O dólar fechou em queda nesta terça-feira e foi negociado abaixo de R$ 3,95 pela primeira vez em quase três semanas, reagindo a expectativas de novos estímulos na China, à alta dos preços do petróleo e a uma rodada de indicadores econômicos positivos nos Estados Unidos.
O dólar comercial fechou em baixa de 1,56%, cotado a R$ 3,9404 para compra e a R$ 3,9411 para venda, menor cotação de fechamento desde 10 de fevereiro (R$ 3,9355). Com isso, a moeda norte-americana anulou a alta acumulada no ano até a véspera e passou a cair 0,17%.
“O mercado já estava em um embalo positivo desde manhã e os dados dos EUA deram mais combustível para esse movimento”, disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
No início da tarde, foi divulgado que o setor industrial dos Estados Unidos contraiu em fevereiro, mas em ritmo mais lento do que no mês anterior. Além disso, os gastos com construção no país atingiram em janeiro o nível mais alto desde 2007.
Operadores afirmaram que os números foram fortes o suficiente para alimentar a demanda por ativos de risco, mas não para autorizar aumentos de juros do Federal Reserve tão cedo.
“Foi o tom ideal: nem forte demais, nem fraco demais”, resumiu o operador de uma corretora internacional.
A melhora nos mercados externos já vinha desde a véspera, quando o banco central da China cortou as taxas de compulsório para tentar aquecer a economia. O movimento se sobrepôs até à rodada de números fracos sobre a segunda maior economia do mundo, que alguns operadores afirmaram aumentar a chance de o país adotar ainda mais estímulos.
“O otimismo com a China continua ajudando moedas emergentes hoje, mesmo depois de alguns dados fracos”, disse o operador da corretora Correparti Ricardo Gomes da Silva.
No Brasil, o início da rolagem dos swaps cambiais do BC que vencem em abril, com venda integral de 9.600 contratos, também contribuiu para trazer alívio ao mercado. Se mantiver o ritmo e vender a oferta integral até o penúltimo pregão do mês, como de praxe, a autoridade rolará integralmente o lote de abril de US$ 10.092 bilhões.
Os mercados brasileiros têm apresentado bastante volatilidade em meio ao quadro político incerto e às investigações de corrupção no País. O alívio recente nas cotações da moeda norte-americana vem após a divisa haver atingindo a sua cotação máxima histórica de fechamento a R$ 4,1655 em janeiro.
No mercado internacional, por volta das 20h (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em leve alta de 0,06%, cotado aos 98,34 pontos, enquanto o euro estava estável, cotado a US$ 1,0867.
Juros futuros recuam na véspera da decisão do COPOM
Os contratos futuros de taxas de juros recuaram na BM&F, com o mercado ajustando as posições para a reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), que começa nesta terça-feira e termina amanhã. A melhora do apetite por ativos de risco no mercado externo também contribuiu para a queda das taxas, especialmente dos contratos com vencimentos mais longos.
Descartada a possibilidade de alta da taxa Selic neste ano, o mercado já começa a discutir quando o Banco Central deve cortar a taxa básica de juros, com a curva a termo já refletindo pela primeira vez a possibilidade de corte da Selic neste ano.
O DI janeiro/2017 caiu de 14,18% para 14,025% no fechamento do pregão regular, enquanto o DI janeiro/2018 recuou de 14,56% para 14,30%. E o DI janeiro/2021 teve queda de 15,58% para 15,43%.
A curva de juros embute 90% de probabilidade de estabilidade da Selic em 14,25% na decisão do COPOM de amanhã, mas já começa a refletir a possibilidade de cortes de juros a partir de junho.
Apesar de ver a possibilidade de desinflação de 2% ao longo deste semestre, em parte pela perspectiva de menor reajuste de administrados e pelo efeito desinflacionário vindo do exterior, o BC tem sinalizado que não há espaço para um corte de juros neste momento.
Para Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong, o cenário de atividade está muito ruim, mas a inflação corrente ainda não dá sinais de acomodação. Segundo ele, se a decisão do Copom for unânime pode fortalecer as apostas na queda da taxa Selic já no primeiro semestre.
Nas duas últimas reuniões do Copom, a decisão não foi unânime, com os diretores Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon votando pela elevação da Selic para 14,75%. “Acho que a decisão será unânime e isso pode levar o mercado a entender que uma queda de juros está mais próxima”, afirma Christiano Clemente, diretor operacional da Tullet Prebon. Para ele, o BC não deve alterar o comunicado e sinalizar a possibilidade de corte da Selic já na reunião de abril.
O mercado segue acompanhando o noticiário político. A aproximação das investigações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu certo fôlego às discussões em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que tem contribuído para o desempenho positivo dos ativos domésticos, com o mercado apostando em uma mudança da política econômica.
Hoje Delcídio do Amaral (PT-MS) renunciou à presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O requerimento do senador foi lido em Plenário por José Medeiros (PPS-MT), que presidiu o início da sessão. No documento, Delcídio explica que abre mão do cargo porque precisa “se concentrar na apresentação de sua defesa junto ao Conselho de Ética da Casa, no pleno restabelecimento de sua saúde e no retorno à base eleitoral que representa, em Mato Grosso do Sul”.
A saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça, que para a oposição ocorreu devido a pressões internas do PT, gerou uma apreensão no mercado em relação à continuidade das investigações da Operação Lava-Jato. O novo ministro, Wellington César Lima e Silva, é ligado ao ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, que na véspera fez firme defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, oficialmente investigado pela Lava-Jato.
Essa incerteza no cenário político e fiscal tem levado os investidores a concentrarem a demanda por títulos públicos com vencimentos mais curtos. Hoje o Tesouro Nacional não conseguiu colocar muitos papéis com vencimentos mais longos no leilão de Notas do Tesouro nacional – série B (NTN-B).
O Tesouro vendeu nesta terça 1.297.400 NTN-B de um total de 2.8 milhões de títulos ofertados, cuja operação somou R$ 3.595 bilhões. Desse total, 84,75% dos títulos vendidos, ou 1.099.600 NTN-B (R$ 3.090 bilhões) foram colocadas para o vencimento mais curto, 15 de maio de 2021.