Por Roberta Züge*/
O leite, mesmo com as inúmeras críticas e teorias fantasiosas que invadem as mídias sociais e são replicadas mais que bactérias em placas de cultura, continua sendo um alimento apreciado e um elemento essencial na dieta de muitas pessoas; no meio rural dizemos que é indispensável de mamando a caducando.
No entanto, inegavelmente diversas pessoas têm apresentado quadros de intolerância ou alergia ao leite. Este fato alimenta ainda mais as tais teorias. Por outro lado, enquanto o ceticismo em relação ao real valor nutricional do leite é fomentado por crendices, a ciência busca explicações.
Entre estes estudos descobriu-se que os problemas de alergia, ou intolerância, parecem ter surgido há apenas um século. Mas o ser humano vem ingerindo leite, de origem bovina, há quase 10 mil anos. Assim, foi necessário investigar o que havia mudado neste último século.
As pesquisas demonstraram que reações dos humanos, em relação à lactose, tem relação direta com um tipo específico de proteína. Sabe-se que todas as fêmeas dos mamíferos, incluindo a mulher, produzem, no leite, uma proteína denominada βcaseina A2. No entanto, algumas fêmeas bovinas sofreram uma alteração genética e passaram a produzir também uma proteína denominada βcaseína A1.
A única diferença entre as duas proteínas é apenas um aminoácido na 67ª posição, entre 203 aminoácidos que compõem as duas proteínas. A βcaseína A1 possui um aminoácido histidina, enquanto que a βcaseína A2 tem uma prolina na 67ª posição. Este “detalhe” não é aceito pelo organismo de muitas pessoas, assim como de diversos outros animais.
Intolerância à lactose e alergia à proteína do leite muitas vezes são confundidas pelo consumidor. Isto é justificável, pois ambas são ocasionadas pelo mesmo alimento: o leite. Além disto, elas possuem sintomas similares, como desconforto abdominal, cólicas e diarreia. Mas é importante conseguir identificar qual a causa do problema.
Afinal, quando se é intolerante deve-se excluir a lactose ou apenas ingerir pequenas quantidades de alimentos, que contenham traços de lactose (também depende grau de intolerância). Por outro lado, na alergia ao leite de vaca, a ingestão de qualquer proteína do leite ou alimentos que contenha qualquer traço deve ser excluída para evitar desencadear uma reação alérgica.
Sabidamente, estas enfermidades se expressam somente quando as pessoas ingerem leite oriundo de vacas que possuem os alelos A1. Tais fatos levaram os investigadores a estudar genótipos e raças, para descobrir qual alelo A1 e A2 têm frequências mais altas.
Desde então, as raças que apresentam maior quantidade de A1 alelo A1 (alergênico) começaram a produzir leite que podem causar doenças às pessoas predispostas. Assim, os estudiosos começaram a produzir raças com quantidades mais elevadas de A2 alelo A2, onde o leite não causa doenças e pode ser ingerido por pessoas com APLV.
Hoje, por meio de testes genômicos, já empregados por diversos produtores em sua rotina, há rebanhos sendo selecionados com vacas que sejam A2A2 em seu genoma. Assim, o leite oriundo destes animais não causa reação alguma! Liberado o leite a todos. Aproveite e beba leite!
*Roberta Züge é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); vice-presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Paraná (Sindivet); médica veterinária e doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), e sócia da Ceres Qualidade.
Fonte: Conselho Científico Agro Sustentável