O custo financeiro da maior epidemia de gripe aviária da história dos Estados Unidos disparou, forçando algumas processadoras de carne de ave a suspender as operações e provocando uma alta nos preços dos ovos e do peru.
As produtoras de ovos — que são as empresas mais prejudicadas pelo vírus — e as de peru estão gastando milhões de dólares para tentar conter a doença. Especialmente no caso dos ovos, o problema se torna altamente complicado pelo fato de a indústria americana estar concentrada nas mãos de relativamente poucos produtores.
O governo destinou cerca de US$ 400 milhões para ajudar a compensar os produtores pelas aves abatidas e os custos com limpeza e testes para identificar a doença.
A gripe aviária já resultou na morte ou extermínio de pelo menos 38.9 milhões de aves nos EUA, mais que o dobro do maior surto registrado até então no país, na década de 80. No total, mais de 32 milhões são galinhas poedeiras, número equivalente a quase 10% da população dessas aves no país.
O preço dos ovos vendidos no atacado na forma líquida e em embalagens especiais para restaurantes como o McDonald’s e empresas de alimentos como a Sysco quase triplicou nos últimos 30 dias, alcançando o recorde de US$ 2,03 a dúzia na quinta-feira passada, segundo a empresa de pesquisa de mercado Urner Barry. Já os preços dos ovos inteiros para o atacado, aqueles vendidos nos supermercados, saltaram cerca de 85%, para US$ 2,20 a dúzia, na região do Meio-Oeste dos EUA.
O preço da carne de peru no atacado está em US$ 1,14 a libra (cerca de 450 gramas) para uma ave congelada de 7,3 kg, valor 4,5% maior que um ano atrás, de acordo com a Urner Barry.
Os preços nos supermercados devem subir à medida que varejistas repassam a alta para o consumidor.
“Isso é algo completamente sem precedentes”, diz Brian Moscogiuri, que acompanha o mercado de ovos para a Urner Barry, firma que monitora os preços do setor há 150 anos.
A redução na oferta de ovos está prejudicando os lucros de alguns produtores de alimentos. Na semana passada, a Post Holdings alertou que a gripe aviária afetou cerca de 25% do seu fornecimento de ovos, forçando-a a interromper algumas linhas de produto da unidade Michael Foods, que produz claras de ovos líquidas e outros ingredientes à base de ovos. No início deste mês, a empresa estimou que o lucro operacional de 2015 deve ser reduzido em US$ 20 milhões devido ao surto de gripe aviária. Um porta-voz da Post não respondeu a pedidos de comentário.
A altamente infecciosa cepa H5N2 da gripe aviária consiste num vírus mortal que se originou na Ásia e mais tarde se combinou com variações da América do Norte, segundo cientistas. Pesquisadores acreditam que ela está se espalhando através das fezes de patos e gansos selvagens que migram para o Meio-Oeste. O risco que o vírus representa para a saúde dos humanos é considerado baixo e nenhuma infecção em pessoas foi identificada até o momento, de acordo com as agências federais.
O surto dizimou cerca de 35% das aves poedeiras do Estado americano de Iowa, o maior produtor americano de ovos. Algumas empresas que produzem ovos não devem sobreviver devido aos custos do abate das aves e dos meses sem receita enquanto as instalações são limpas e recebem novas aves, diz Chad Gregory, diretor-superintendente da Produtores de Ovos Unidos, uma associação do setor.
“Praticamente todas as poedeiras do condado de Sioux morreu ou está morrendo”, diz Jim Dean, diretor-presidente do Centrum Valley Farms e Center Fresh Group, um grupo de quatro empresas produtoras de ovos em Iowa.
Segundo ele, três das quatro empresas do Center Fresh Group, que juntas estão entre as maiores produtoras de ovos dos EUA, estão “completamente paralisadas”, mas ele espera que elas possam retomar a produção.
A epidemia teve um impacto excepcionalmente forte porque o setor é altamente concentrado, com as fazendas contendo em média cerca de 1.5 milhão de aves, diz Gregory. Quando a presença do vírus é confirmada em uma unidade, as aves de todas as unidades próximas geralmente têm que ser abatidas para evitar o avanço do contágio.
Os EUA possuem hoje menos de 200 empresas produtoras de ovos, comparado a cerca de 10.000 na década de 70, diz Gregory.
“Um dos problemas que tivemos com esse surto se deve à enorme população de galinhas nessas fazendas, hoje”, diz Marcus Rust, diretor-presidente da Rose Acre Farms, uma das maiores produtoras de ovos dos EUA. “Nossa base de clientes exige o menor custo possível e isso faz com que coloquemos seis milhões de aves em uma fazenda. Quando algo assim acontece, só a paralisação de uma fazenda pode provocar uma alta de cinco centavos [de dólar] na dúzia de ovos em todo o mercado”, disse.
Produtores de ovos não afetados pelo vírus estão se beneficiando. A cotação das ações da Cal-Maine Foods, a maior produtora de ovos dos EUA, saltou 30% nas últimas duas semanas e atingiu valores recorde com a expectativa de que a empresa do Estado americano de Mississipi será favorecida pela alta dos preços. As operações da Cal-Maine são principalmente no sul do país, que por enquanto registrou menos casos da gripe aviária do que o Meio-Oeste.
A maioria das fazendas de frango de corte também está concentrada em Estados como Geórgia, Alabama e Arkansas.
A recuperação dos produtores de ovos levará anos, segundo autoridades do setor. Um dos principais desafios é o custo de repopular unidades produtoras que, juntas, podem abrigar milhões de aves em algumas fazendas.
O Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, alocou quase US$ 400 milhões para indenizar criadores que abateram suas aves para conter a propagação da doença. “Entendemos que este acontecimento é doloroso [para os produtores] e queremos apoiá-los o máximo que pudemos”, diz T.J. Myers, vice-administrador associado de serviços veterinários do USDA. Até quarta-feira passada, a agência havia destinado US$ 149 milhão para pagar indenizações a produtores.
A produção de carne de peru também deve ser prejudicada já que cerca de 2,5% das aves do país foram afetadas, segundo cálculos baseados em dados federais.
Jeffrey Ettinger, diretor-presidente da Hormel Foods, uma dos maiores produtoras de carne de peru dos EUA, disse a analistas na semana passada que 55 fazendas que abastecem sua empresa foram atingidas pela gripe aviária.
A firma estimou que o volume de vendas da sua marca Jennie-O deve cair 15% no segundo trimestre fiscal. A Hormel também alertou que prevê que o lucro do ano todo fique próximo das estimativas mínimas apresentadas anteriormente devido à gripe aviária. E uma fábrica de produtos da Jennie-O já deu férias para mais de 230 funcionários.
Fonte: The Wall Street Journal