O avanço do plantio de grãos em áreas novas no oeste da Bahia deve ser pequeno na safra 2016/2017. Produtores citaram os prejuízos decorrentes do clima na temporada 2015/2016, o endividamento e a dificuldade de obter crédito como motivos para justificar a cautela. O oeste baiano, uma das mais importantes áreas de produção da nova fronteira agrícola, formada pelos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia (Mapitoba), chegava a apresentar no início da década um aumento de 8% ao ano na área plantada com soja, milho e algodão. Na atual temporada, esse porcentual caiu para 1,2%, segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA).
“O solo muito pobre na região exige grande investimento no processo de fertilização e, principalmente, de aumento de matéria orgânica no solo. Isso demora em torno de 4 a 5 anos”, disse o presidente da AIBA, Júlio Cézar Busato. O mesmo movimento de contenção dos investimentos é percebido junto às grandes empresas do agronegócio, algumas delas de capital aberto como SLC Agrícola, Vanguarda Agro e BrasilAgro, que nos últimos balanços relataram menor investimentos em áreas novas não só no oeste baiano como nas demais áreas do Matopiba.
“A abertura de áreas, neste momento, não ocorre com a intensidade que vinha acontecendo”, reforçou a presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, Carminha Missio. “Como o custo é elevado, produtor se detém no máximo de tecnologia possível para aumentar sua produtividade na mesma área e deve deixar a abertura de áreas para um momento mais favorável.”
Busato destaca que expandir a área cultivada representa aumento do risco para o produtor, porque a produtividade nas áreas novas é menor mesmo que o clima seja favorável. Em períodos de chuva ideal – acima da média de 1 mil mm – o rendimento das lavouras novas de soja é de 35/40 sacas por hectare. Nas áreas mais antigas o potencial chega a 60 sacas por hectare. O dirigente lembra que áreas novas tendem a sentir mais os efeitos da seca.
Para a temporada 2015/2016, que oficialmente começa em 1º de julho, mas no Mapitoba tem o plantio iniciado no fim de outubro, a cautela ganha força porque a manifestação do fenômeno climático La Niña ainda não está confirmada. Sua principal característica é o aumento do volume de chuvas no oeste baiano.
Sem o La Niña, os períodos de seca são uma ameaça significativa para as lavouras semeadas em novas áreas. Na estimativa da AIBA, 18 dias sem chuva tendem a reduzir a produtividade da soja para 20 sacas por hectare. Se a seca chegar a 25 dias, o rendimento cai para 18 sacas por hectare. Em áreas consolidadas da região, o impacto de estiagem de até 20 dias é pontual.
“Secas de mais de 30 dias fazem com que as áreas novas colham entre 8 e 12 sacas por hectare de soja, mas as áreas mais antigas ainda obtêm rendimentos na faixa de 40 sacas/hectare”, assinalou Busato. “A diferença econômica é brutal. Em um momento em que existe uma dificuldade de crédito e um endividamento por parte dos produtores não se pode correr esse tipo de risco.”
Terras
Carminha, do sindicato da cidade, diz que o menor ritmo de expansão do plantio em áreas novas do oeste baiano contribuiu para que o preço das terras na região se estabilizasse. “Estávamos sofrendo uma especulação muito grande. Essa dificuldade em abertura limita esse movimento”, ressaltou.
Quanto à possibilidade de compra de terras por estrangeiros, que vem sendo discutida no âmbito da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e tem o apoio do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a dirigente volta a destacar o receio quanto à especulação.
“Os produtores são muito preocupados em relação a isso porque não têm o poder de opinar sobre quem vai investir na região.” Ela diz que o setor produtivo local tentará evitar que as normas sejam demasiadamente flexibilizadas para atrair investimento estrangeiro em terras. “Isso é uma cobrança que tem chegado a nós. Estamos atentos, mas ainda não formalizamos nada até este momento.”
Busato, por sua vez, é favorável à liberação aos estrangeiros, mas com restrições. “Particularmente – e esta não é uma opinião da associação -, sou a favor de abrir a compra de terras a estrangeiros.” Ele acrescenta que as restrições estão sendo discutidas na FPA. “Isso vai permitir maior acesso a crédito para os produtores brasileiros, pois hoje nós não podemos dar nossas áreas em garantia para um grupo estrangeiro que queira investir na região. E também vai valorizar as nossas áreas.”
Fonte: Globo Rural