A cadeia produtiva da pecuária de corte passa por momentos de incerteza. Com a queda de consumo de carne bovina, as indústrias têm encontrado dificuldades para escoar a produção e feito pressão pela queda de preços do boi gordo. Em contrapartida, a baixa oferta de animais terminados tem limitado uma grande desvalorização da arroba nos últimos meses.
Entre os reflexos desse cenário, o preço do bezerro – amplamente valorizado nos últimos dois anos – caiu 6,5% em junho na comparação com o mesmo mês em 2015. De acordo com Lygia Pimentel, o recuo no preço da categoria indica que a virada do ciclo da pecuária já aconteceu. “O bezerro é o termômetro da virada. Essa redução de preços deve alcançar o boi gordo no início do próximo ano”, destaca.
Segundo a analista, a constatação se dá pelo aumento da oferta de animais no mercado em função da redução de compra dos frigoríficos. Ela afirma que esse volume deve ser ainda maior. “Nos próximos meses devemos ter mais oferta de animais desmamados, filhos das matrizes retidas nos dois últimos anos. Ainda podemos ter picos sazonais de alta no preço do boi gordo em 2017, mas eles não serão suficientes para equilibrar o aumento dos custos em função da inflação”, avalia.
O cenário da cadeia é agravado pela redução do volume de exportações de carne bovina nas últimas semanas, o que tem prejudicado ainda mais a situação da indústria, que tem na venda externa a válvula de escape para o escoamento da carne que deixou de ser consumida no mercado interno. “Corremos o risco de termos carne estocada nos mercados por falta de consumo e alta na arroba por falta de boi”, prevê Lygia Pimentel.
No início desta semana, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) divulgou nota alertando para a ameaça de crise nos frigoríficos em função da redução do consumo interno, queda no volume de exportações e baixo preço pago pelos exportadores à carne brasileira. “É a primeira vez que passamos por algo desse tipo. Não sabemos o que pode acontecer nem as soluções para esses problemas“, concluiu a analista.
Papel chave
Alex Lopes, analista de mercado da Scot Consultoria, coloca a definição do atual cenário político brasileiro como principal fator de influência na pecuária para o segundo semestre. “Todas as previsões estão atreladas às definições do impeachment. Após sabermos quem será o presidente, possivelmente teremos uma alta ou queda no preço do dólar, facilitando ou prejudicando as exportações. Isso também influenciará a confiança da população e pode causar um ligeiro aumento no consumo interno”, avalia.
Lopes, porém acredita que ainda não estamos no momento da virada do ciclo da pecuária e que a queda na cotação do bezerro é uma correção da valorização da categoria nos últimos dois anos. “Ainda não temos uma grande oferta bezerros no mercado, o que causa a virada de ciclo. Isso só deve acontecer no próximo ano”.
Fonte: Portal DBO