As exportações de orgânicos, cultivo que não utiliza insumos agroquímicos e promove restauração e manutenção da biodiversidade, somaram US$ 76 milhões no acumulado do ano até julho. O montante representa expansão de 35,7% sobre igual período de 2014. Também se destaca dentro da agricultura em geral, que exportou 10,8% a menos no ano passado, de US$ 58.72 bilhões para US$ 52.36 bilhões.
O caminho seguido pelo segmento em relação à agricultura como um todo reforça as expectativas para 2015 da OrganicsBrasil, programa de promoção internacional do segmento de iniciativa do IPD (Instituto de Promoção de Desenvolvimento) e da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). A projeção é de alta de 10,2% nas exportações de orgânicos em 2015, sobre os US$ 136 milhões registrados em 2014.
Para o coordenador executivo do OrganicsBrasil, Ming Liu, além do aumento natural da demanda por produtos mais saudáveis, a defasagem do câmbio têm alavancado os resultados do segmento. Os valores e estimativas, esclarece Liu, têm como base os resultados de 60 empresas associadas ao programa e que representam 80% do volume de exportações de orgânicos do País.
De acordo com uma pesquisa do IBD Certificados, certificadora brasileira de orgânicos, há 1.5 milhões de hectares no Brasil destinados a este tipo de cultivo. Para os principais importadores desses produtos, como Estados Unidos, União Europeia e Japão, o País possui o maior potencial de produção orgânica do mundo. Segundo Liu, o mercado de alimentos saudáveis, o que inclui os orgânicos, é uma tendência mundial e isso está ligado com a maior demanda observada nos últimos três anos por este tipo de alimento. “Hoje, os consumidores estão cada vez mais conscientes e em busca de produtos naturais [livre de químicas e sem processamento], porque entendem a importância deles na qualidade de vida e nos benefícios para o meio ambiente”, comentou.
Liu acredita em tendência de crescimento da demanda de orgânicos no Brasil. Mas avalia que apesar do Brasil ter clima propício e grande potencial de produção, o mercado ainda é muito incipiente porque a lei que regulamenta a agricultura orgânica, publicada em 2003, só entrou em vigor em 2011. Nos Estados Unidos, essas regras tiveram início em 2001, quando o mercado gerou US$ 1 bilhão. Hoje, os orgânicos produzem US$ 37 bilhões ao ano naquele País.
“Acredito que nos próximos anos as empresas vão começar a lançar mais produtos orgânicos e, consequentemente, a demanda vai aumentar, assim como aconteceu em outros países, como nos Estados Unidos. Posso dizer até que a taxa de crescimento vai ser cada vez maior e exponencial, interna e externa”, analisa Liu.
Em relação aos entraves para a exportação dos orgânicos, Liu elucidou a questão do acordo de equivalência. Como o produto pronto (industrializado) costuma levar diversos ingredientes, seria necessário para cada item a emissão de nota de acordo com as normas e regras do importador, encarecendo o processo para o exportador. Por isso, grande parte dos produtos exportados são açúcar, óleo de palma, mel e toda a cadeia de frutas (in natura, polpa e sucos).
Com crescimento médio de 10% a 15% em suas exportações, a empresa Belaiaça, associada ao OrganicsBrasil, comercializa polpa de açaí, frutas e açaí sorbet. Localizada no estado do Amazonas, 50% da sua produção é destinada ao mercado nacional e os outros 50% é escoado para os Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Israel. Atuando desde 2006 no exterior, no ano passado a empresa exportou 2 milhões e meio de quilos de produtos. Para este ano, a estimativa é atingir 3 milhões de quilos.
De acordo com o diretor de marketing e mercados internacionais da empresa, Rafael Ferreira, a demanda pelos produtos é sempre maior que a oferta. “O açaí é um sucesso no mundo todo, cada ano que passa aumenta a demanda nos locais nos quais exportamos e novos países entram a cada nova safra”, disse. Assim como a Belaiaça, a cooperativa Ecocitrus (RS) também começou a exportar seus orgânicos em 2006. Em 2014, a cooperativa vendeu ao exterior cerca de 1.912 toneladas de suco NFC (integral e pronto para consumo).
Sistema ganha adeptos no País
O número de certificados para produtos orgânicos emitidos nos últimos cinco anos deu um salto de 33%. Só no ano passado, 195 propriedades rurais foram auditadas e certificadas pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Amazonas, Santa Catarina, Paraná e Ceará, além do Peru e Chile. Em 2010, foram 146. A maioria é do Paraná, que tem 128 propriedades certificadas. Ludovico Carachenski, agricultor e proprietário do Sítio São Luiz na Colônia Figueiredo em Campo Largo, há 15 anos optou pelo orgânico.
“Há 15 anos essa terra não recebe mais a ação de agrotóxicos”, afirma ele. “Antes, só plantávamos batata, milho e feijão. No começo era bom, mas depois os insumos para estes produtos ficaram muito caros e os alimentos muito baratos. Os agricultores não ganhavam quase nada”, conta.
Hoje entre as suas plantações é possível encontrar uma variedade enorme de alimentos: cenoura, batata, alface, tomate, couve, abobrinha, pepino, beterraba, repolho, brócolis, morango, quiabo, berinjela, milho, batata doce, espinafre, abobora, cebolinha, salsa, feijão vagem. Segundo o vice-presidente da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus), no Rio Grande do Sul, Ernesto Kasper, a demanda pelos produtos é sempre maior que a oferta. “Este ano estamos aguardando fazer a colheita e o fechamento dos produtos, mas estimamos manter os volumes de 2014”, disse o vice-presidente.
Fonte: DCI