Indicação Geográfica Goiabeiras

Panela de Barro é tradição centenária no Espírito Santo:

Há várias gerações, a fabricação de panelas de barro de Goiabeiras se mantém quase inalterada. São avós, mães e netas que preservam a identidade cultural, exercendo o mesmo ofício que os índios, quando aqui aportaram os portugueses na época do descobrimento.

 

Foto: Associação das Paneleiras de Goiabeiras
Foto: Associação das Paneleiras de Goiabeiras

 

Goiabeiras Velha, bairro antigo localizado na parte continental norte de Vitória, no Espírito Santo, teve aceito, em 2011, o pedido de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para as panelas de barro fabricadas na região. Esse é o segundo artesanato brasileiro a receber a certificação do INPI. O reconhecimento para as panelas de barro de Goiabeiras é na categoria Indicação de Procedência (IP), que delimita uma área conhecida pela fabricação de certos produtos, mas sem relação direta com o meio.

O bairro de Goiabeiras se popularizou pela produção de panelas de barro, hábito que foi herdado de indígenas e afro-descendentes residentes naquela região há mais de 300 anos. A culinária produzida nas panelas de barro é típica da região.

As panelas de Goiabeiras constituem o primeiro patrimônio cultural do Brasil reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

História e tradição

Um dos maiores ícones da cultura do Espírito Santo, as paneleiras de Goiabeiras têm um ofício que é tradicional. Suas casas e o galpão de sua associação ficam à beira do canal que banha o manguezal.

Tradicionalmente, a produção das panelas utiliza matérias-primas provenientes do meio natural. A argila extraída de uma jazida localizada no Vale do Mulembá, no bairro de Goiabeiras, na ilha de Vitória, é de boa plasticidade e bastante arenosa, conferindo às peças maior resistência ao calor e ao impacto. Este processo é realizado pelos chamados “tiradores de barro”. A mistura da argila com sedimentos que são encontrados na superfície, dá a liga necessária para a produção das panelas. E é com a casca da planta “mangue vermelho”, também coletada no manguezal, que se faz a tintura de tanino. Os dois principais instrumentos do ofício — a cuia e a vassourinha de muxinga — são feitas a partir de espécies vegetais encontradas na região.

As artesãs produzem as panelas de barro utilitárias e sua produção está diretamente ligada à gastronomia. A panela é indispensável no preparo e apresentação das moquecas de peixe e de frutos do mar, além da torta capixaba, iguaria consumida tradicionalmente na Semana Santa. Esses elementos fazem parte dos valores que constituem essa identidade cultural.

A fabricação das panelas de barro é uma atividade tradicionalmente feminina, uma habilidade repassada de mãe para filha por gerações sucessivas, no âmbito familiar e comunitário. Esse “saber” foi apropriado dos índios por colonos e descendentes de escravos africanos que vieram a ocupar a margem do manguezal, território historicamente identificado como um local onde se produziam panelas de barro.

Paneleiras

A técnica cerâmica utilizada é de tradição indígena e reconhecida por estudos arqueológicos como legado cultural Tupi-guarani e Una. Consiste em modelagem manual, queima a céu aberto e impermeabilização com a tintura de tanino.

A certificação das artesãs de Goiabeiras, envolve também o ativo da biodiversidade, por causa da planta “mangue vermelho” com a qual elas colorem o barro usado na fabricação das panelas.

Com competência, as paneleiras confeccionam, em barro, panelas, potes, travessas, bules, caldeirões, frigideiras etc, de diversas formas e tamanhos.

Anteriormente, as Paneleiras trabalhavam individualmente em suas próprias casas. Atualmente, mais organizadas, estão agrupadas na Associação das Paneleiras de Goiabeiras, uma espécie de cooperativa. Trata-se de um galpão onde cada uma, independentemente, produz e comercializa suas próprias peças. Sob o aspecto econômico, a renda que auferem, é significativa no contexto da manutenção de suas famílias.

Procedência
Indicação de procedência /2011 Registro IG 201003 INPI
Abrangência: situa-se na parte continental da cidade de Vitória.

Panelas de barro

Raiz da cultura popular do Espírito Santo, a legítima panela de barro capixaba, que se destaca por sua longa durabilidade, é identificada por um Selo de Qualidade da Associação das Paneleiras de Goiabeiras.

Os tipos de panelas autorizadas para o selo de Goiabeiras são: moquequeira ou frigideira, a panela de arroz ou pirão, o caldeirão, a assadeira onde é assada e servida a típica torta de capixaba, e as panelas de caldo, com bastante demanda entre os restaurantes. Foram estes tipos de panelas que deram a reconhecimento nacional às panelas de Goiabeiras.

Benefícios

A Indicação de Procedência trouxe às paneleiras de Goiabeiras a garantia de origem e legitimidade para estas tradicionais panelas, que, por terem alcançado fama em todo território nacional, eram muito copiadas e falsificadas. O registro do INPI protege o nome Goiabeiras, evitando que ele seja utilizado de forma indevida.

A agregação de valor ao produto também traz em si história e tradição, principalmente por este modo de fazer o artesanato mais que centenário, que se pode sentir em cada uma das panelas de Goiabeiras.

Certificado de boas práticas ambientais

A associação de Paneleiras de Goiabeiras (APG) ganhou reconhecimento internacional. Agora, o grupo possui o certificado 2010 Melhores Práticas — Prêmio Internacional de Dubai para Melhores Práticas para Melhoria das Condições de Vida, distribuído pelo município de Dubai, dos Emirados Árabes Unidos, e a Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-HABI TAT).

O trabalho realizado pela Associação de Paneleiras de Goiabeiras (APG) foi classificado nas categorias Engajamento Cívico e Vitalidade Cultural, Respeito à Diversidade Cultural, Redução da Pobreza, Geração de Trabalho e Renda, Geração de Emprego, Igualdade de Gênero e Inclusão Social, Poderes de Decisão para as Mulheres.

As iniciativas que satisfaçam os critérios para uma melhor prática são incluídas num banco de dados internacional e acessíveis à pesquisa. As lições aprendidas com as melhores práticas selecionadas são analisadas e transferidas para outros países, cidades ou comunidades.

As implicações políticas e lições de melhores práticas são, ainda, incluídas no guia Estado das Cidades no Mundo — Relatório Cidades e no Relatório Global sobre Assentamentos Humanos.

Um programa de educação ambiental focado na coleta sustentável do tanino e a aquisição de direitos de extração de argila também estão ajudando a preservar o ecossistema local.

 

Informações
Associação das Paneleiras de Goiabeiras / Endereço: Rua das Paneleiras, 55 – Estação – Vitória/ ES –
CEP: 29.075-105
Telefone: +55 27 3327-1366 / +55 27 9899-1055
beneciapaneleira@hotmail.com

 

Fonte: Indicação Geográfica e Revista A Lavoura Edição Nº 707/2015

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