Pelo menos 40% da produção adicional de alimentos projetada para 2050 no mundo deverão sair do Brasil, diz Segundo Urquiaga, da Embrapa Agrobiologia. Até lá, o desafio será alimentar mais 2 bilhões de bocas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) , o que exigirá aumento de 60% na produção de alimentos.
Para isso, pesquisadores apressam-se em desenvolver soluções envolvendo novas tecnologias de plantio e colheita, melhores técnicas de manejo do solo, dos recursos hídricos e de insumos, redução de desperdícios e tecnologias destinadas ao melhor aproveitamento de resíduos da fabricação de alimentos.
Um dos caminhos da pesquisa envolve a seleção de novas estirpes de bactérias para tornar mais eficientes na captura do nitrogênio da atmosfera plantas como o feijão calpi e o milho, pastagens e leguminosas arbóreas, destinadas ao reflorestamento de áreas desmatadas para atender às determinações do novo Código Florestal. A tecnologia, diz Urquiaga, poderá conter o empobrecimento do solo, evitar emissões de gases do efeito estufa e reduzir a aplicação de adubação nitrogenada no campo, poupando importações e dólares para o País.
Graças ao programa de melhoramento da soja, a oleaginosa consegue hoje gerar 85% do nitrogênio de que necessita, diante de apenas 10% nos casos do milho e do feijão. “Se a soja não tivesse essa capacidade (assegurada pela inoculação de bactérias rhizobium desenvolvidas a partir de estudos da pesquisadora), seria preciso aplicar o dobro do volume atualmente utilizado de fertilizantes para produzir proteína no grão.” Segundo ele, a técnica permite que o país reduza a necessidade de importação de ureia, poupando quase US$ 5.8 bilhões por ano.
Em parceria com a Novozymes, a Syngenta apresentou ao mercado uma nova solução biológica para tratamento industrial de sementes de soja, afirma André Negreiros, gerente de marketing para tratamento de sementes da multinacional suíça. O inoculante concentra novas cepas de bactérias que “conferem à planta melhor nodulação e, consequentemente, maior fixação do nitrogênio, possibilitando um aumento de até 70% na absorção do nutriente”.
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentos (NEPA) da Unicamp, coordenado pelo professor Marcelo Cristianini, trabalha no desenvolvimento de três tecnologias para processamento de alimentos que permitem preservar suas qualidades nutricionais e de sabor, prolongando sua vida de prateleira. “As tecnologias convencionais sacrificam, de alguma forma, as características do produto fresco e nosso trabalho pretende tornar os processados o mais próximo possível do alimento in natura”.
A tecnologia de alta pressão isostática, disponível comercialmente, submete os alimentos a pressões de seis mil a sete mil atmosferas, o que elimina a carga de microrganismos deteriorantes e de patógenos, sem afetar a qualidade nutritiva, dispensando o uso de aditivos em carnes, sucos, pratos prontos, água de coco, queijo fresco e mesmo sucos detox, entre outros produtos.
O aquecimento ôhmico utiliza corrente elétrica para aquecer os alimentos “volumetricamente.” Como o tempo de aquecimento é rápido, a perda de nutrientes é reduzida, assim como são preservadas a cor e o sabor de polpas de frutas, alimentos semissólidos, caldas de frutas, sucos e leite. A terceira pesquisa inclui a aplicação de campos de pulso elétrico muito intensos e de curta duração que produzem o rompimento da membrana celular de microrganismos, “sem danos sensoriais ou nutricionais aos alimentos.”
Há uma década e meia, a Embrapa Instrumentação tem trabalhado no desenvolvimento de plásticos biodegradáveis a partir de fibras vegetais e amidos, para a produção de embalagens, peças para o setor automobilístico, entre outras aplicações. Há quase uma década, diz o pesquisador Luiz Henrique Caparelli Mattoso, coordenador da pesquisa sobre filmes comestíveis da unidade, o escopo da pesquisa foi ampliado com a inclusão no projeto, como parceiros, do Serviço de Pesquisa em Agricultura do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), sediado na Califórnia, e da Embrapa Agroindústria Tropical e da unidade de Unesp de Ilha Solteira, incluindo o desenvolvimento de películas comestíveis para prolongar o tempo de prateleira de frutas.
A aposta maior do projeto, que consumiu em torno de R$ 200.000,00, está na possibilidade de utilizar as perdas pós-colheita de alimentos para fazer embalagens biodegradáveis, “mas que também tenham conteúdo nutritivo e energético”, desenhando o que Mattoso define como “embalagens que alimentam.” Durante o processo, bagaço de cana, fibra de coco, casca de soja e outros resíduos são aproveitados como fonte de nanoestruturas, como a nanocelulose, e de biopolímeros aplicados na formulação de novos materiais, melhorando o desempenho do plástico como embalagem.
Lauro Veiga Filho
Fonte: Valor Econômico