Dólar sobe com fluxo comprador e aversão ao risco

Descolado do mercado internacional, o dólar comercial fechou em alta de 0,60%, cotado a R$ 3,0890 para compra e a R$ 3,0900 para venda, com máxima a R$ 3,0951 e mínima a R$ 3,0480, sustentado por um fluxo comprador atraído pelo nível baixo de preço e pela aversão ao risco que passou a predominar no mercado externo durante a tarde.

“A moeda americana caiu quase R$ 0,10 nos últimos dias. É natural que ao encostar nos R$ 3,05 tenha atraido compradores”, disse o sócio da Omnix Corretora, Vanderlei Muniz.

Na terça-feira passada, o dólar fechou  a R$ 3,1693 reais e, no pregão de ontem foi a negociado a R$ 3,0717. No início desta sessão, a moeda manteve a tendência de baixa dos dois pregões anteriores e caiu até à mínima e a partir daí, passou a atrair fluxo comprador.

A trajetória predominante para a sessão, segundo os profissionais, seria a de baixa se no exterior a busca pelo risco do início dos negócios não tivesse sido substituída pela aversão ao risco, com o nervosismo do mercado com a capacidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de avançar com as reformas prometidas em sua campanha presidencial.

Esse movimento derrubou as bolsas, com o dólar subindo em relação a divisas de países emergentes no exterior e embutiu uma pressão adicional de alta na trajetória da moeda no Brasil, apagando o efeito positivo decorrente do debate dos candidatos à Presidência na França.

No início dos negócios, a interpretação de que o candidato centrista, Emmanuel Macron, teria saído vitorioso impulsionou o euro e as moedas emergentes.

“Após o Brexit, uma eventual vitória de Marine Le Pen (com consequente saída da UE) poderia marcar, de fato, o começo do fim da União Europeia. Sendo assim, por enquanto o mercado reage comprando o euro”, informou a H.Commcor em relatório a clientes para justificar o desempenho do dólar no exterior.

No mercado internacional, por volta das 17h45 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em baixa de 0,63%, cotado aos 99,53 pontos, enquanto o euro estava em alta de 0,69%, cotado a US$ 1,0813.

No mercado interno, o movimento de baixa inicial do dólar também contou com a ajuda de um clima mais amenos após a operação Carne Fraca. O mercado, no entanto, continuou monitorando eventuais desdobramentos que possam afetar o desempenho da Balança Comercial brasileira e o fluxo de ingresso de recursos para o Brasil.

A Coreia do Sul voltou atrás na suspensão da importação da carne de frango brasileira, após o Brasil afirmar que os embarques para o país não continham produtos alterados.

China, União Europeia e Chile mantiveram a suspensão temporária às compras de carne brasileira. E, nesta terça-feira, Hong Kong e Suíça anunciaram embargo ao produto nacional.

“O mercado está atento à questão da carne e também da política, de olho se isso poderá atrapalhar a votação de reformas no Congresso”, disse Muniz.

O Banco Central brasileiro vendeu integralmente nesta sessão o lote de 10.000 contratos de swap tradicional ofertados para rolagem dos contratos que vencem em abril. Com isso, reduziu para US$ 7.711 bilhões, o total que ainda resta para ser rolado.

Juro futuro fecha em queda antes da divulgação do IPCA-15, apesar da alta do dólar

Os contratos futuros de taxas de juros na BM&F ignoraram a tensão na Bovespa e caíram nesta terça-feira, a despeito também da alta moderada do dólar. De forma geral, o mercado preferiu ficar na expectativa do IPCA-15 de março, que será divulgado amanhã, e que pode reforçar as expectativas de aceleração do ritmo de cortes da Selic em abril.

Um novo dia de queda nos juros dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) também colaborou para o recuo das taxas locais, especialmente as de prazos mais longos.

A curva de DI embutia nesta terça-feira 79% de probabilidade de corte de 1% do juro básico em abril, contra 71% do fechamento de ontem.

O gestor sênior de renda fixa da Absolute, Renato Botto, chamou a atenção para o IPCA, cuja expectativa é que volte a apontar para baixo.

A expectativa que o contingenciamento do Orçamento que será anunciado nesta quarta-feira pelo governo seja robusto, também deu um alívio para os prêmios de risco do mercado. “O mercado está confiando que será um número condizente com a atual situação e necessidade das contas públicas. Existe confiança de que não haverá maquiagens”, disse Botto.

Ao fim do pregão regular, às 16h, o DI janeiro/2021, que reflete percepção de risco mais estrutural, caía para 9,930% ao ano, contra 9,990% no ajuste da véspera. O DI janeiro/2018, mais relacionado às expectativas para a política monetária ao longo de 2017, cedia para 9,960%, frente a 9,995% no ajuste anterior. E o DI janeiro/2019 caía para 9,490%, comparado a 9,550% no último ajuste.

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