O sabor caseiro do doce de leite de Minas Gerais caiu no gosto de paladares estrangeiros. O estado já é o maior exportador do produto, seguido por São Paulo e Santa Catarina, de acordo com dados do Exportaminas, unidade de comércio exterior do governo. Hoje, a maioria dos empresários são pequenos fabricantes do sul de Minas, com uma história bastante semelhante: quase todos começaram produzindo o doce em tachos, nas cozinhas das fazendas, com o leite de seu próprio rebanho.
Enquanto os pais iniciaram as vendas do produto em bares e pequenos armazéns da região, os filhos, agora, estão engatinhando no mercado exportador. Alguns deles, por enquanto, se valem de tradings para embarcar os lotes de doce de leite, mas a meta é se tornar exportadores diretos rapidamente.
Há 17 anos a família Salles Dias percebeu que o doce de leite que a mãe Albamy preparava para a família agradava toda a vizinhança e amigos, tanto que as encomendas tornaram-se diárias. O doce tipo nata suíça era preparado no porão da própria casa, na Fazenda São Gabriel, zona rural de Machado, Minas Gerais. O negócio deu tão certo que hoje já são 100 colaboradores. “Começamos com 30 litros de leite por dia e hoje são processados mais de 10 mil litros diariamente, superando oito toneladas de doce”, disse Marcos Eduardo Salles Dias, diretor da Reserva de Minas Indústria e Comércio Ltda. e um dos filhos de dona Albamy.
Além do doce de leite, a companhia fabrica seis toneladas, todos os dias, de doces à base de frutas típicas da região, que já conquistaram consumidores em vários países.
A maior dificuldade da Reserva de Minas, nesse momento, é conseguir o registro para os embarques do doce de leite. Enquanto isso, o produto é colocado no mercado externo por intermédio de tradings. Segundo o executivo, a fábrica pleiteia junto ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) o registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) para fazer suas vendas externas. “Temos uma legislação ultrapassada. A mesma lei que rege as exportações de carne vigora para o doce de leite, que não é mais in natura”, queixa-se.
Hoje, 70% do faturamento da empresa vêm do tradicional doce e, desse total, apenas 5% são provenientes das remessas ao exterior, disse Salles Dias, que espera começar as exportações diretas para Nova Jersey, nos Estados Unidos, em dezembro. “O mercado americano tem um potencial incalculável para o nosso doce de leite”, disse.
José Roberto Salles, diretor proprietário do Portão Doce de Leite Cambuí, vive a mesma dificuldade de não poder fazer as vendas diretas para os Estados Unidos. “Estamos em fase de adequação da empresa para passar a exportar diretamente, e isso deve acontecer a partir do final do ano”, conta. O volume exportado hoje é de 500 quilos por mês para Nova Jersey, nos Estados Unidos. “A meta é ampliar os embarques para aquele mercado e conquistar outros países da Europa. Nossa capacidade de produção é de 100 mil toneladas/mês e temos capacidade de dobrar o volume. Hoje é possível embarcar 50 toneladas mensais”, disse.
A fábrica instalada no Bairro do Portão, em Cambuí, sul de Minas, também começou com o pai fazendo doce no tacho e abastecendo bares e armazéns da cidade, na década de 1960. “À época ele fazia cerca de 20 quilos de doce por dia no tacho e essa produção caseira foi até 1994”, disse o diretor, que decidiu fazer engenharia química para cuidar do negócio. Hoje são 50 colaboradores. “Começamos a pensar na possibilidade de exportar a cinco anos, mas há um ano e meio começaram os embarques através de uma trading”, disse o diretor proprietário, que já pensa em abrir franquias nos países breve.
Ricardo Cotta, diretor de relações institucionais da Itambé Alimentos S/A, disse que o doce de leite ainda é um nicho a ser explorado nas exportações. “No acumulado de janeiro a agosto de 2016, por exemplo, o Brasil exportou 30 mil toneladas de lácteos. Desse total, apenas 102 toneladas foram de doce de leite”, afirma. A maior parte dos países não tem hábito de consumo. “Os Estados Unidos são os grandes compradores por conta da quantidade de latinos que lá residem”, disse.
Animada pelo mercado americano, e outra parte pelos países árabes, a Itambé, que exporta o doce há uma década, vê a receita crescer ano a ano. Para se ter uma ideia, das 102 toneladas embarcadas nos primeiros oito meses do ano, segundo Cotta, a empresa mineira foi responsável por 65 toneladas, contra 34 toneladas no mesmo período do ano passado. “Quase dobramos o volume até agora”, comemora. Das sete unidades da Itambé, quatro delas estão em Minas Gerais.
Fonte: Valor Econômico