A produção de ração animal no País, ao longo do primeiro semestre, registrou aumento de 3,2%, com a fabricação de 33.3 milhões de toneladas. Apesar do incremento, a expectativa para os seis últimos meses do ano é de queda na produção nacional. A demanda menor ocorrerá, principalmente, pela redução do ritmo das cadeias produtivas de proteína animal, prejudicadas pelo alto custo dos insumos utilizados na alimentação, e pelo menor poder de compra do consumidor de carnes e leite. Os dados foram divulgados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
A expectativa de recuo também é esperada na demanda proveniente de Minas Gerais, que tem grande representatividade na produção de frango, suínos e bovinos de corte e de leite. O milho e a soja, principais insumos utilizados na fabricação de ração, apresentaram valorização nos preços de 81% e 53%, respectivamente, ao longo do primeiro semestre.
De acordo com o vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, o aumento na produção de ração ao longo do primeiro semestre surpreendeu o setor, que acreditava em retração ou pelo menos manutenção dos resultados obtidos em igual semestre de 2015. As condições desfavoráveis para a produção de proteína animal, principalmente os custos elevados e a demanda interna enfraquecida, são justificativas que poderiam ter prejudicado o setor produtivo de ração animal.
“Todos os fundamentos levavam a um retrocesso ou pelo menos a um volume demandado de ração parecido com o que se deu no primeiro semestre do ano passado. Isto porque as condições das cadeias produtivas da pecuária são as mais inóspitas e prejudicais possíveis, como o alto custo dos principais insumos, que são o milho e o farelo de soja, e a capacidade de consumo absurdamente comprometida pelo desemprego, falta de crédito e inflação alta”.
Ainda segundo Zani, para agravar ainda mais a situação, no cenário internacional, as cadeias produtivas de aves e suínos, que são muito bem-sucedidas, tiveram a competitividade exportadora reduzida com a valorização do real frente ao dólar observada ao longo do segundo trimestre.
“Com todo este cenário negativo, a demanda pela ração deveria ter recuado. Por isso, ainda trabalhamos com expectativa de que no segundo semestre isso se dará. O efeito de um recuo, que já é conhecido nos alojamentos, ocorrerá com maior intensidade no terceiro trimestre, já que no quarto a demanda é aquecida pelas festas de fim de ano. A tendência é que a retração seja compensada com o crescimento de 3% registrado no primeiro semestre e, com isso, vamos encerrar o ano com volume bem próximo a 2015, que ficou em torno de 67 milhões de toneladas de ração”, disse Zani.
Mercado de aves e suínos surpreendeu
Segundo dados do Sindirações, durante o primeiro semestre o setor de frango de corte demandou 16,8 milhões de toneladas de rações, um avanço de 4,2%. O resultado se deve ao alojamento de pintainhos, que crescia 4,7% até maio, e às exportações em alta de carne de frango, negociação favorecida pelo real desvalorizado e por novas oportunidades globais.
A produção de rações para galinhas de postura somou 2.6 milhões de toneladas, alta de 2%. O crescimento foi impulsionado pelas exportações e pelo consumo interno maior de ovos.
A forte recuperação das exportações de carne suína e a maior procura do consumidor em virtude dos preços mais acessíveis que os a carne bovina, aliadas ao abate de animais mais leves, em função dos custos elevados, fizeram com que a demanda por ração alcançasse 7.9 milhões de toneladas de ração durante o primeiro semestre, alta de 6%, frente igual período do ano anterior.
Tanto para as aves como para os suínos, a expectativa para os últimos seis meses do ano é de retração na demanda por ração. Além dos custos ainda elevados, o comprometimento da renda familiar continuará a interferir no consumo.
De acordo com o vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, o produtor apostou até o último momento na manutenção da produção. Ele explica que, no segundo trimestre, mesmo com os custos mais altos, os avicultores e suinocultores ainda acreditaram que poderia vir momentos melhores, que a safra de inverno de milho traria oferta suficiente para esfriar os preços deste insumo, mas que foi frustrada por problemas climáticos.
“Além das perdas produtivas, as exportações recordes do cereal exauriram a oferta doméstica do grão e os preços permaneceram muito altos. O repasse deste custo elevado não se deu porque o consumidor não tem condições de pagar. Então, houve uma deterioração da remuneração dos produtores e desestimulou a produção, que no segundo semestre será reprimida”, explicou.
Pecuária de leite e corte reduziu consumo
Ao contrário da suinocultura e da avicultura, a demanda por ração na pecuária de leite e de corte recuou no primeiro semestre. Os dados do Sindirações mostram que na pecuária de corte foi registrada queda de 4,3% na demanda por ração, que somou 1.18 milhão de toneladas. Já a demanda proveniente do rebanho leiteiro somou 2.4 milhões de toneladas, queda de 5,5%.
De acordo com vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, o cenário de demanda mais fraca proveniente dos bovinos está mais adequado à realidade. “O confinamento fica menor pela dificuldade de o consumidor comprar a carne bovina, que está com preços elevados, e pela dificuldade do produtor em renovar ou substituir o boi acabado pelo bezerro, que teve os preços alavancados em função da baixa oferta. Como no sistema de confinamento o animal depende do concentrado, alimentação a base de milho e de soja, o produtor está desestimulado com os altos custos do insumo. Por isso, o cenário para a comercialização de ração deve permanecer em queda”, explicou.
No caso dos bovinos de leite, Zani acredita que a maior renumeração obtida pelo pecuarista ao longo dos últimos meses possa estimular novos investimentos na nutrição do rebanho. Mas, devido à conjuntura atual, não é possível afirmar se a demanda por ração será maior. Os preços ainda elevados do milho e da soja e a demanda menor por parte do consumidor podem interferir na decisão dos pecuaristas.
“O produtor viveu um momento de recuperação da renda e pode ser que volte a investir em nutrição, o que aumentaria a demanda de ração no segundo semestre. Difícil virar a queda acumulada, mas pode compensar. É uma previsão que ainda vai depender o humor do produtor e de uma resposta do consumidor no varejo”, disse Zani.
Fonte: Agrolink