Retração industrial derruba o algodão

A maior ociosidade na indústria têxtil nacional está pressionando as cotações do algodão no mercado interno. Desde meados de abril, as cotações da pluma recuaram 4% no País, enquanto que, na bolsa de Nova York, subiram 4,75% no mesmo intervalo. A demanda pela pluma, estimada em 800.000 toneladas para 2015, pode recuar para 745.000 toneladas no Brasil se a retração de 7% na produção têxtil, vista no primeiro trimestre, se estender para o restante do ano, calcula a associação que representa o setor (ABIT).

Se o consumo mais baixo de algodão se confirmar, será o menor desde 1992, quando a indústria têxtil nacional processou 741.000 toneladas da pluma, conforme dados da associação.

Em cerca de um mês começa a colheita da safra 2014/15, na Bahia – o segundo maior produtor nacional -, e em julho, em Mato Grosso, o primeiro produtor do País. Não há dados oficiais sobre quanto das 1.5 milhão de toneladas que devem ser colhidas já estão vendidas antecipadamente. Mas, nas estimativas da Abrapa, associação que representa os produtores brasileiros da pluma, esse volume equivale a cerca de 60% da produção.

No Estado de Mato Grosso, que responde por 57% da oferta nacional, a comercialização atingiu até o momento 53% da produção esperada de 851.000 toneladas, 2% abaixo da posição de um ano atrás, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (IMEA).

Apesar de o mercado estar a um mês do pico da entressafra de algodão, os preços continuam caindo. Na visão do consultor da Safras & Mercado, Cezar Marques da Rocha Neto, há pouca liquidez interna neste momento, com a indústria nacional desaquecida. “Além disso, a redução do plantio nos Estados Unidos, confirmada pelo último relatório do USDA, já era esperada e já estava ‘precificada’”, disse Neto.

Desde o dia 17 de abril, quando os preços da pluma atingiram o maior nível no mercado interno, o indicador CEPEA/ESALQ para o algodão se desvalorizou 4%. No mesmo intervalo, as cotações na bolsa de Nova York (contratos de segunda posição) acumulam alta de 4,75%, segundo o Valor Data – incluindo o fechamento de sexta-feira quando o vencimento outubro subiu 133 pontos, para 68,11 centavos de dólar por libra-peso.

Neste momento, segundo o diretor superintendente da ABIT, Fernando Pimentel, o nível de ocupação da indústria têxtil está na casa de 80% a 81%, dois pontos percentuais abaixo do que há um ano. “A esperança é que o inverno venha com temperaturas mais baixas e seja prolongado. Isso pode melhorar a condição atual. Se o dólar continuar valorizado, pode haver também um efeito positivo, com inibição das importações”, explicou Pimentel.

A produção brasileira de algodão neste ciclo será 13% mais baixa do que no ciclo passado, reflexo da redução de área ocorrida na mesma proporção, segundo o presidente da Abrapa, João Carlos Jacobsen. A lavoura da pluma se desenvolveu bem até o momento, disse ele, apesar de alguns problemas pontuais relacionados à falta de chuva, em especial em Goiás e em Minas Gerais, e a ocorrência delas em momentos não apropriados, como na Bahia. “Mas nada que vá influenciar a produtividade”, previu.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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