Mais de 30% dos solos no mundo estão degradados, revela estudo da FAO/Embrapa

“Status of the World’s Soil Resources” reúne o trabalho de cerca de 200 cientistas do solo de 60 países. Foto: Divulgação FAO/ONU
“Status of the World’s Soil Resources” reúne o trabalho de cerca de 200 cientistas do solo de 60 países. Foto: Divulgação FAO/ONU

Os solos são a base para a produção de alimentos, fibras, energia, além de prover vários serviços ambientais e proteger dos efeitos deletérios das mudanças climáticas. É o que afirma a pesquisadora da Embrapa Solos (RJ) Maria de Lourdes Mendonça, após o lançamento de um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) sobre o tema, no último dia 4 de dezembro.

Entre vários tópicos, o documento, que contou com a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária para ser produzido, revela que 33% dos solos do mundo estão degradados. “Status of the World’s Soil Resources” reúne o trabalho de cerca de 200 cientistas do solo de 60 países. Maria de Lourdes fez parte do conselho editorial, além de pesquisadores de outras unidades que também participaram da publicação.

“Este relatório estabelece o estado da arte dos solos do mundo, no contexto global e regional. Este documento é de suma importância para conhecermos o estado em que se encontram os solos hoje e, a partir de então, monitorarmos os progressos que todas as nações devem fazer, no intuito de recuperar seus solos degradados e zelar pelo uso e manejo sustentável deste recurso imprescindível à vida na terra”, ressalta a pesquisadora.

De acordo com Maria de Lourdes, a conclusão mais importante do estudo é que a maioria dos solos do mundo encontra-se em condições razoável, pobre ou muito pobre.

“Os estudos mais detalhados em cada região do mundo, bem como os estudos de casos contidos no relatório, confirmam este resultado. Não há motivos para otimismo. E se ações concretas não forem tomadas pelos indivíduos, pelas instituições, pela sociedade e pelos tomadores de decisão, a tendência é que estas condições possam piorar”, alerta.

 

“Não há motivos para otimismo. E se ações concretas não forem tomadas pelos indivíduos, pelas instituições, pela sociedade e pelos tomadores de decisão, a tendência é que estas condições possam piorar”, alerta a pesquisadora da Embrapa Solos Maria de Lourdes Mendonça. Foto: Divulgação Embrapa
“Não há motivos para otimismo. E se ações concretas não forem tomadas pelos indivíduos, pelas instituições, pela sociedade e pelos tomadores de decisão, a tendência é que estas condições possam piorar”, alerta a pesquisadora da Embrapa Solos Maria de Lourdes Mendonça. Foto: Divulgação Embrapa

MANEJO

O documento também revela que somente a erosão elimina de 25 bilhões a 40 bilhões de toneladas de solo por ano. “A questão é complexa, mas a chave é o manejo sustentável dos solos. Para tanto, são necessários programas de recuperação de terras degradadas, tanto para inclusão delas ao sistema produtivo quanto para a recuperação de suas funções na produção de serviços ambientais”, salienta a pesquisadora.

Conforme a cientista, “também será necessário ter uma legislação mais específica sobre o uso e manejo dos solos, assim como programas de governos que tenham como base o manejo sustentável do solo, a exemplo do programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), dando ao produtor rural o apoio necessário para a aplicação das boas práticas de cultivo, mantendo a capacidade produtiva do solo ao longo dos anos”.

“O Brasil precisa reconhecer a importância do recurso solo como base de riqueza e desenvolvimento, dando suporte ao bom manejo do solo e da água no País”, avisa Maria de Lourdes.

Em geral, salienta a pesquisadora, o uso inadequado do solo acontece porque falta conhecimento e de políticas públicas para que o produtor possa fazer o manejo adequado de suas terras.

“O Brasil é o país que mais possui áreas que podem ser incorporadas ao sistema produtivo. Por isto, precisa avançar na adoção de práticas sustentáveis na produção de alimentos e no conhecimento dos solos.”

A pesquisadora também alerta que “a perda de solos ou de suas funções, tanto por erosão quanto por outras ameaças, diminui a produção de alimentos e a segurança alimentar”. “Ainda traz implicações nos efeitos das mudanças climáticas, contribuindo para eventos climáticos extremos relacionados, tais como secas, inundações e tempestades, que impactam diretamente na quantidade e na fertilidade do solo.”

 

OUTROS TÓPICOS

O estudo “Status of the World’s Soil Resources” mostra ainda que os solos brasileiros também sofrem com a salinização, poluição e acidificação. Para combater este problema da degradação dos solos e da consequente perda de sua capacidade produtiva “é necessário aliar maior conhecimento dos nossos solos – necessitamos retomar os programas de levantamentos de solos no Brasil, em escalas adequadas à tomada de decisão – a legislações e políticas públicas de uso e manejo sustentável dos solos”.

“Isto deverá criar uma governança, definindo e subsidiando as ações dos nossos agricultores, no sentido de adotar e aplicar boas práticas de manejo e conservação de solos.”

Neste contexto, Maria de Lourdes sugere: minimizar a degradação dos solos e restaurar os solos degradados; estabilizar a matéria orgânica nos solos e sua biota; usar adequadamente os fertilizantes, de acordo com as especificações do solo; e melhorar o conhecimento detalhado dos solos.

 

PAPEL DA EMBRAPA

A pesquisadora destaca que o Brasil, e especialmente a Embrapa, tem avançado bastante na aplicação de novas tecnologias que promovam a agricultura sustentável, tais como o plantio direto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a fixação biológica de nitrogênio, o manejo de resíduos, entre outras.

“Estas tecnologias, associadas às boas práticas de manejo, precisam chegar ao agricultor e serem adotadas por eles. Para tanto, necessitamos de programas de governo, legislações que incluam as informações de solos e financiamento, além, evidentemente, de informações mais detalhadas sobre os solos no Brasil, coisa que não dispomos no momento.”

Para colaborar com este tema, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária tem feito seu papel. “A Embrapa Solos trabalha com pesquisa, desenvolvimento e inovação no tema solos e os resultados de suas pesquisas podem ser usados pela sociedade como um todo. No momento, estamos contribuindo para o texto de uma Lei de Conservação do Solo e da Água, dando suporte à gestão destes recursos no Brasil”, informa Maria de Lourdes.

 

Por equipe SNA/RJ

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