Após um 2015 positivo para o mercado de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), a expectativa é que 2016 siga o mesmo ritmo. O ano já começa com uma operação engatilhada e a Bayer está perto de finalizar uma emissão de cerca de R$ 100 milhões, com vencimento em dois anos e dez meses e remuneração de até 109% da taxa interbancária (CDI) ao ano.
“Os grandes concorrentes continuam sendo os títulos públicos, dado o nível atual da taxa de juros. Teremos operações boas e bem estruturadas, mas não acho que vá chover demanda de investidores”, disse João Paulo Pacífico, do grupo Gaia, que espera realizar de seis a oito emissões de CRA neste ano.
O aumento das emissões de CRAs no ano passado abriu espaço para a atuação de empresas de securitização que ainda não estavam na área. Tradicionais na securitização imobiliária, em 2015 a RB Capital e a Brazilian Securities fizeram, por exemplo, as suas primeiras emissões de CRA e levantaram para seus clientes cerca de R$ 800 milhões com o instrumento. Até 2014, o mercado de títulos de agronegócio era dominado por nomes como EcoSec, GaiaAgro e Octante.
A RB Capital levantou R$ 108 milhões com a emissão de CRA do Burger King em setembro, com prazo de três anos e meio. Já a Brazilian Securities, do grupo Pan, fez três operações que ficaram dentro de casa e levantaram R$ 700 milhões, com a securitização dos recebíveis do BTG Pactual Commodities, do grupo controlador.
“Até 2013 esse mercado não existia e, em meados de 2014, identificamos um potencial de crescimento e decidimos mudar o nosso objeto social para atuar na área”, afirma George Verras, diretor da Brazilian Securities, que fez as primeiras operações no quarto trimestre do ano passado. “Vimos um alinhamento de interesses entre o investidor que procura o papel com benefício fiscal e das empresas que procuram o CRA como instrumento de funding”, disse.
As securitizadoras mais tradicionais de CRA acabam atuando com focos diferentes, de acordo com uma fonte do setor. A Octante busca operações com rating “AAA”, a Gaia em uma faixa intermediária e a EcoAgro privilegia operações consideradas de alto risco. A Brasil Agrosec é considerara menos ativa, enquanto a RB Capital e a Brazilian Securities ainda são novatas na estruturação dessas ofertas.
As emissões cresceram junto com a demanda das pessoas físicas pelos instrumentos incentivados, que contam com isenção de imposto de renda, e pela maior procura de grandes empresas. Para as emissoras, o pano de fundo é a restrição do crédito bancário tradicional no País e o mercado de bônus fechado no exterior. O estoque de CRAs era de R$ 6.39 bilhões no fim de dezembro, contra R$ 2.05 bilhões no encerramento de 2014, de acordo com dados da CETIP. O expressivo crescimento passa de 200% e começa a fomentar o mercado secundário desses títulos, cujo volume negociado avançou 39,2% e totalizou R$ 3.17 bilhões no ano passado.
“O CRA talvez seja mais versátil que o CRI [certificados de recebíveis imobiliários], porque o lastro é mais versátil na medida em que você tem atuações no agronegócio em diversas frentes. Isso tende a ser componente de atratividade para os investidores”, disse Marcelo Michaluá, da RB Capital. “Nós fizemos a operação de Burger King que considerou a compra de carne, insumo dos hambúrgueres. A companhia usou essa alternativa em vez de ir ao banco levantar [recursos para o] caixa”, completou.
Uma das primeiras emissões desde o aquecimento desse mercado foi feita no fim de 2014 pela Raízen e movimentou R$ 675 milhões em duas tranches: uma série de cinco anos e outra de sete. Essa oferta abriu o caminho para as demais. No ano passado, as gigantes BRF e Fibria estrearam nos títulos do agronegócio. A BRF levantou R$ 1 bilhão e a Fibria, R$ 675 milhões. Menos óbvias, JSL, da área de logística, e Burger King também buscaram esse funding no ano passado.
O desempenho desse mercado chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que começa a preparar regulação específica para os títulos, que até hoje seguem as regras dos certificados de recebíveis imobiliários (CRI). O presidente da autarquia, Leonardo Pereira, já reconheceu que o agronegócio é relevante para a economia brasileira e que o CRA precisa de normas próprias de divulgação de informações e estruturação das operações.
Fonte: Valor Econômico