A boa oferta disponível e os ganhos de competitividade derivados da forte desvalorização do real, sobretudo no primeiro trimestre, levaram a soja brasileira a registrar patamar recorde de participação nas importações da China nos primeiros sete meses do ano.
Do total de 46.3 milhões de toneladas compradas pelos chineses no exterior no período – 3,8% mais que de janeiro a julho de 2015 -, 26.8 milhões foram originadas no Brasil, um aumento de 19,9% na comparação, de acordo com dados do serviço alfandegário do país asiático. A fatia brasileira no volume acumulado, portanto, chegou a 57,9%.
Enquanto isso, os outros dois tradicionais fornecedores do grão para o mercado chinês perderam espaço. As importações desde os EUA alcançaram 15.8 milhões de toneladas de janeiro a julho, 7,2% menos que em igual intervalo do ano passado, e representaram 34% do total. Já as compras chinesas de soja argentina somaram 2.5 milhões de toneladas, 29,1% abaixo dos primeiros sete meses de 2015 e volume equivalente a 5,4% do total.
Ricardo Borges dos Santos, analista da corretora gaúcha Mercado, está entre os que atribuem esse avanço brasileiro exclusivamente ao câmbio. Com o dólar em torno de R$ 3,80 no início do ano – houve picos de R$ 4,00 em janeiro e fevereiro – a soja brasileira pesou menos no bolso dos asiáticos, que deixaram americanos e argentinos de lado.
Com isso, em alguns momentos deste ano a participação brasileira nas importações de soja da China superou 90%. Em julho, quando as compras de soja do Brasil pelo país asiático atingiram “apenas” 6 milhões de toneladas (6,2% menos que em julho de 2015), a fatia brasileira no total foi a 77,1%.
Boa parte dos embarques efetivados em julho foi negociada meses antes, daí porque volume e participação continuaram expressivos apesar da valorização do real sobre o dólar. “Essa relação deve mudar a partir de agora. Em primeiro lugar porque o dólar está mais próximo a R$ 3,25, mas também porque os EUA deverão colher uma safra recorde [neste ciclo 2016/17] e essa oferta começará a entrar no mercado em setembro, o que fará os preços caírem na bolsa de Chicago e no mercado físico”, disse Santos.
Segundo ele, há também, no momento, uma retração de vendas por produtores e cooperativas no Brasil, que estão capitalizados e não têm pressa em negociar. “Com o dólar no patamar atual, a saca da soja está próxima a R$ 83,00 no porto de Paranaguá, no Paraná. Mas o valor chegou a R$ 76,00 na semana passada e, em junho, estava a R$ 97,00”.
Fonte: Valor