Em Tapinoã, na microbacia do Piri-piri, município de Araruama, nas Baixadas Litorâneas do Rio de Janeiro, o feijão é muito mais do que o tradicional acompanhamento do arroz nas refeições. Lá, a troca de sementes faz parte da história das famílias, fato que foi identificado e estimulado pelo Programa Rio Rural, da Secretaria de Agricultura do estado.
Tapinoã tem se destacado na preservação da variedade de feijão xodó, que é considerado uma semente crioula, uma variedade que se manteve tradicionalmente por meio da cultura de troca entre os agricultores familiares. A variedade xodó está presente no Rio de Janeiro há mais de 30 anos e atualmente é a mais utilizada no estado, um dos maiores consumidores de feijão do país, registrando mais de 350 mil toneladas do grão por ano.
“Meus pais e avós sempre plantaram feijão, milho, arroz. Com a chegada do subprojeto do Rio Rural, passamos a fazer uma reserva, separando e preparando parte das sementes quando colhemos para um novo plantio”, conta Aluirde dos Santos Teixeira, agricultora da localidade.
Unidade de observação
Ao identificar a importância econômica, social e cultural das sementes para a comunidade de Tapinoã, a Emater-Rio, executora do Rio Rural, buscou parcerias para apoiar e impulsionar o potencial local. Além da secretaria municipal de Agricultura, a Pesagro-Rio também se interessou por alavancar a tradição de preservação de sementes e estudar a adaptação de outras variedades na localidade.
Ao longo de três anos, a propriedade do agricultor familiar Roberto Figueiredo se configurou como uma unidade de observação para a Pesagro-Rio, que testou outros 11 tipos de variedades de feijão, em produção totalmente orgânica. O resultado foi a identificação de duas outras variedades, além do feijão xodó, que apresentam alta produtividade.
“O objetivo é trazer para a comunidade sementes de boa qualidade técnica e também mais resistentes para condições adversas, como a escassez hídrica observada no ano passado”, informa Benedito de Souza Filho, engenheiro agrônomo e pesquisador da Pesagro-Rio.
Ele informou ainda que a metodologia implantada para a análise das sementes de feijão foi exclusiva, e agora poderá ser utilizada para a análise de outros alimentos, inclusive em Tapinoã. As variedades de feijão mais produtivas identificadas na pesquisa serão compartilhadas com outros produtores da comunidade para o plantio deste ano, que ocorre neste mês de março.
Saúde e autoestima
Segundo Vera Regina Câmara, bióloga e extensionista da Emater-Rio responsável por atender os agricultores de Tapinoã, o trabalho vem fortalecendo a tradição já existente no local. “Encontramos nessa comunidade um ambiente favorável, com pessoas que gostam da cultura do feijão e da preservação das sementes”, destacou.
A extensionista explicou que os agricultores familiares de Tapinoã também se destacam pela preocupação em diminuir o uso de agrotóxicos na produção de feijão. Grande parte dos incentivos do Rio Rural na comunidade é destinada a subprojetos de adubação orgânica.
A agricultora Edna Pereira dos Santos, moradora do local, confirma que a tradição da cultura do feijão em Tapinoã inclui a preocupação com a sustentabilidade. “É amor o que nós temos pelas sementes. Guardar, cultivar, alimentar sua família sem veneno, sabendo que é um alimento saudável, é muito importante para todos. E quando sobra, dá para complementar a renda da família. É um bem sustentável”, conclui.
Ano das leguminosas
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou oficialmente 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas. O objetivo é divulgar os benefícios à saúde dos legumes secos, como os vários tipos de feijão, grão-de-bico, ervilha, soja, lentilha e fava, que têm alto valor proteico.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, esses alimentos contribuem de forma significativa para combater a fome e a desnutrição frente aos desafios ambientais e de saúde, em particular na América Latina, África e Ásia. Além do uso na alimentação, as leguminosas são importantes para a manutenção da qualidade e produtividade das lavouras, pois contribuem naturalmente para a fixação de nitrogênio no solo, um dos principais nutrientes das plantas.
Fonte: Assessoria de Comunicação/Programa Rio Rural