Embora o governo tenha anunciado que o Plano Safra 2015/16 contará com R$ 187.7 bilhões em crédito rural, 20% mais que em 2014/15, Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, não acredita que haverá demanda suficiente para absorver 100% desse montante. A alta foi garantida com recursos que terão de ser contratados a juros livres, mas a cautela dos produtores em meio às incertezas que cercam a economia do País tende a privilegiar a tomada de crédito nas linhas com juros controlados (7,75% a 10,5% ao ano), sobretudo as voltadas ao custeio (8,75%).
Anunciado na semana passada pela presidente Dilma e pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, o novo Plano Safra, que entrará em vigor no dia 1º de julho, inclui R$ 58 bilhões em recursos a serem emprestados a juros livres – R$ 53 bilhões para custeio e R$ 4.9 bilhões para investimentos -, mais que o dobro que no ciclo que chega ao fim em 30 de junho (R$ 23.5 bilhões). E, segundo Dias, esses juros livres deverão, na média, superar a Selic, que está em 13,75% ao ano e ainda deverá subir um pouco mais.
Esse forte aumento do total de recursos a juros livres à disposição dos produtores se tornou possível graças a mudanças nas regras de funcionamento das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), títulos emitidos pelos bancos que são isentos de Imposto de Renda e podem ser usados pelas próprias instituições financeiras como fonte para a concessão de crédito rural.
Conforme já aprovou o Conselho Monetário Nacional (CMN), desde o dia 2 se tornou obrigatório o direcionamento para o crédito rural de pelo menos 50% dos valores que os bancos vão captar com as emissões de LCAs entre junho de 2015 e 31 de maio de 2016. A partir de 1º de junho de 2016, o percentual aumentará para 100%. Os bancos poderão destinar esses recursos a financiamentos agroindustriais de comercialização, de beneficiamento e de industrialização de produtos agropecuários e de insumos usados nessa atividade.
“Eu acredito que o crédito a juro livre é necessário para complementar à demanda por crédito rural, mas dificilmente o montante total será tomado”, afirmou o executivo do BB, conforme adiantou o Valor PRO. “Se a Selic continuar subindo desse jeito, não tem como segurar o preço do crédito. Certamente esse juro livre vai ser maior que a Selic”, disse.
No lançamento do Plano Safra 2015/16, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, disse acreditar que essas taxas de juros livres ficariam em torno de 12% a 13% ao ano para os financiamentos ao agronegócio. Uma semana depois, porém, ele admitiu que essas taxas sairão “um pouco caras em um primeiro momento para o produtor”.
Osmar Dias ponderou, no entanto, que esses recursos têm por objetivo complementar o portfólio de opções de crédito que os produtores têm à disposição. E destacou que, mesmo que superiores aos juros controlados, os juros livres certamente serão menores – bem menores, em alguns casos – que os praticados no mercado ou nas transações envolvendo tradings. “O produtor vai procurar financiamentos com juros controlados e o mínimo possível com juros livres para complementar. Esses recursos são para dar segurança”, afirmou.
Diante desse cenário, o Banco do Brasil estima disponibilizar entre R$ 112.6 bilhões e R$ 122 bilhões em crédito rural (juros controlados e livres) na safra 2015/16, de forma que sua participação nas liberações totais tende a se manter entre 60% e 65%, como de costume nos últimos ciclos. Dias projeta, contudo, que as liberações efetivas tendem a aumentar 9%. Nesta safra 2014/15, o total deverá somar R$ 80 bilhões.
Dentro desta expectativa de crescimento dos desembolsos em 2015/16, o vice-presidente aposta que as linhas de custeio devem concentrar a demanda por financiamentos no banco até junho de 2016. Segundo ele, os produtores devem tomar 18% mais empréstimos rurais para custeio do que na safra 2014/15. Já os investimentos deverão ter procura menor. “Esperamos que o produtor pelo menos realize sua safra”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico