Um aumento que passa de 50% no preço do milho é uma ameaça à produção e produtividade da avicultura e suinocultura no Brasil, que podem ter seus itens encarecidos em 2016, se não houver nenhuma intervenção no mercado, especialmente por parte do governo federal. Em Santa Catarina, no mês de outubro do ano passado, a saca do grão custava em torno de 27 reais e agora está cotada, em média, a 42 reais.
Os mesmos dados foram observados na praça de Campinas (SP), conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Atualmente, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a ração é responsável por aproximadamente 80% dos custos dos granjeiros no País.
De acordo com a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Osesc), a origem da elevação de preços está na taxa cambial, com o dólar valorizado frente ao real, “resultado da gestão macroeconômica do governo federal, que instituiu um novo parâmetro neste mercado: ‘o preço do porto’”.
Embora não esteja faltando milho (nem excesso), “a opção pela exportação drenou 30 milhões de toneladas do mercado doméstico para o mercado internacional”, destaca a Osesc. “Desta forma, os criadores de aves e suínos e as indústrias pagam, desde o ano passado, o valor correspondente à cotação internacional para comprar milho destinado à sua transformação em carne”, comenta a instituição, em nota à imprensa.
Segundo a Organização das Cooperativas de SC, a busca pelo grão no mundo fez com que o Brasil se tornasse o segundo maior exportador de milho do planeta, arrecadando bilhões em divisas externas. “Mas isto tem um preço: a produção interna de carnes sofre pela elevação do custo. O milho existe no mercado, mas seu preço é absurdamente elevado: a saca está sendo vendida a até R$ 46 reais em algumas regiões.”
SUL DO PAÍS
No Estado de Rio Grande do Sul, o aumento de preço da saca de milho também preocupa. Conforme a Associação dos Criadores de Suínos de RS, o custo médio por quilo está cotado em R$ 3,40, o que significa alta em torno de 12% no custo de produção. Por lá, a saca – que em janeiro de 2015 variava em torno de 29 reais – está cotado em 40 reais.
Para alertar o governo federal sobre o problema, a Ocesc – em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc), Coopercentral Aurora Alimentos e diretoria de agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) – encaminhou um documento endereçado aos governos de Estado e à União relatando a raiz da crise e reivindicando soluções imediatas.
“Esta situação afeta todo o País, porém, é mais grave em Santa Catarina que está longe de obter autossuficiência em milho. Aliás, o Estado é o maior comprador de milho dentro do Brasil. Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial do País, representado pelas avançadas cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Esta fabulosa estrutura gera uma riqueza econômica de mais de 1 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, sustenta mais de 150 mil empregos diretos e indiretos e gera bilhões de reais em movimento econômico”, comenta a Ocesc, em nota.
“Precisamos reconhecer que o governo do Estado, o Ministério da Agricultura e as próprias agroindústrias têm fracassado no propósito de estimular o cultivo do milho em Santa Catarina e no Sul do Brasil, aumentando, a cada ano, o déficit deste grão no mercado sulino”, critica o presidente da Organização das Cooperativas de SC, Marcos Antonio Zordan, em comentário enviado à equipe SNA/RJ.
POSIÇÃO DA ABPA
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa nacionalmente os setores de aves e suínos, destaca que, com a taxa de câmbio favorecendo as vendas externas, o País exportou volumes recordes de milho no ano passado, deixando reduzido o abastecimento do grão no mercado interno, especialmente em regiões próximas aos portos. Diante deste cenário, os preços da commodity em território nacional se elevaram, chegando a bater 44 reais a saca no Porto de Paranaguá (PR).
“A cadeia produtora de aves e de suínos está bastante preocupada com a alta no preço do cereal, notada neste início de ano. Em diversas praças, o preço chegou a mais de 45 reais, causada especialmente por movimentos especulativos de atravessadores. Nosso setor acredita que o produtor de milho deve e merece ser bem remunerado pelo insumo, já que um bom preço se reflete em uma próxima safra mais farta”, analisa o presidente da ABPA, Francisco Turra, em entrevista à SNA.
Em sua opinião, “infelizmente, não é o produtor que tem recebido a mais”. “O que temos visto é que oportunistas estão se aproveitando do momento e pressionando o mercado. Há uma escassez de insumos em diversas praças, apesar de existirem bons estoques no Centro-Oeste”, critica.
Segundo Turra, nos atuais níveis do preço do insumo, será inevitável que os preços dos produtos sejam impactados, o que é especialmente desfavorável em um momento de crise econômica nacional, com recessão anunciada.
“Em reunião ocorrida nesta semana, em Brasília, o ministro interino André Nassar (da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa) afirmou que o governo não permitirá que a especulação tome conta do mercado. Leilões com grandes ofertas deverão ser realizados em breve (pela Companhia Nacional de Abastecimento – Conab). Estamos confiantes que, com ações incisivas do governo, este cenário melhore para o setor”, ressalta o presidente da ABPA.
Por equipe SNA/RJ