Conhecida como a “a capital nacional do petróleo”, Macaé, no Norte Fluminense, tem se destacado em razão de outra produção – a de água. Com incentivos do Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura e Pecuária, agricultores implantaram projetos de proteção de nascentes e estão melhorando a eficiência produtiva em suas propriedades. Em Macaé, 58 fontes de água foram conservadas graças à campanha Água Limpa para o Rio Olímpico, lançada pela secretaria estadual de Agricultura para conscientizar estimular a preservação dos recursos hídricos no campo.
Para produtores como Ercília Honorato, da microbacia Canal Jurumirim, não é apenas o resultado na lavoura que importa. Com 67 anos, ela realizou um sonho ao proteger uma nascente de água em seu sítio, localizado no assentamento Prefeito Celso Daniel, que fica em uma área de planície em Macaé. “Quando cheguei, há seis anos, o que vi foi desolador. O terreno estava seco, arrasado, sem verde e com a fonte de água secando. Sentia uma grande vontade em meu coração de ver uma mata bonita e com água. Hoje, isso está acontecendo”, afirma Ercília.
O cenário de devastação sobre o qual Ercília Honorato comenta tem ligação histórica com o passado da região. Assim como outras cidades do Norte e do Noroeste Fluminense, a zona rural de Macaé ainda sofre com os efeitos da era da monocultura e das sucessivas queimadas comuns às lavouras de cana-de-açúcar.
A produtora afirma que o Rio Rural surgiu em boa hora, pois é através dos projetos sistema agroflorestal (SAF) e proteção de nascentes que ela está conseguindo mudar o cenário em sua propriedade. Para conservar a fonte de água, Ercília aplicou o incentivo de R$ 2.420, recebido do Rio Rural, na compra de materiais para cercamento da área de meio hectare. Hercília conta que antes não havia dinheiro para fazer o isolamento do espaço, que era invadido com frequência pelo rebanho de vizinhos e pelas crianças da comunidade, que jogavam futebol.
A técnica executora do Rio Rural na microbacia Canal Jurumirim, Ana Rita Rangel, reitera que o isolamento da nascente, sem o plantio de mudas, foi uma decisão estratégica. “Havia algum resquício de vegetação na área e se conseguíssemos impedir a entrada de animais e pessoas, a própria natureza ia se regenerar, mesmo lentamente”, explica a funcionária da Emater-Rio. Em função disso, o plantio de mudas de árvores nativas foi feito somente na área de implementação do SAF, em uma parte mais alta da propriedade.
Dessa forma, segundo a técnica, haveria mais chances de enriquecimento da nascente, já que o sistema agroflorestal está dentro da mesma bacia de captação da água de chuva e isso estimula a conservação de umidade no solo.
Benefícios para a lavoura e para o meio ambiente
Ercília Honorato possui uma lavoura orgânica, na qual produz couve, cebolinha e salsa. As hortaliças são fornecidas para escolas públicas de Macaé, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Ela garante que, dois anos depois da conservação da nascente, a produtividade é diferente em função do enriquecimento da terra.
“Tivemos secas radicais aqui e o produto orgânico é bastante sensível. Meus vizinhos, que não tinham isolamento de nascente, ficaram sem água. Na minha propriedade, a água chegou a ficar fraquinha, mas não deixamos de tê-la. Eu podia ter perdido tudo. Hoje, meu solo é bem mais rico e os alimentos são melhores”, comenta.
Ercília revela também que o ecossistema na propriedade está mudando. Com a absorção maior de umidade, em função do isolamento da nascente e do SAF, animais silvestres estão sendo atraídos para o sítio, pois encontram conforto térmico e comida na mata que está se formando.
Ana Rita Rangel, que também é engenheira agrônoma, informa que a nascente do sítio de Ercília pode ganhar ainda mais vigor se a vizinhança cooperar. “Não basta isolar o entorno da nascente. Teremos sempre mais água se a bacia de captação, que inclui outros terrenos, estiver mais cheia. Se as pessoas entenderem a importância de deixar o capim crescer e usar compostagem, por exemplo, estarão utilizando boas práticas que mantêm a umidade no solo”, completa.
Bons resultados também na serra
Produtores da região de serra em Macaé também têm tido resultados expressivos com a proteção de nascentes. É o caso de Edmar Alves, na microbacia Alto São Pedro, que mantém cinco nascentes de água em sua propriedade.
Apenas uma não estava protegida. Com o incentivo do Rio Rural, o produtor conseguiu fazer o isolamento dessa fonte de água que, segundo ele, estava em estado crítico. “Há dois anos, o vale no qual fica essa nascente era um grande buraco de terra vermelha. Não havia verde e a fonte estava secando. Foi quando conseguimos isolar a área.
Juntei mais algum dinheiro do meu bolso e plantei 1.200 mudas de sansão do campo, que cresce rápido e ajuda a fechar a mata”, afirma Alves.
A nascente protegida pelo Rio Rural abastece duas casas e ainda sobra água para irrigação das lavouras de limão, maracujá, tangerina ponkan e goiaba, frutas que são consumidas pela família. O produtor Edmar acoplou um encanamento em local estratégico que recebe a água que desce da nascente. “Uma vez por dia, ligo o registro e a água vai escorrendo pelas valetas, molhando os pés das plantas. Não falta água aqui, diferente do que já aconteceu em algumas propriedades ao redor”, detalha o produtor.
“Por ser área de morro, sugerimos que o agricultor aproveitasse esse recurso e fizesse essa irrigação por gravidade, o que deu muito certo”, comemora Domingos Martins, técnico executor do Rio Rural na microbacia Alto São Pedro.
Fonte: Assessoria de Imprensa/Programa Rio Rural