Produzir uma fibra de algodão com mais qualidade e que atenda a diferentes demandas da indústria têxtil nacional e estrangeira envolve muitos desafios, que incluem decisões a serem tomadas antes do início do plantio do algodoeiro, passando pelas etapas de colheita, beneficiamento e armazenamento, e da capacitação de mão de obra. Todas essas questões comprovam a complexidade da cotonicultura e foram debatidas durante o III Workshop da Qualidade do Algodão, promovido pela Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e seu braço tecnológico, o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), em Cuiabá, na última sexta-feira.
Um dos destaques do evento, que lotou o auditório do Edifício Cloves Vettorato, foi a participação de representantes de algumas das principais empresas do setor têxtil brasileiro na primeira mesa técnica, realizada após o presidente da Ampa, Gustavo Piccoli, dar boas-vindas à plateia.
“A qualidade da fibra do algodão depende de vários fatores, a evolução é constante e já avançamos bastante. O fato de estarmos aqui, conversando com os produtores e outros agentes da cadeia produtiva, é parte desse processo evolutivo”, afirmou Rogério Segura, da empresa Star Colours (do interior paulista), mediador da mesa.
“O produtor ainda está longe da indústria e vice-versa. Há um conjunto de problemas gerado na lavoura e no beneficiamento que vai refletir lá na frente. A partir do momento em que o produtor entender esses problemas, ele vai ajudar a indústria e todos sairão ganhando”, comentou Thales Cruz Figueiredo, representante do Grupo Vicunha, numa referência a aspectos da pluma (como pegajosidade) que podem gerar perdas na qualidade quando o algodão passa pelo maquinário altamente sofisticado das empresas do setor têxtil. Essa mesa técnica contou ainda com a contribuição de Alexander Kurre (da Santista, coordenador do Comitê da Qualidade do Algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil – Abit), de Dieter Hamann da Kartsten e de Guido Hobolt do Senai/Blumenau.
Mão de obra
“Estratégias e resultados do Programa de Qualidade da Fibra do Algodão de Mato Grosso” foi o tema da segunda mesa técnica, que contou com apresentações dos pesquisadores Jean Belot (do IMAmt) e Renildo Luiz Mion (UFMT – campus de Rondonópolis) e dois técnicos da Santista, e foi mediada pelo diretor executivo do IMAmt, Alvaro Salles.
O professor Renildo Luiz Mion abordou aspectos que implicam a preservação da qualidade da fibra do algodão durante os processos de colheita e beneficiamento. A pesquisa, desenvolvida com alunos de pós-graduação e de Iniciação Científica do curso de Engenharia Agrícola da UFMT (campus de Rondonópolis), indica que há muito a ser melhorado principalmente no que diz respeito ao monitoramento da umidade, porém, em sua opinião, o ponto principal a ser aperfeiçoado é a qualificação da mão de obra empregada na cotonicultura.
“Os trabalhadores precisam ter mais conhecimento sobre a fibra e o maquinário utilizado no campo e nas algodoeiras”, comentou Mion, que se prepara para fazer seu pós-doutorado na Texas Tech University, nos Estados Unidos, graças a um convênio firmado entre a instituição e o IMAmt, por meio de seu Programa de Qualidade do Algodão.
Reconhecendo a importância de se investir na capacitação da mão de obra, a Ampa e o IMAmt estão construindo cinco Centros de Treinamento e Difusão Tecnológica (em Sorriso, Campo Verde, Rondonópolis, Sapezal e Campo Novo do Parecis), a serem inaugurados a partir do segundo semestre deste ano, e aprovou o projeto da Escola de Beneficiamento do Algodão.
Apresentado ao público pelo consultor Wilhelmus Uitdewilligen no III Workshop da Qualidade do Algodão, o projeto faz parte de um convênio assinado com a UFMT – campus Rondonópolis e a proposta é que a nova escola funcione no Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica desse município – um dos mais tradicionais na cultura do algodão.
Gerente de algodoeiras e da Qualidade do Algodão do Grupo Scheffer, Rogério Cardoso de Alexandre ficou entusiasmado com o projeto da Escola de Beneficiamento do Algodão. “É muito difícil conseguir mão de obra para trabalhar no beneficiamento do algodão e não existe uma escola para isso no Brasil. Hoje, somos obrigados a formar a nossa própria mão de obra”, comenta Alexandre, que coordena o trabalho de quase 200 trabalhadores em quatro algodoeiras do Grupo no Noroeste de Mato Grosso.
Seguro
Outro ponto delicado no beneficiamento da fibra é a questão da segurança. O assunto foi tema da apresentação do engenheiro agrônomo e de segurança do trabalho, Amandio Pires Junior, que falou sobre os esforços do IMAmt para reduzir o índice de acidentes e incêndios em algodoeiras. O tema voltou a ser debatido na terceira mesa técnica – Importância do beneficiamento para a qualidade de fibra – durante a apresentação de Edmilson Santos (da SLC Agrícola) sobre “Gestão da qualidade em algodoeiras” e de David Somlo, responsável pela Área Agrícola Corporativa da Swiss Re, que apresentou um estudo sobre seguros em algodoeiras, desenvolvido em parceria com o IMAmt.
Somlo explicou que hoje poucas algodoeiras no País dispõem de seguro, apesar do alto índice de riscos (principalmente, de incêndios): as seguradoras têm poucas informações técnicas sobre as usinas de beneficiamento e acabam não realizando seguros devido também à falta de histórico oficial sobre os riscos; os produtores, por sua vez, consideram muito alto o custo dos produtos disponíveis no mercado.
A novidade no caso da parceria da Swiss Re com o IMAmt é o desenvolvimento de estudos para um produto que seja desenvolvido de forma conjunta e que permita a contratação de seguros para algodoeiras na real dimensão do risco, com custos viáveis para os dois lados.
Outro produto em desenvolvimento refere-se aos riscos climáticos, estabelecendo um padrão, de modo que os cotonicultores tenham acesso a um seguro com uma cobertura mais atraente, uma vez que os riscos e coberturas podem ser customizados pelo cliente. Estes novos seguros, que estão em desenvolvimento pela Swiss Re, dependem da aprovação da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e estarão prontos a partir da safra 2015/16.
Organizado pelo Programa da Qualidade do Algodão do IMAmt, o III Workshop da Qualidade do Algodão foi realizado com apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), e contou com a presença do diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Márcio Portocarrero, e de representantes de outras estaduais, além de vários produtores associados à Ampa, pesquisadores, técnicos e outros agentes da cadeia produtiva do algodão.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Ampa