Após uma indefinição que durou cerca de três meses, o paranaense Tarcísio Hubner assumiu há duas semanas a vice-presidência de Agronegócios do Banco do Brasil, líder absoluto em financiamentos ao setor no país, com a tarefa de dar mais agilidade às operações de crédito rural da instituição. Para isso, aposta em uma receita baseada em desburocratização e tecnologia – ingredientes conhecidos, mas que costumam dar bons resultados.
Funcionário de carreira do BB, onde trabalha há mais de três décadas, Hubner foi escolhido para o novo posto, um dos mais importantes do setor em Brasília, depois de enfrentar forte disputa. É em um mercado onde a concorrência é cada vez mais acirrada, dado o renovado interesse dos bancos privados pelo campo, que terá de impor a agenda definida pelo presidente da instituição, Paulo Caffarelli, antes mesmo de seu nome vir a público.
O Banco do Brasil tem no momento uma carteira de crédito que soma R$ 179.6 bilhões no agronegócio, o que lhe garante uma participação de 61% na área, conforme os dados mais recentes do Banco Central (ver infográfico). É verdade que na década de 1980, um passado já distante, tendo em vista a modernização do setor nas últimas décadas, a fatia chegou a ser de cerca de 90%, mas, mesmo assim, um quinhão para lá de significativo, que o BB não pretende oferecer de bandeja para a concorrência.
Assim, disse Hubner ao Valor, uma das prioridades é fazer com que os financiamentos para custeio agropecuário – principal modalidade de crédito do banco – sejam liberados em apenas um dia, frente a uma demora que, atualmente, pode chegar a semanas ou até meses. Para isso, a ideia do BB é exterminar aos poucos os incontáveis processos em papel, se conectar de vez ao mundo digital e modernizar o atendimento aos produtores rurais do século XXI.
Nesse sentido, uma das primeiras investidas de Hubner, que já estava em curso antes dele se tornar vice-presidente de Agronegócios do BB, será ampliar o projeto “Plantar”, que foi iniciado por seu antecessor – o também paranaense Osmar Dias – e acaba de ser rebatizado para “BB Agro Digital”. Trata-se de um programa interno do banco para digitalizar gradativamente todos os processos de análise e concessão de crédito ao agronegócio.
“Queremos ampliar nossa fatia de mercado, mas para isso o produtor precisa ter uma experiência melhor com o banco e receber respostas mais imediatas”, disse o executivo, que antes de assumir a nova função comandou superintendências regionais do banco em vários estados com vocação rural, como Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Tocantins.
Nesse “rejuvenescimento”, o BB também conta na manga com um aplicativo para celular, o “Geo Mapa Rural”, que já é usado em 700 mil propriedades rurais e poderá chegar a 1 milhão até dezembro, nos cálculos da instituição. A ferramenta permite que o agricultor trace as coordenadas geográficas de sua fazenda por meio de sistema GPS e facilita a aprovação ou a renovação dos financiamentos.
O aplicativo atende a uma norma do Banco Central, em vigor desde o início do ano, que visa a aumentar a fiscalização dos bancos que operam com crédito rural. Mas, na prática, também oferece ao BB a oportunidade de testar um serviço online, afirmou o vice-presidente do banco. Isso num momento em que muitos clientes, inclusive agricultores e pecuaristas, já cultivam o hábito de não frequentar agências bancárias – o próprio banco acaba de anunciar que fechará 402 delas pelo país.
Hubner disse enxergar com bons olhos a entrada de mais instituições privadas no mercado e o aumento da oferta de fontes alternativas de financiamento ao setor, como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio. Mas não acredita que essa tendência vá tirar mercado do BB. “Não vemos nenhuma ameaça à nossa liderança na carteira rural no curto ou médio prazo”.
Em setembro, contudo, os desembolsos do BB de crédito voltado às agroindústrias recuaram 17,8% em relação ao mesmo mês do ano passado, para R$ 30.5 bilhões, por conta das taxas de juros mais elevadas em vigor no Plano Safra 2016/17. E esse é justamente um dos públicos mais disputados pelas instituições privadas, que liberaram R$ 5.3 bilhões às agroindústrias em setembro, quase 13% mais em igual comparação.
De acordo com dados do BC, nos primeiros quatro meses do ciclo atual (julho a outubro), as contratações totais de crédito rural junto aos bancos privados atingiram R$ 20 bilhões, 3,5% mais que no mesmo período do ciclo 2015/16. No caso do BB, houve diminuição de 16,7% para R$ 19.4 bilhões.
Hubner minimizou esses movimentos. Afirmou que, em outubro, o mercado de crédito rural “voltou ao normal”. E que muito do ritmo um pouco menor dos desembolsos do banco no início da presente temporada se deveu aos R$ 10 bilhões liberados pela instituição para pré-custeio da safra no primeiro semestre.
Fonte: Valor Econômico