As quebras de safra decorrentes de adversidades climáticas provocadas pelo fenômeno climático El Niño motivaram forte aumento no montante de indenizações pagas pelas seguradoras que atuam no segmento agrícola no país no ano passado.
Dados da Superintendência de Seguros Privados (Suspe) fornecidos pela Federação Nacional de Seguros Gerais (Susep) mostram que, por conta das intempéries, os sinistros diretos na área rural superaram a marca de R$ 1.3 bilhão em 2016, contra cerca de R$ 700 milhões no ano anterior.
Ainda que os prêmios diretos nesse mercado tenham superado os sinistros e se aproximado de R$ 1.8 bilhão, o aumento não deixa de ser indigesto. Daí o alívio das companhias com operações no ramo a partir da melhora do clima em 2017, que tende a reduzir o patamar dos sinistros a patamares bem mais confortáveis.
Segundo Wady Cury, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, este ano os sinistros diretos no segmento rural deverão ficar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. “São oscilações que mostram que o Brasil, que é um continente, é um desafio enorme para as seguradoras”.
No ano passado, culturas como soja e milho representaram boa parte dos sinistros. Das regiões produtoras desses grãos, o “Matopiba” (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi uma das mais problemáticas, mas as indenizações também foram expressivas em Mato Grosso, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outros estados.
Dos prêmios diretos registrados em 2016, calcula Cury, as apólices com subvenção do governo federal representaram uma fatia de cerca de R$ 1 bilhão, ou 55% do total – o valor inclui tanto os subsídios pagos pelo governo, que somaram R$ 400 milhões, quanto a parte de responsabilidade dos produtores rurais contratantes.
Essa participação não deverá mudar muito em 2017, já que, por enquanto, o orçamento do governo prevê novamente subvenções da ordem de R$ 400 milhões. Dez entre dez fontes do segmento reclamam que o valor continua baixo e suscetível a recorrentes contingenciamentos.
Segundo Cury, que também é diretor geral de Grandes Riscos do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, que lidera o segmento rural, se o governo oferecesse R$ 1.2 bilhão em subvenções, haveria demanda no país – até porque uma parte ainda ínfima da produção agropecuária brasileira é protegida por seguro.
“Nesse caso, cobriríamos de 60% a 70% do que imaginamos ser nosso público alvo, que não inclui nem o produtor rural muito pequeno, que já tem outras ferramentas de proteção à disposição, nem pelo muito grande, para o qual a subvenção não faz grande diferença”, disse Cury.
Nesse contexto, o executivo realçou que voltaram a ganhar força as discussões em torno da expansão do programa federal de subvenção aos prêmios. A ideia básica continua a girar em torno da criação de um fundo alimentado com contribuições privadas, mas agroindústrias, revendas de insumos e produtores resistem.
“Depois das perdas registradas na safra 2015/16, as discussões voltaram a ganhar força. O grupo de trabalho formado por seguradoras e fabricantes e distribuidoras de insumos foi restabelecido e já temos reuniões agendadas até o início de abril”, disse Cury.
Fonte: Valor Econômico