A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a gigante alemã Bayer deram o pontapé inicial para uma parceria de cinco anos que buscará formas de minimizar perdas provocadas pelo fungo da ferrugem asiática, a doença mais temida pelos produtores de soja, a principal cultura do Brasil.
A parceria público-privada (PPP), que será anunciada formalmente em Londrina (PR), na tarde desta segunda-feira, visará primeiramente juntar esforços no sequenciamento do genoma do fungo Phakopsora pachyrhizi, o causador da ferrugem, um agente mutante que está cada vez mais resistente a fungicidas, elevando custos de agricultores no país, o maior exportador global de soja.
Num segundo momento, quando os pesquisadores tiverem todas as informações sobre a biologia do fungo, eles saberão onde está a resistência do agente, o que pode permitir a elaboração de fungicidas mais eficazes, além de dar um norte para o desenvolvimento de sementes mais resistentes à ferrugem e no futuro, quem sabe, uma soja transgênica com tais características.
“É uma questão de segurança nacional… A ferrugem é uma ameaça… E a soja é um dos pilares da nossa economia. Precisamos preservar isso aí”, afirmou à Reuters o fitopatologista da Embrapa Maurício Meyer.
Os custos gerados pela ferrugem no Brasil são estimados em US$ 2 bilhões por ano, considerando despesas com aplicações de fungicidas e perdas de produtividade. O montante representa cerca de 7% do valor bruto da produção brasileira de soja.
E, se nada for feito, a previsão é de que esses custos aumentem ainda mais, com o fungo cada vez mais resistente a agroquímicos.
“Seria ótimo continuarmos contando com a eficiência dos fungicidas, mas, como eles estão perdendo a eficiência, estamos aumentando as aplicações. Além de aumentar o custo operacional, como não está eficiente o controle, estamos aumentando as perdas com a doença”, disse Meyer.
“O que antigamente era controlado com duas aplicações de fungicidas, hoje usamos quatro e não temos a mesma eficiência”, acrescentou ele, lembrando que fungo, se não combatido, pode reduzir a produtividade de uma lavoura em até 80%.
Com a intensa aplicação de fungicidas no Brasil, outros fungos também estão ficando resistentes a agroquímicos pela seleção natural, como o caso do Corynespora cassiicola, causador da mancha-alvo, que pode reduzir a produtividade da lavoura de soja em 35%.
A parceria da Embrapa também prevê pesquisas sobre o fungo da mancha-alvo, com objetivos semelhantes. “É um outro organismo, mas decidimos colocar no projeto porque é a segunda doença mais importante, para poder dar uma solução integrada”, comentou o gerente de Desenvolvimento Avançado de Fungicidas da Bayer, Rogério Bortolan.
“O que almejamos com a parceria é ir no nível de detalhes, saber por que ocorre a resistência ao fungicida, por que o fungo perde a sensibilidade a determinados químicos”, disse Bortolan, ressaltando que o sequenciamento do genoma do fungo permitirá ainda um manejo adequado e “customizado” da lavoura dependendo da região, com a aplicação do fungicida correto.
Genoma
O sequenciamento, importante etapa inicial da pesquisa, envolverá outras instituições de pesquisa e já começou, quase que simultaneamente à parceria entre a Embrapa e a Bayer, segundo o fitopatologista da empresa estatal.
Além da Embrapa e da Bayer, participam do trabalho o Joint Genome Institute (JGI), do governo dos Estados Unidos, e a INRA, instituição de pesquisa da França.
A parceria com a Embrapa prevê que os resultados das pesquisas sejam públicos, permitindo que toda a comunidade científica desfrute das informações obtidas, mas o gerente da Bayer acredita que a companhia poderá se beneficiar dos resultados.
“Vamos sair na frente e vamos manter a nossa missão, vamos ganhar em inovação. O grande objetivo da Bayer é isso, ir além. Inovar é fazer algo como uma parceria dessa…”, disse ele.
Bortolan acredita ainda que a empresa poderá eventualmente antecipar uma linha de pesquisa, enquanto os estudos estão sendo desenvolvidos.
O gerente da Bayer não revelou os montantes que serão investidos na parceria. Já a Embrapa não fará aportes financeiros, participando com seus pesquisadores e estrutura.
A empresa estatal dispõe, por exemplo, de um banco de dados de fungos desde a safra 2004, quando a ferrugem havia sido identificada havia poucos anos no Brasil, numa época que o agente da doença ainda não havia sido exposto aos fungicidas, o que pode auxiliar nas pesquisas.
Fonte: Reuters