Tradings buscam alternativas para driblar queda do etanol

Nas últimas semanas, os preços do etanol na usina desabaram, em uma espiral que anulou todo o efeito positivo decorrente do aumento dos preços da gasolina na refinaria, em vigor desde 1º de fevereiro.

O litro do hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, chegou a bater R$ 1,41 na indústria em São Paulo, conforme sinalizou o indicador CEPEA/ESALQ na semana entre os dias 2 e 6 de fevereiro. Entretanto, desde então os preços vêm caindo sem trégua, apesar do período de entressafra da cana-de-açúcar. Na semana finda na sexta-feira, o indicador atingiu R$ 1,2745, em baixa de 9,9% desde o começo do mês passado.

A queda reflete, em parte, os estoques elevados do produto no Centro-Sul e a percepção de que muitas usinas têm precisado vender o biocombustível para gerar caixa. No entanto, a visão de alguns traders é que agora a maior parte do estoque está nas mãos de grupos mais capitalizados que não querem negociar na baixa.

Conforme apurou o Valor, alguns deles consideram correr o risco de exportar, ainda que com margem apertada ou para obter a mesma remuneração do mercado interno. Uma exportação nessas condições teria sido fechada na última semana para o embarque de 40 milhões de litros em abril. Os grupos reticentes em apostar na exportação consideram manter o produto estocado por alguns meses após o início da próxima safra, a 2015/16, em abril, à espera de preços mais remuneradores.

Puxadas pelo dólar valorizado, as exportações de etanol de “entressafra” podem “enxugar” o mercado interno com a saída de 400 milhões e 500 milhões de litros, segundo traders. O produto alvo da exportação é o anidro, cujos preços no mercado interno também despencaram. Desde a primeira semana de fevereiro, o indicador Cepea/Esalq para esse biocombustível acumula retração de 7,2%.

Nos cálculos da consultoria americana FCStone, o estoque conjunto de anidro (produto misturado à gasolina) e hidratado deve ficar perto de 2.5 bilhões de litros em 31 de março deste ano, em torno de 1 bilhão acima do volume de um ano atrás. Assim, na visão da empresa, se os preços caíram em fevereiro o tombo pode ser ainda maior em março, dada a necessidade das usinas de levantar recursos para realizar pagamentos e iniciar a próxima temporada. “Neste momento, as distribuidoras e as usinas estão brigando por margem e, as distribuidoras estão ganhando a disputa”, afirmou o especialista da FCStone, Bruno Lima.

Apesar da queda de braço, Tarcilo Rodrigues, diretor da trading de etanol Bioagência, avalia que o preço do biocombustível atingiu seu piso e, que, daqui em diante, vai ficar estável, com tendência ascendente.

A pressão vinda da proximidade do início da nova safra, a 2015/16, também existe, no entanto, vigora a percepção de que haverá um atraso no começo da moagem na maior parte das usinas. Até agora, em torno de seis unidades já retomaram em março o processamento no Centro-Sul do país. Segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), até 1º de março, 293.300 toneladas de cana do ciclo 2015/16 haviam sido processadas. Oficialmente, a safra só começa em 1º de abril.

A antecipação é pontual, segundo a Unica. Na média, ainda falta mais de um mês para o início efetivo do ciclo, quando 80% das usinas devem estar religando as máquinas.

 

Fonte: Valor Econômico

 

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