Debatedores pedem abertura para comércio internacional e ênfase no crescimento

Senador Cristovam Buarque propôs o seminário em homenagem ao economista Werner Baer. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Senador Cristovam Buarque propôs o seminário em homenagem ao economista Werner Baer. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A abertura para o comércio internacional e a ênfase na retomada do crescimento econômico foram defendidas pelos participantes do seminário promovido pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Realizado em homenagem ao professor americano Werner Baer (1931-2016), cujos estudos se centravam na industrialização da América Latina, especialmente do Brasil, o seminário sobre economia brasileira começou pela manhã e avançou pela tarde desta quinta-feira, 29 de setembro. O seminário foi proposto pelo senador Cristovam Buarque.

O professor Edmar Bacha, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), apontou três vetores para o desenvolvimento do comércio internacional: tecnologia de ponta, escala de operação e concorrência. Ele ainda afirmou que, apesar das negativas do Itamaraty, o Brasil é um dos países mais fechados do mundo no comércio.

Para Bacha, algumas possíveis explicações para a não abertura comercial do país podem ser a oposição de interesses locais, as questões históricas e culturais e a complexidade das relações internacionais. Ele ainda lamentou a visão de muitos políticos brasileiros em relação à abertura comercial e informou que a economia brasileira representa 3% do PIB global, mas somente 1,1% das exportações mundiais.

Disse também que a abertura para o comércio internacional não produziria desemprego no país. Na visão do professor, a abertura internacional pode ser positiva para o Brasil, que teria incentivo para o desenvolvimento e melhores produtos e serviços a serem oferecidos ao mercado local.

“Todas as grandes economias do mundo são também grandes exportadoras, como é o caso de Estados Unidos, China e Japão”, afirmou Bacha, que ainda pediu a redução do custo-Brasil, a revisão da carga tributária e o incentivo aos acordos comerciais.

INFERNOS

Para o professor José Márcio Camargo, da PUC-Rio, a mudança de governo foi positiva para o Brasil. Ele disse que “o governo atual pelo menos fala português, ao contrário do anterior que falava o que ninguém entendia”. Segundo Camargo, o foco agora deveria ser a retomada do crescimento econômico. Lembrando a ex-primeira ministra inglesa Margaret Thatcher, o professor disse que “só existem paraísos fiscais porque existem infernos fiscais”. Na visão de Camargo, o Brasil tem vários infernos: inferno fiscal, inferno tributário, inferno regulatório e vários outros.

“Todos esses infernos precisam ser resolvidos, se quisermos crescer a longo prazo, pois esses infernos expulsam os investidores estrangeiros”, ponderou Camargo, que ainda defendeu a globalização como forma de diminuir as desigualdades mundiais, apontando para a drástica redução da pobreza nos países asiáticos nas últimas décadas.

Werner Baer

O economista norte-americano Werner Baer, morto em março deste ano, aos 84 anos, foi professor da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Ele foi um importante estudioso do desenvolvimento econômico da América Latina, com interesse especial pelo Brasil.

O professor Clóvis Cavalcanti, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também disse que o foco no crescimento econômico “que faz sentido”, com elementos que não podem ser medidos, com variáveis qualitativas, como o bem-estar da população. Ele falou da convivência com Werner Baer entre os anos 1960 e 1970, em Pernambuco. O economista foi lembrado pelo interesse em conhecer a realidade econômica da Região por meio da busca de informações junto à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Segundo Cavalcanti, Werner Baer foi um dos maiores responsáveis por tornar Pernambuco um centro de referência em estudos econômicos, especialmente na área de economia ecológica, e também um grande incentivador dos economistas brasileiros da época, convidados por ele para dar aulas como professores visitantes no exterior.

DESIGUALDADES SOCIAIS

Já o professor da Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Amaral Haddad mencionou o papel de Werner Baer na formação de economistas no Brasil e sua preocupação recorrente com o tema das desigualdades regionais no país. Haddad destacou que, desde a década de 1960, Werner Baer tem proporcionado a economistas brasileiros, “sem preconceitos intelectuais”, oportunidades de estudo nas melhores universidades americanas.

“Werner esteve diretamente envolvido com a criação da pós-graduação em Economia no Brasil nos anos 1960 e 1970, além de ter tido papel fundamental no processo de criação da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia, a Anpec”, acrescentou.

PARTICIPAÇÃO

O economista Waldery Rodrigues Júnior, do Ministério da Fazenda, coordenou o seminário. Ele informou que cerca de 150 economistas de vários países — como Japão, Índia, China e Inglaterra — acompanharam a transmissão das palestras pela internet.

O seminário foi realizado de forma interativa, com a possibilidade de participação popular. Vários internautas participaram com perguntas e sugestões. Por meio do portal e-Cidadania, um internauta sugeriu matemática financeira no ensino médio. Cristovam Buarque disse que a sugestão é positiva, mas ressaltou que o tema deveria ser abordado não como disciplina, e sim por meio de palestras ou por meio de ambientes na internet.

Para Cristovam, o Brasil precisa desenvolver um pensamento “pós-econômico”, com ênfase não apenas no crescimento, mas na forma e no destino do crescimento.

“Espero que esse seminário dê início a um movimento, um processo, em favor das ideias de Werner Baer, para o Brasil do futuro”, disse Cristovam, ao encerrar o seminário.

 

Fonte: Agência Senado

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