuste e máxima hoje de 9,610%. E o DI janeiro/2018 estava cotado a 9,975% (9,955% no ajuste anterior e máxima de 10,005%).
No leilão de venda de LTN feito pelo Tesouro Nacional nesta sessão, os títulos saíram com taxas mais altas que o consenso de mercado, numa indicação de que investidores demandaram mais prêmio para financiar a dívida pública.
O dia foi marcado pela piora relativa dos ativos brasileiros em relação a seus pares, com o acúmulo de incertezas sobre a capacidade do governo de evitar mudanças drásticas no texto proposto para a reforma da Previdência. A cautela, que se fez presente mais claramente ontem, depois da exclusão de servidores municipais e estaduais da reforma, ganhou força com a frustração pela não divulgação do corte do Orçamento e – posterior e principalmente, pelo placar da votação do projeto de lei que permite ampla terceirização em empresas privadas e no serviço público. Dos 428 deputados que estavam presentes, 231 votaram a favor da proposta e 188, contra, com oito abstenções. O placar foi considerado apertado. A Reforma da Previdência precisa de 308 votos a favor na Câmara dos Deputados.
“Ainda não há mudança estrutural de expectativa, mas é natural que o mercado ajuste os preços para considerar mais riscos de algum revés no caminho da reforma da Previdência”, disse o economista do Banco Pine Marco Caruso.
A MCM disse que o governo “perdeu um argumento forte” a favor da reforma da Previdência: o de que ela era geral e atingiria praticamente todos os trabalhadores, com exceção dos militares. A MCM entende que o recuo do governo reforça o cenário de que o texto será aprovado até agosto ou setembro, em versão “desidratada”, mas com manutenção da idade mínima de 65 anos para aposentadoria “ao menos” para os homens.
Para a consultoria, já está na hora de o governo construir a maioria de 308 votos para garantir a aprovação da proposta no plenário da Câmara dos Deputados, o que requer concessões, segundo a MCM. “O resultado final não será o ideal do ponto de vista fiscal e econômico. Será o possível, dadas as condicionalidades políticas”, avaliou em relatório.