Início de 2017 trará mais fuga para o dólar e saída de capital na China

A resolução de Ano Novo de Shen Jia é trocar o máximo que puder de yuans por dólares assim que 2017 começar.

Como todos os chineses, essa dona de casa de 36 anos tem permissão para trocar seus yuans até o equivalente a US$ 50.000,00 por ano, e há meses ela consumiu sua cota referente a 2016, quando o yuan se desvalorizou. O mesmo fizeram todos em sua extensa família.

Enquanto Pequim se esforça para desacelerar a fuga de dinheiro do país e uma erosão de suas reservas em moeda estrangeira, a virada do ano renovará esse direito de conversão anual de moeda, o que deverá desencadear uma nova onda de saída de capital. As reservas internacionais encolheram quase US$ 100 bilhões em janeiro deste ano, quando começou a vigorar o direito de troca de moeda relativo a 2016.

A pressão para se livrar dos yuans não diminuiu muito, e dados do Banco do Povo da China (PBOC, o banco central chinês) mostravam, na quarta-feira, que as reservas internacionais chinesas encolheram US$ 69 bilhões em novembro, para US$ 3.052 trilhões – o quinto mês consecutivo de quedas e o pior mês desde janeiro. As reservas estão agora no nível mais baixo desde março de 2011.

“Todo mundo está prevendo mais depreciação [do yuan], então é melhor eu me apressar”, disse Shen, que planeja usar os dólares para viagens ao exterior.

A perspectiva de maior saída de capital faz o governo se confrontar com a opção de rever essa quota. Autoridades governamentais descartam, reservadamente, essa possibilidade, embora admitam a preocupação.

“Se as pessoas acreditam que o yuan só tenderá a cair, é claro que elas desejarão trocar mais [yuans por moeda estrangeira]”, disse um conselheiro do governo.

Harrison Hu, economista para China no Royal Bank of Scotland, considera provável um aperto nas condições para compra de moeda estrangeira pelas famílias nos próximos meses. “Os bancos, sob ‘persuasão moral’, podem aplicar controles implícitos”, disse Hu.

Em 2007, o limite, que era de US$ 20.000,00 por pessoa por ano, foi elevado como parte de uma liberalização financeira mais ampla. Rebaixá-lo agora seria uma mensagem bastante negativa sobre a economia e elevaria o risco de criar venda de pânico de yuans. Mantê-lo como está, porém, deverá implicar um grande movimento de saída de dinheiro, o que impactaria a moeda chinesa e obrigaria o banco central a recorrer ainda mais às reservas cambiais da China.

Até agora, a agência reguladora de câmbio tentou outras formas de manter o dinheiro no país, negando as especulações de uma redução da quota de conversão. Recentemente, o Conselho de Estado (o Gabinete de governo chinês), implementou novas regras para esfriar os investimentos de empresas chinesas no exterior. Além disso, as agências competentes têm instruído os bancos a limitar substancialmente o montante que as empresas, estrangeiras e chinesas, tiram do país e destinam a suas outras operações em todo o mundo.

As autoridades também recorreram à persuasão moral para evitar que o dinheiro saia do país. Um artigo no jornal oficial “Diário do Povo” no fim do novembro, exortou as pessoas a não “seguir cegamente a multidão” na conversão do yuan em moedas estrangeiras.

O espectro de fuga de capitais começou a emergir no fim do ano passado, após a surpreendente desvalorização do yuan pelo banco central em agosto de 2015. Para conter a sangria, o PBOC recorreu a pesada intervenção no mercado para sustentar a moeda. Um novo regime cambial estabelecido no início deste ano também visou fortalecer a estabilidade do yuan.

Desde o início de outubro, imediatamente após o Fundo Monetário Internacional ter formalmente incluído o yuan entre as suas moedas de reserva, o que era um antigo objetivo de Pequim, o governo mostrou maior tolerância com um yuan mais barato, o que ajuda as fracas exportações num momento de desafios econômicos. Após a recente valorização do dólar, na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, o yuan está valendo 6% a menos em relação ao dólar.

A tendência de desvalorização torna extremamente urgente para os chineses com renda em yuans, mas compromissos em dólar – como os muitos pais que têm filhos estudando nos EUA – usar rapidamente suas quotas de troca de moeda. Famílias muitas vezes juntam suas quotas, por exemplo, para permitir que um de seus membros adquira bens no exterior, segundo analistas e banqueiros.

As empresas também estão tentando manter mais moeda estrangeira em caixa. Du Yaliang, dono de uma fábrica de brinquedos em Shenzhen que vende sua produção para a América do Norte, está adiando a troca de seus lucros em dólares por yuans pelo maior tempo possível. Como muitos outros exportadores, ele também apostou em contratos de derivativos que permitem ganhar dinheiro se o yuan se desvalorizar ainda mais.

O Instituto de Finanças Internacionais, um grupo de instituições financeiras mundiais com sede em Washington, estima que a saída líquida de capital da China tenha chegado a US$ 530 bilhões nos primeiros 10 meses do ano. Mas alguns analistas dizem que o montante pode ser ainda maior, à medida que mais empresas chinesas e pessoas enviam ou transportam yuans diretamente para o exterior, sem convertê-los em dólares antes.

Sheng Songcheng, conselheiro do PBOC, sugeriu que o banco central use parte de suas reservas em moeda estrangeira para manter a confiança do mercado no yuan, segundo uma transcrição de seus comentários num seminário durante o fim de semana em Pequim.

 

Fonte: Dow Jones Newswires/Valor

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