Um navio afretado pela multinacional Bunge parte, nesta segunda-feira, do porto de Itacoatiara, no rio Amazonas, carregado com 54.000 toneladas de milho para os Estados Unidos, segundo dados de três agências marítimas, em um movimento que destaca a competitividade do produto brasileiro com a desvalorização do real.
A exportação é inusitada, uma vez que os EUA são o maior produtor e exportador mundial e estão em plena colheita do cereal.
A carga de milho foi originada no Mato Grosso, seguiu de caminhão até Porto Velho (RO), onde foi colocada em barcaças que seguiram até o porto no Amazonas, que recebe navios de grande porte, disse o funcionário de uma agência marítima do Norte do País, que pediu para não ser identificado.
O destino da carga é o porto de Wilmington, na Carolina do Norte, disse a fonte.
A Bunge não comentou imediatamente.
Dados da agência Williams mostram que outros dois embarques para os EUA, de 50.000 e 29.000 toneladas de milho, haviam sido feitos pelo Brasil em agosto e setembro, respectivamente.
Levantamento da consultoria AGR Brasil, de Chicago, mostra que os preços praticados nos portos do Brasil (FOB) têm sido mais baixos que os dos portos norte-americanos nas últimas semanas.
Na sexta-feira, por exemplo, a tonelada de milho FOB nos EUA ficou em US$ 182,28 contra US$ 169,29 nos portos do Brasil. A diferença, de cerca de US$ 13,00, compensaria o custo de frete marítimo e os prêmios cobrados no mercado local norte-americano, em alguns casos.
“A disparidade de preços está tal que mesmo no meio da segunda maior colheita na história do país, os EUA estão comprando milho do Brasil”, disse o diretor da AGR Brasil, Pedro Dejneka, ressaltando que a desvalorização do real frente o dólar tem tornado os grãos brasileiros muito competitivos.
A colheita de milho dos Estados Unidos, estimada em 344 milhões de toneladas, já está 74% concluída, segundo analistas.
Poucos meses atrás, o Brasil concluiu a colheita de uma safra recorde de 85.45 milhões de toneladas.
“O milho está indo para produtores de ração nas Carolinas (do Norte e do Sul). Principalmente para abastecer criadores de suínos… Certamente é o resultado do atual nível da moeda brasileira”, disse o operador sênior Mark Beemer, ex-presidente da Aventine Renewable Energy, dos EUA, em entrevista recente em São Paulo.
Para o corretor Joseph Harroun, da Advance Trading, de Illinois, os Estados Unidos vão importar milho do Brasil para produção de ração “até fevereiro”.
Em todo o ano de 2014, os EUA importaram apenas 1.900 toneladas de milho do Brasil, segundo dados do governo.
Fonte: Reuters