A indústria brasileira de biodiesel está mais animada. Por conta dos aumentos dos percentuais de mistura obrigatória no diesel que estão por vir, o segmento trabalha com a perspectiva de que a demanda doméstica pelo produto alcance cerca de 7 bilhões de litros em 2019, volume quase 80% superior ao registrado no ano passado e capaz de reduzir de forma expressiva a ociosidade das fábricas, que continua elevada.
Mas será uma corrida de obstáculos. O salto depende da retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país e também de maior disponibilidade de soja para a produção do biocombustível. Ainda que existam outras matérias-primas utilizadas, o grão, por sua competitividade, é, de longe, a principal.
De modo geral, o consumo de biodiesel vem crescendo nos últimos anos no País, já puxado pelos – lentos – aumentos da mistura obrigatória. Em 2013, eram 5%, e desde o fim de 2014 o percentual determinado pelo governo é 7%. Com isso, informou análise divulgada recentemente pelo Banco Pine, a demanda cresceu de 2.9 bilhões de litros para os 3.8 bilhões previstos para 2016.
Não fossem os problemas econômicos enfrentados nos últimos dois anos no Brasil, o consumo já poderia ter alcançado 5 bilhões de litros neste ano, conforme Erasmo Carlos Battistella, presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio).
“Estamos vendo uma queda na produção de biodiesel de 3,5% neste ano em relação a 2015. A venda de diesel está 5,1% menor, e deverá fechar em 54 bilhões de litros”, disse Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Ele lembra que a recessão gerou um consumo de diesel em 2016 menor que o de 2012 (55.9 bilhões de litros).
É a reação – ainda que modesta – esperada para o consumo de diesel em 2017, somada ao calendário de aumentos do percentual obrigatório de mistura fixado até 2019, que deixa a indústria de biodiesel um pouco mais confiante.
Em março, a então presidente Dilma Rousseff alterou a lei que regulamentava a proporção de 7% na mistura de biodiesel no diesel e foi estabelecido um cronograma que levará o percentual a até 10% em 2019.
Segundo esse cronograma, no fim de março do ano que vem a mistura já passará de 7% para 8%. “O aumento nos dará um certo conforto que não vimos nos últimos anos”, diz Donizete Tokarski, diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
A expectativa é que a maior parte do aumento da demanda previsto também seja atendida pelo biodiesel produzido com o óleo de soja. Nos últimos anos, cerca de 85% do biocombustível vendido no país foi feito a partir do óleo de soja, observa Lucas Brunetti, economista do Banco Pine, citando dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). “Você tem óleo de caroço de algodão e também um pouco de gordura animal de frigoríficos. Algo entre 15% e 20% da origem do biodiesel acaba vindo dessas outras fontes”, disse.
Na visão de empresas produtoras, a ampliação do uso de biodiesel no diesel deve ser comemorado. “Acho que o aumento na mistura deve ser diretamente proporcional ao crescimento da produção”, diz Rodrigo Prosdócimo, da BioÓleo, de Mato Grosso.
Mas a expectativa de recuperação do consumo de diesel com a possível alta do PIB em 2017, ainda que pequena, também vai ajudar, de acordo com a avaliação do economista do Pine. “Quando a proporção da mistura passou de 4% para 5%, houve um aumento na demanda por biodiesel de 25%. E, por mais que você tenha uma projeção conservadora de PIB, ninguém considera que os próximos três anos serão de depressão”, disse Brunetti.
De acordo com o último Boletim Focus, relatório com projeções de mercado divulgado pelo Banco Central, o PIB deverá crescer 0,7% em 2017 – evolução tímida, mas bem melhor que a retração de mais de 3% esperada para este ano.
De qualquer forma, o cenário para os próximos anos aponta para uma redução do nível de uma ociosidade que há anos incomoda as empresas do ramo. Atualmente, está em torno de 40%. Mas, a partir de 2019, talvez seja até necessário um aumento de capacidade. “Até chegar no B10, ou seja, em 10% da mistura é possível aumentar a produção sem problema nenhum de capacidade”, avalia o economista do Pine. Na visão da Abiove, uma conjuntura econômica mais favorável ao consumo de diesel poderá levar a um aumento da produção de óleo de soja em 12,6% por ano no período de 2016 até 2030.
Fonte: Valor