Sob o efeito da conjuntura positiva para o etanol no Brasil, as cotações do açúcar atingiram em outubro a maior alta entre as principais commodities agrícolas negociadas em bolsas internacionais. A guinada, iniciada em agosto e potencializada nos meses seguintes pelo reajuste da gasolina, causou uma corrida das usinas brasileiras por garantir esses preços mais altos, vendendo a commodity na bolsa de Nova York para entrega em 2016.
Estimativas de mercado indicam que as indústrias do Brasil tenham vendido na bolsa nova-iorquina o equivalente a 27% do açúcar que será exportado da safra 2016/17 que, oficialmente, começa em 1º de abril. O padrão médio para esse momento – seis meses antes do início da temporada seguinte – é de um hedge abaixo de 10% do que será embarcado. Maior exportador global da commodity, com metade dos volumes transacionados no mundo, o Brasil vem exportando por safra em torno de 24 milhões de toneladas.
E a valorização observada em outubro foi fundamental para consolidar essa venda antecipada, conforme traders. Neste mês, os contratos de segunda posição de entrega na bolsa de Nova York se valorizaram 14,18% em comparação com a média de preços de setembro, conforme o Valor Data. Desde o último dia de agosto, essa alta supera 21%.
A guinada da commodity começou em agosto, após cinco ciclos consecutivos de retração puxada por sucessivos superávits globais. Tomou força após o reajuste da gasolina, que elevou os patamares de remuneração ao etanol. Desde o fim de agosto, o litro do hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, subiu quase 33%, a R$ 1,54, conforme referência do indicador semanal Cepea/Esalq para o produto. Vem pesando, ainda, a ocorrência de chuvas neste fim de ciclo, o que vem atrapalhando a moagem de cana no Centro-Sul. “É preciso lembrar que ronda o mercado a possibilidade de alguma recomposição da Cide na gasolina, o que impulsionaria ainda mais os preços do etanol”, disse um trader.
A disparada das cotações do açúcar – que em 12 meses ainda acumulam retração de 17% em dólar -, resulta da percepção de que a safra global 2015/16, iniciada em 1º de outubro, deve ser a primeira com déficit após cinco ciclos de sobra.
Esse déficit vem se consolidando no fato real de que as usinas brasileiras conseguem “enxugar” açúcar do mercado, produzindo mais etanol, quando o preço da commodity está baixo. Nos últimos cinco anos um volume de 5 milhões de toneladas de açúcar foi retirado do mercado mundial pelo Brasil, que destinou mais caldo da cana para o etanol.
A mudança na trajetória dos preços do açúcar está refletida no aumento pelos fundos de commodities de suas posições compradas (que aposta na alta) em açúcar. Na semana móvel encerrada dia 20 de outubro, os “managed money”, ou gestores de recursos, estavam com uma posição líquida comprada em 124.752 contratos, de acordo com o último relatório da Comissão de Negociações de Futuros de Commodities (CFTC). Desde 9 de agosto, quando os fundos deixaram de ter uma posição líquida vendida (que aposta na baixa dos preços) e passaram a acreditar na alta, o saldo líquido comprado aumentou 67 vezes.
A incerteza sobre se a Índia de fato exportará as 4 milhões de toneladas que o governo quer obrigar as usinas a embarcarem nesta safra também oferece suporte ao mercado. Analistas acreditam que a indústria indiana pode não embarcar todo esse volume se não houver incentivo. “Nos últimos três anos, o mercado reagiu com queda de preço ao risco de exportação pela Índia. Essa possibilidade não se transformou em fato e, agora, a questão é vista com mais cautela”, afirmou um trader.
Fonte: Valor Econômico